02

2949 Palavras
Blair Collins era uma mulher exuberante. Os longos fios ruivos em contraste com a pele clara lhe deixavam afrodisíaca, diferente de qualquer outra mulher. Os olhos azuis como o mar das Maldivas eram um atrativo, chamavam e clamavam por atenção. As pessoas se perguntavam se ela podia ser tão bonita e, sim, podia. Era impossível olhar uma única vez para ela, pois seus detalhes convidavam para uma avaliação. Ao chegar no luxuoso hotel Bellagio, localizado na Strip, a limusine parou em frente ao carpete vermelho estendido diante da construção que mais parecia ser um palácio. O hotel inspirado na Itália seria sede do evento organizado para prestigiar Jean Keanu Collins pela direção de seu último filme, sucesso de bilheteria. As luzes embaçaram a vista de Blair. Os holofotes voltados para a frente do prédio lhe davam o ar que somente uma construção em Las Vegas teria. Também haviam dezenas de fotógrafos para prestigiar o mais novo querido da América, Jean. Contudo, os seguranças do local garantiram que todos entrassem a salvo do aglomerado de pessoas sedentas por uma dúzia de palavras. A mulher usava um vestido vermelho. Sem dúvidas, aquela era sua cor. O tecido fino abraçava seu corpo curvilíneo até a cintura, depois se desprendia e caia aos pés como uma nuvem sanguinária. As alças do vestido eram feitas de cristais e chamavam atenção por si só. No entanto, o que cativou os homens do local assim que a viram foi o decote ousado. Ao seu lado, nada menos do que perfeito, seu amigo Drake vestia um smoking e parecia o parceiro ideal. Seu pai estava bonito, como todos o conheciam; impecável. Blair acompanhara seu pai no evento que parou Las Vegas por muitos motivos, o principal deles era para conhecer a elite local, se misturar e fazer laços. Como seu chefe havia dito, a melhor maneira de alcançar aquelas pessoas seria sendo como elas. Aquela era a primeira parte do plano de Spencer; conhecer o território. O trio, assim que passou pelas grandes portas do Bellagio, tornou-se o centro das atenções. Aquele era um baile de máscaras, mas isso não impediu as pessoas de desviarem seus olhos para a Srta. Collins quando ela passou. Seus passos eram lentos e acompanhavam a música clássica ao redor do salão. Havia um enorme lustre acima de suas cabeças e, ainda assim, ela se tornara o brilho da noite. A maioria das pessoas usava uma máscara preta em seus rostos. Porém, assim como o vestido, a máscara de Blair era vermelha, e isso era capaz de deixar a mulher ainda mais atraente. O local exalava dinheiro, muito dinheiro. Todas as pessoas ali pareciam douradas, uma mais poderosa do que a outra. As taças nas mãos graciosas, os saltos milionários, os ternos sob medida, as joias expostas; a forma como a fortuna parecia algo comum era gritante. - "Jean" uma voz feminina chamou, e os três se viraram para encarar Deana Reys, a protagonista do filme de Jean. Ela era uma loira alta, alguns diziam que seria a substituta perfeita de Cameron Diaz. Deana parecia ainda mais elegante em seu vestido, um Prada na cor azul. - "Deana, querida. Esta é minha filha, Blair" Jean as apresentou. O olhar da loira não pôde ser notado, contudo, seu sorriso indiferente a denunciou; Deana não gostou da ruiva. Blair olhou para Drake, seu amigo, de uma forma que ele entendia bem. Ela odiava a ideia de fingir adorar tudo aquilo, mas o fazia por um bem maior. - "É um prazer" - "Igualmente" - "Jean, vamos deixar você ter seu momento. Voltamos em cinco minutos" Drake disse, já segurando a mão de Blair e a guiando para um canto menos ovacionado do salão. Ele sabia, melhor do que qualquer outra pessoa, que tudo aquilo era um gatilho emocional para Blair. Ver seu pai ser tratado com tanta ternura, sendo que apenas ela conhecera seu passado, era desgastante. Como se ambos estivessem usando máscaras, e não apenas como apetrechos. Blair e Drake moravam juntos há vários anos, desde que se conheceram em Filadélfia. Desde então, moraram em vários Estados, sempre fugindo de problemas antigos ou arranjando novos. De uma maneira ou de outra, estavam sempre juntos. - "Você vai ficar bem?" Drake perguntou. Ele queria ter um momento de privacidade, mas sabia que seria quase impossível. Muitas pessoas os olhavam, discretamente, admirando a beleza inacreditável