Aliança com o Mafioso

Dario Aromas de alho, azeite e orégano pairam no ar enquanto adentro o Osteria del Sole, um restaurante tradicional em Florença na Itália. O ambiente está vazio, e o calor do dia me faz desejar trocar de roupa. Dante, meu motorista, melhor amigo e, por vezes, guarda-costas, permanece atento na porta, garantindo minha privacidade. — Dan — murmuro, quase num sussurro. — Peça à Viola, da Arty's, para preparar meu terno azul-marinho sob medida para retirada em duas horas. Não quero passar o dia cheirando a bruschetta. Dante pega o celular, mas hesita, olhando para mim com uma expressão indecifrável. Apesar de seu visual descontraído — cabelo loiro penteado para trás e rosto bem barbeado — sua postura revela os anos de serviço militar. Ele é maior e mais robusto que eu, mas sua presença transmite segurança. — O que foi? — pergunto, impaciente. Ele me mostra a tela do celular: um vídeo viral de Serena Mancini, filha de uma família rival. No clipe, ela enfrenta uma repórter com palavras afiadas, demonstrando sua natureza impetuosa. Os Mancinis, Castellano e Rinaldi são as três principais famílias operando em Nova York, mantendo uma frágil tolerância mútua. Recentemente, os Mancinis enfrentaram problemas após a acusação de um promotor casado com uma amante. — Ela fala demais e isso vai lhe causar problemas — comenta Dante. — O verdadeiro problema dos Mancinis é permitir que a irmã dela assuma a culpa pelo marido covarde. Que tipo de homem deixa a esposa pagar por seus erros? Eles estão colhendo o que plantaram. Meu tio Tommaso aparece na porta dos fundos. — O que você está fazendo aí, Dário? Vamos logo, estamos atrasados. Aceno para Dante, que retorna à vigilância na porta, e sigo para a sala dos fundos, onde meu pai e Tommaso me aguardam. Tommaso, irmão da minha falecida mãe, é o Conselheiro da família Castellano, conhecido por sua abordagem implacável. Meu pai, Don Lorenzo Castellano, é metódico e observador, sempre atento a tudo ao seu redor. Sentamo-nos à mesa, onde pratos de comida e uma garrafa de vinho tinto nos aguardam. — Marco faz um molho ótimo, Dário — diz Tommaso, molhando o pão no molho. — Não estou com fome — respondo, ajustando meu paletó. — Qual é o plano? — Pietro Esposito está fora de cogitação — informa meu pai. — Don Mancini provavelmente está cobrando favores. Com o promotor fora do cargo, temos uma oportunidade. — Tenho contatos no Ministério Público que podemos usar — digo. — Oficialmente, sou advogado com foco em gestão de crises — respondo, ciente da provocação sutil de Tommaso. Meu pai intervém, elogiando minhas táticas implacáveis. — Meu filho é como o Bicho-Papão. Assustador, letal, e se ele aparecer no meio da noite, é melhor você rezar. — O que é assustador é essa barba — comenta Tommaso, sugerindo que eu a raspe. — Sem ela, a cicatriz no meu rosto fica mais evidente. Isso pode ser bom para os negócios da família, mas não para outras situações. O que faremos com os Mancinis? — Acho que deveríamos fazer um acordo — propõe Tommaso. — Um acordo é um erro — discordo. — Devemos atacar com força e rapidez. Eles ainda estão se reorganizando. Meu pai pondera. — Normalmente, eu concordaria com você, filho. Mas você está se esquecendo dos Rinaldis. Eles têm o Cartel do lado deles. Se atacarmos agora, podemos nos envolver em uma guerra em duas frentes. Devemos tentar negociar com os Mancinis, dividir os territórios e os lucros. — Drogas são um troco. — diz Tommaso. — Precisamos começar a trazer armas. — Não — respondo firmemente. — Precisamos focar em nossos negócios legítimos. Armas atraem atenção indesejada. Mas, se você conseguir manter as autoridades longe, estou aberto a discutir. Tommaso concorda relutantemente. — Tudo bem. Vamos nos concentrar no acordo por enquanto. Os Mancinis do nosso lado dificultarão qualquer ação dos Rinaldi. — Se vamos propor uma aliança, que seja sessenta para nós e quarenta para eles. Eles precisam de ajuda agora, e nós não precisamos dessa dor de cabeça. Estarei no Kings se precisarem de mim. Preciso ver um cliente. Dante e eu saímos do restaurante. Ele observa atentamente os arredores antes de abrir a porta do carro para mim. — Tem alguma coisa errada — diz ele, sua energia me empurrando de volta para o carro. — Você tem razão. Também sinto. Preciso falar com Giovanni. Deveríamos marcar a reunião em outro lugar? — Acho que deveríamos entrar, onde há menos pessoas. Entramos no Kings, um clube exclusivo para membros, de propriedade de um dos meus clientes. Giovanni Martin nos recebe com entusiasmo, mas Dante o impede de me abraçar. Giovanni é um empresário excêntrico, conhecido por seu estilo extravagante. — Venham, rapazes. Isso é uma celebração. Você fez um milagre por mim, Dário. — Que tal minha garrafa de uísque favorita, por conta da casa? — Essa é uma garrafa de 1.200, Dário, mas se é isso que você quer. Enquanto nos dirigimos à sala privativa, meu telefone começa a tocar incessantemente. Dante também recebe chamadas. — Sim? — atendo ao ver o número de Tommaso na tela. — Você precisa voltar aqui, Dário. É seu pai... — O que houve? O que aconteceu com o papai? — Ele desmaiou há alguns minutos e está sendo levado para o hospital. Dário, ele está inconsciente e não sei se vai acordar.