— Você é boa cozinhando? — Ricardo me perguntou enquanto abria a geladeira.
— Eu sou uma mãe, então sou obrigada a cozinhar. E uma esposa também. Marcos é um desastre na cozinha.
Ele sorriu mostrando todos os seus dentes, uma expressão tão linda que me fez ficar ainda… menos comportada.
— Quando a gente era adolescente ele ficava com inveja demim, porque eu impressionava as garotas com minha habilidade na cozinha.
— Ele não é capaz nem de fazer aquele pão com ovo de café da manhã. Quando ele acerta o ponto, esquece do sal. É impressionante — disse, e nós rimos juntos.
— E como foi que ele te impressionou, então? — perguntou Ricardo enquanto abria, em cima da pia, a bacia de vidro que havia tirado da geladeira. Arregalei os olhos quando vi os camarões.
— Vai fazer o quê? — perguntei curiosa.
— Strogonoff. Comida simples, mas como vocês estão com seus filhos, pensei nisso. Toda criança gosta. Os seus gostam, né?
— Deixa a Marcele ouvir você chamar ela de criança — disse, agora me aproximando mais, para olhar os camarões de perto. E outras coisas também. — Claro que gostam.
— Ótimo. Quer me ajudar a limpar? — Ricardo olhou para mim e depois para os camarões na bacia.
— Claro — Balancei a cabeça. — Deixa eu lavar a mão.
Passei por trás dele para chegar até a torneira e o sabão. Nossos corpos tiveram um contato ligeiro, suficiente para me deixar com vontade de agarrá-lo.
Nós começamos a limpar os pequenos camarões. Ele me ensinou a maneira correta, descontraído, engraçado, sexy, e eu fiquei me perguntando se aquele homem era mesmo real. Depois o assunto acabou voltando ao que temos em comum: Marcos.
— Uma vez nós ficamos apaixonados pela mesma garota. Karen. Se você olhar as fotos dela de hoje em dia, vai achá-la feia. Mas ela era bonita, acredite. O tempo não fez bem pra ela.
— E quem conseguiu a garota no final?
— Qual é o seu palpite?
— Você, sem dúvidas.
— Não confia no taco do seu marido? — Ricardo perguntou com um sorriso malicioso.
— Eu sei muito bem que ele não é um galanteador — disse, e nós rimos. — Agora você tem todo esse jeitão aí, todo… conquistador.
— Eu sou conquistador? — ele se virou para mim, e eu fiz o mesmo. Os dois frente a frente, as mãos sujas de camarão.
— Você é. Homem que cozinha é assim. Que mulher não quer um homem que não a faça ter que ir pra cozinha todo dia?
— Então as mulheres se aproximam de mim com esse interesse? Bom saber.
— Não, não, ridículo — ri, revirando os olhos. — É que… Ah, é fofo, sabe? E você é todo chic, entende de vinhos, sei lá. Você tem um charme especial.
— E o Marcos? — perguntou, me pegando de surpresa.
— O que tem ele?
— Você não me respondeu quando eu perguntei como ele te conquistou. Alguma coisa nele deve ter te chamado atenção.
— Ah, eu era jovem, né? Acho que o que impressionou a Aline novinha não conta muito. Mas eu amo aquele chato. Ele é um bom marido, ótimo pai…
— Então ele é só bom marido, mas ótimo pai?
— Não foi o que eu quis dizer.
— Mas foi o que você disse — Ricardo piscou para mim, depois virou-se novamente para a pia e os camarões sujos.
— Seu primo é ótimo, mas não é perfeito. Nem eu. Ninguém é.
— Tá certo — ele sorriu. — Bom, já tá acabando. Você termina esses aqui pra mim? — Ricardo apontou para a bacia.
— Claro — Dei um passo para o lado, fazendo nossos braços se tocarem.
— Vou fazer o arroz, então — ele disse, dessa vez bem de perto.
— A gente vai comer o quê? — Marcele apareceu na entrada da cozinha de repente, com seus fones de ouvido pendurados no pescoço. — Tô morta de fome.
— Ainda vai demorar um pouco, mas a espera vai valer a pena — Ricardo respondeu virando-se para ela.