do casal. Se todos não soubessem que Deana era a protagonista do filme, certamente diriam que Blair era. - "Sim, eu apenas... não acredito que concordei em vir" ela respondeu, olhando ao redor do salão. O dinheiro de seu pai falava mais alto, comprava o amor daquelas pessoas e, no fundo, se soubessem quem ele realmente era, não ligariam. Uma coisa a se aprender sobre Vegas era que o poder estava acima de tudo. - "Mas estamos aqui agora, e surtar não seria bom" o amigo alertou. Drake carregava uma áurea tranquila que sempre fizera Blair buscar conforto nele. Sua beleza exterior era um colírio para a vista, contudo, não era apenas o olhar esverdeado ou o cabelo castanho dourado que encantavam ela. Eram seu amor e generosidade. - "Eu odeio a..." ela começou, porém foi obrigada a interromper-se quando um homem se aproximou. Ele usava um terno azulado e máscara da mesma cor, e isso combinava perfeitamente com seus olhos claros. Seus passos eram graciosos, mas não negavam o quão inflado o ego do homem poderia ser. - "Olá" sua voz era melódica, lembrava um bom locutor de rádio. - "Oi" Blair não se importou em parecer indelicada, ou pouco interessada. Já era r**m suficiente ter que fingir ao lado de seu pai, só para não parecer uma filha rebelde, ou ter que manter a compostura quando, na verdade, estava naquele salão de festas luxuoso para fazer média com seu chefe. - "Eu sou Justin, mas suponho que vocês saibam" o homem disse de maneira presunçosa, mas era o que a fama hollywoodiana fizera com Justin Clark. Afinal, ele estrelou o filme ao lado de Deana. Aquela noite parecia ideal para se aproximar da ruiva mais cativante da festa e conseguir mais uma mulher para sua lista de conquistas. Em seu íntimo, Justin sabia que ela estaria no topo da lista. - "Não, desculpe" ela não se importou em expressar o tédio por trás de sua fala. - "Ele está no filme com Deana. Meus parabéns, inclusive" Drake estendeu a mão para Justin. Ao contrário da amiga, ele sempre queria mostrar o melhor de si para todos. Quanto mais pessoas gostassem de sua personalidade, melhor. - "Obrigado, cara. Você gostou do filme?" Justin falara com Drake, mas seu rosto estava voltado para a mulher. A forma como a seda abraçava seus s***s era uma tentação, e o homem estava disposto a insistir até conseguir amanhecer com aquele vestido no chão de seu quarto. Antes, Justin estava emprestando sua atenção a um grupo de moças no canto do salão. Enquanto bebia doses lentas de sua taça, ele pensava em qual das beldades iria levar para casa, no fim da noite. E quando finalmente se interessou por uma loira de lábios esculpidos, ele avistou Blair entrando no evento como se fosse dona do mundo inteiro. Então ele percebeu que nenhuma das mulheres ao seu redor seria comparável. - "Dizem que vai ganhar o Oscar" foi o palpite de Drake. - "Bem, eu não vi o filme. Não posso opinar. Agora, vou deixar os rapazes por um momento. Até breve" Blair olhou para seu amigo, depois para o par de olhos azuis que ela sabia decifrar bem. Bonito, alto, rico e egocêntrico como um deus. - "Eu espero você, linda" Drake disse, propositalmente. As pessoas sempre pensavam que ele e Blair tinham um caso, ou teriam no futuro. Mas, para ambos, aquela era apenas uma amizade de valor inestimável. Ele seria o que ela precisasse e, naquele momento, ela precisava de alguém para dispersar Justin. No momento em que se afastou, sentindo o peito comprimido de uma dor que ela não podia explicar, um grupo de mulheres se aproximou de Drake e Justin. Afinal, um par solitário de homens elegantes era um prêmio bom demais para se ignorar. A dor de Blair vinha do fato de que ela conhecia as pessoas. Ela sabia que todos iriam lhe amar por sua beleza, sua fortuna ou posição social. E aquilo era suficiente para seu pai, que aproveitava o melhor de sua nova vida. Mas, para ela, o dinheiro não cobriria metade de seus problemas. Ela precisava ser coisas demais, para pessoas demais. Ela andou pelo salão em busca de uma rota de escape. As mesas eram cobertas por toalhas brancas e jarros de lírios, tornando o ambiente mais límpido possível. Era quase como uma piada interna, pois ela sabia que seu pai jamais seria límpido. Quando encontrou o conjunto de elevadores, cada um direcionado para uma parte diferente do prédio, Blair não hesitou em entrar. Ela olhou para trás, notando que algumas pessoas ainda lhe observavam. Internamente, amaldiçoou e culpou o vestido vermelho. Todavia, o que ela não sabia era que o vestido não era o único culpado pela atenção que recebia. A ruiva subiu até o penúltimo andar do Bellagio. O hotel estava livre de hospedes, pois sua única função seria receber Jean Collins, como se fosse a pessoa mais importante do mundo. E, em partes, no mundo cinematográfico, ele era. Ela andou pelo corredor largo e elegante, procurando por um lugar onde poderia desabar. Blair notou que aquele andar tinha apenas quatro suítes, apesar do tamanho fascinante. Assim era aquela construção, como muitas outras em Las Vegas. Grande, imponente, luxuosa e, acima de tudo, confortável. Vegas foi feita para agradar. A ruiva escolheu a segunda suíte do corredor e girou a maçaneta dourada, torcendo para que estivesse aberta. E estava. Mas, para sua surpresa e desconforto, não estava vazia. Uma loira estava encostada na parede, segurando uma taça com líquido borbulhante. Ela estava livre de seu vestido, usando apenas uma lingerie proporcional para o corpo magro, uma máscara escura e saltos agulha. Do outro lado do quarto, desatando o nó da gravata borboleta, um homem se aproximava da loira. Blair entendeu o que estava pestes a acontecer e se apressou para fechar a porta e abandonar o andar. Ela torceu para que não tivessem notado sua presença, mas decidiu não permanecer para tirar a prova real. Blair correu para o elevador tão rápido quanto seus saltos permitiam e teclou o painel de maneira nervosa, dando-se por vencida. Aquele não seria o momento ideal para fazer um intervalo antes de encarar a perfeita vida de Jean Collins. Blair retirou a máscara de seu rosto ao terminar de teclar o painel. Era sua maneira simplista de demonstrar para si mesma que não precisava fingir, não naquele instante. Contudo, por uma obra travessa do destino, ela viu quando o homem saiu do quarto e caminhou em passos longos até o elevador. Era um homem muito alto, com o porte físico forte e ombros largos. Seu smoking parecia perfeitamente alinhado, exceto pelos três botões abertos. E, ao contrário do que ela esperava, ele teve tempo para esticar a mão e impedir que as portas de aço se fechassem. Então o nervosismo a abraçou novamente. A primeira coisa a ser sentida por ela foi o perfume do homem. Era como se seu olfato fosse desenvolvido apenas para aquele aroma. Forte, másculo e viciante. Não era só o perfume; aquela sensualidade não poderia ser encontrada em um frasco de vidro. Grande parte da atração que aquele cheiro espalhava era a persona do homem, em si. Ela não via seu rosto coberto pela máscara cinza, mas o sentia na pele como se emanasse fogo. O homem era alto e forte, cada parte de seu corpo preenchia o smoking n***o de maneira estratégica. A máscara acima dos lábios desenhados, do nariz perfeitamente alinhado e da mandíbula marcada levava mistério ao homem, como um cavaleiro n***o. E sob aquela névoa estavam olhos azuis esverdeados. A ruiva sabia que precisaria de muito tempo olhando para eles até decidir se eram verdes ou azuis, mas também sabia que não conseguiria. Ele era sombrio demais para isso. Era intimidador. Aquele homem seria capaz de cativar uma multidão de pessoas, se quisesse, mas também poderia assustar a estes apenas com um olhar. Sua mão foi até o painel e teclou o botão de maneira casual, mas não parecia tão simples vindo de uma figura como aquela. Sua mão expunha algumas veias saltando sob a pele, algo que o tornava másculo em um alto nível. Também havia um anel em seu dedo anelar, mas a mulher não teve tempo para o analisar. Cada movimento gritava controle meticuloso, centrado suficiente para decidir e comandar, diferente de qualquer outro que Blair havia visto. Não era apenas uma tentação, era um convite. Por um instante, ele olhou para a ruiva. Não que a tivesse ignorado antes, mas sabia fingir que sim. O homem sabia quando estava no controle de uma situação e, sem dúvidas, ele estava. O que emanava dele era inalcançável e inacessível. Parecia longe, mesmo estando ao lado de Blair. A mulher ergueu os olhos para o homem alto ao seu lado, percebendo que seu olhar era ainda mais perigoso do que seu perfume. Ela sentia como se ele a atravessa-se, invadisse e explorasse sem permissão alguma. Blair aqueceu sob o azul daqueles olhos malignos, capazes de arrastar ao inferno ou voar até o céu. Ela não pensou uma segunda vez antes de avançar sobre ele. O homem ao seu lado significava perigo e, ao mesmo tempo, era um ímã impossível de romper. Ele chamara com um olhar, e ela aceitou. Ela se aproximou e grudou o vestido vermelho ao smoking. O homem não ficou surpreso, e não recuaria. Os lábios rosados dela, cobertos por uma camada brilhante de gloss, também o cativaram no primeiro segundo. Ele agarrou sua cintura fina e aproximou aquele corpo macio ao seu, pronto para fazer jus à cidade do pecado. As mãos dele causaram um formigamento na pele dela, mesmo sob o vestido. Ele sabia o que estava fazendo, como estava fazendo, toda a excitação que fazia crescer apenas com um toque. A mão que antes agarrava a cintura da mulher subiu lentamente, de forma planejada para aumentar o desejo. Ele deslizou a ponta dos dedos sobre o decote do vestido, tocando a pele levemente, provocando ardência. E quando alcançou sua garganta, o homem apertou os dedos ao redor do local, fazendo Blair pender a cabeça para trás. Nenhum dos dois parecia preocupado com as variáveis, só o desejo se desenrolando entre eles era importante. A necessidade de algo carnal era palpável e, para além disso, a fusão entre eles seria esclarecedora. Ela queria saber como ele podia exalar tanto poder, e ele queria descobrir como ela conseguira ser tão angelical e sedutora ao mesmo tempo. A forma como o maxilar marcado do homem enrijeceu fez Blair fraquejar e engolir com dificuldade, completamente afetada. O que quer que acontecesse entre eles seria como atear fogo em seus corpos. Os lábios rosados dela se abriram para acomodar a respiração exigente que se perdera em sua garganta. Até respirar havia se tornado difícil no momento que as portas se fecharam e aqueles olhos se voltaram para ela. Contudo, a submissão que aquelas mãos a faziam sentir era o principal motivo de sua falta de fôlego. Blair já estava nervosa ao lado dele antes, mas, junto ao seu corpo, ela sentia-se derreter. Não parecia real a ideia de que um homem de preto, tão bonito quanto um deus, tivesse lhe ganhado sem esforço algum, conquistando seu corpo como se o possuísse desde sempre. Ele apertou os dedos em sua pele, tanto em sua garganta quanto na cintura, e um suspiro próximo à um gemido foi sua resposta. Blair estava entregue, desejando com todas suas forças que aquele aperto jamais chegasse ao fim. O homem a empurrou para trás até que a tivesse como uma vítima, presa entre a parede do elevador e o corpo forte. E quando ele aproximou-se, prensando o corpo rígido contra o macio, Blair sentiu toda sua magnitude. Ela fechou os olhos, incapaz de suportar a intensidade do toque, do olhar, do aroma e da expectativa. Aquele homem olhava para ela com desejo violento, deslizando os olhos por seu corpo como um caçador. Ele enfrentava uma dura batalha contra seu impulso, tentado a avançar sobre ela, contido pela ética e bom senso. Sua respiração pesada batia contra a pele feminina, causando sensações que a ruiva não seria capaz de descrever. Ele aproximou os lábios do rosto dela, ainda segurando sua cintura e apertando sua garganta, e precisou de todas suas forças para não perder a postura e o controle sobre si mesmo, apenas pelo prazer de ter controle sobre ela. Entretanto, todo o clima gritando sexo ao redor de ambos foi quebrado quando as portas se abriram no salão principal. O homem soltou a ruiva com economia de esforço e se retirou. Sequer olhou para os lados quando abandonou o elevador, muito menos para trás. Blair precisou se recostar na parede para recobrar a sanidade, sentindo falta do toque que havia perdido como o pulmão sente falta do oxigênio. Ela ainda podia sentir os dedos daquele anjo caído em sua pele, e isso a assustou. A mulher viu-se inclinando para frente somente para sentir um pouco mais do perfume que ele deixou. O perfume que ainda estava em sua pele. A última coisa de que precisava era de um homem como aquele, capaz de desarmar suas defesas e deixar suas pernas fracas. Aquilo seria perigoso demais, intenso demais, e ela sabia.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR