Alice estava jogada na cama entre Callie e Tori que pediam detalhes da noite anterior. Ela falava sobre o jantar, a dança, as conversas. Sabia exatamente o que as amigas queriam saber, mas ela não iria contar, não até que uma delas tomasse coragem e perguntasse.
— E você acha que isso vai dar em algum lugar bom? Sabe, devido ao histórico dele. — perguntou Tori.
A pergunta era válida, assim como a preocupação da amiga. Ela suspirou e voltou o rosto para a amiga.
— Honestamente? Eu não tenho ideia. Eu quero que seja diferente e pela forma como ele tem agido, demonstra que quer que seja diferente dessa vez. Tudo o que posso fazer é confiar nele e dar meu melhor para o relacionamento funcionar. — ela estava sendo sincera a respeito de como pensava e do que sentia — Mas, por enquanto, estamos apenas nos conhecendo.
— Mas a pergunta mais importante é: ele te beijou? — questionou Callie cutucando as costelas de Alice.
Alice escondeu o rosto do travesseiro sentindo o sangue subir para o rosto.
— Ele beijou. — declarou Tori rindo e tentando virar Alice para que ela contasse o resto.
Alice virou-se no colchão ainda escondendo o rosto, mas agora com as mãos, ela estava tímida.
— Foi incrível. Ele foi atencioso o jantar inteiro, dançamos ao som de minhas músicas favoritas, dividimos nossos pedidos de comida, para experimentarmos de tudo. E durante a dança ele perguntou se podia me beijar, eu disse que sim. E foi bom, não que eu tenha um milhão de comparações para analisar, mas eu gostei, muito. — ela confessou com uma risadinha — Eu senti que foi muito natural, conversamos sobre várias coisas, não faltava assunto e o clima não ficou estranho. Espero que continue não sendo estranho.
— Querida, Ethan está tentando entrar em um relacionamento sério pela primeira vez, isso por si só já é estranho para todos. — comentou Callie.
— Ah, eu sei que todos vão comentar, eu estava falando entre mim e ele…
— Nesse caso, eu imagino que não ficará.
— Nossa, mas teve um momento enquanto ele falava sobre o encontro, que eu podia jurar que ele iria dizer “eu te amo”, eu estava quase procurando a porta de saída mais rápida para vazar. — ela contou — Quero dizer, eu gosto dele, provavelmente se o relacionamento continuar, eu vou amá-lo, mas ainda é muito cedo.
— Deus nos livre de homens emocionados. — opinou Callie.
— E falando em homens, como foi com Josh e como está seu caso com o professor? — perguntou Alice curiosa.
— Josh tem expectativas muito altas e distorcidas, ele imagina que eu serei capaz de manter um relacionamento com ele por mais do que algumas noites. Eu o expliquei que isso não irá acontecer. — ela respondeu com um simples dar de ombros — Quanto ao professor, foi apenas uma noite, veremos se acontece de novo. Não tenho ideia e não crio expectativas, deixo que as coisas aconteçam e ponto final.
***
Flashback, 3 meses antes.
Alice treinava os saltos e a a******a durante eles. Era uma aula de apoio, alguns outros alunos que buscavam melhorar também estavam ali, apesar de todo o foco nos ensaios, ainda haviam algumas aulas durante a tarde para ajudar os bailarinos.
— Alice, sua vez de um grand allegro. — anunciou a professora.
A bailarina respirou fundo já na ponta da sala, ela começou com algumas piruetas com pequenos saltos rodando a sala e então seguiu para o chassé fazendo um pequeno salto para deslizar pela sala e então usando essa força de impulso, ela se ergueu no ar abrindo bem as pernas de forma que elas quase estivessem retas, pontas esticadas e braços acompanhando o movimento.
Ao pousar ela não conseguiu acertar e caiu no chão reclamando de dor. Imediatamente a professora se adiantou até ela para verificar. Ao mexer o pé ela sentia um pouco de dor e percebeu que estava um tanto inchado.
— Foi uma torção leve, fique com o pé para cima e uma toalha quente por dois dias e deixe o pé enfaixado, evite esforço e logo logo você vai estar bem para dançar. — ela recomendou após avaliar — Quando descer de um salto que seja alto, não coloque todo o peso na ponta do pé, caia com ambas as pernas juntas e flexione os joelhos para diminuir o impacto.
Com ajuda de Ethan ela foi para o banco e alguns minutos depois ele voltou com uma bolsa de água quente deixando no tornozelo torcido.
— Obrigado, pode deixar que a partir daqui eu assumo. — ela disse gentilmente.
— Eu preferia não, mas se você quer assim, tudo bem. Apenas me chame para descer com você, não pode forçar o tornozelo. — ele avisou antes de voltar para a aula.
Alice tirou seu celular de dentro de sua bolsa e começou a mexer nas redes sociais. Ficou assim por alguns minutos até j**k, se não estava enganada, o suplente de Ethan sentar-se ao seu lado.
— Se você quiser, eu tenho aspirina, outros relaxantes musculares, analgésicos e qualquer remédio que quiser. Só não recomendo misturar com álcool se for ver algum professor ou a Madame. — ele ofereceu abrindo um estojo que estava cheio de pílulas.
Ela franziu o cenho e fez uma negativa com a cabeça.
— Estou bem, obrigado por oferecer. — ela disse com gentileza.
Quantos alunos será que tomavam aquilo? m*l ficou com a pergunta por muito tempo na cabeça quando o primeiro aluno apareceu e depois dele vários outros até o fim da aula.
Ethan a pegou no colo e Tori carregava a bolsa para Alice enquanto eles desciam para os dormitórios.
— São muitos alunos que consomem remédios? — ela perguntou em uma voz tão baixa que somente Ethan a ouvia.
— Sim, nem todos são viciados, mas quando estão diante de algo importante como os ensaios ou as provas de final de ano, costumam tomar ao se machucarem. Outros são completamente dependentes, bem ou m*l, eles precisam do remédio para sentir-se bem. E quando não faz mais efeito, procuram outros métodos.
Ela abriu a boca em um “O”, estava completamente chocada a respeito daquela informação, não esperava por aquilo.
— Esconda o choque, amor, muitos estão olhando.
Alice imediatamente fez o que ele pediu.
***
A bailarina caminhava pelo jardim na meia ponta, usava um vestido fresco pelo dia relativamente quente com um shorts cor da pele por baixo para dançar à vontade. Em seus fones de ouvido tocava o álbum Red (Taylor’s Version), especificamente Come Back… Be Here (Taylor’s Version) e Alice improvisava movimentos como piruetas, pequenos saltos, qualquer movimento rápido que viesse em sua cabeça, mas sem se pressionar para fazer de forma perfeita e tão elegante como no balé clássico.
Ela aproveitava para cantar a letra junto, não conseguia se ouvir, mas esperava não estar cantando alto demais. Não era desafinada e tinha uma voz suave, só não tinha nenhuma técnica então não sabia realmente como cantar e ser boa nisso como na dança.
Continuou assim até o final da canção quando percebeu alguém se aproximando, sorriu imediatamente ao ver Ethan. Garota boba, nem mesmo conseguia esconder seus sentimentos e o quanto já estava apegada a ele. Pausou a música seguinte e tirou os fones enrolando no telefone antes de guardar ambos no bolso do vestido.
— Oi Nancy Drew. — ele cumprimentou com um gracejo.
— Vossa Alteza, que honra receber sua presença e atenção, o que o traz aqui?
Ela sorriu ao ver o nariz dele enrugar com a risada dele.
— Uma garota muito bonita dançando me chamou a atenção, eu tive que vir checar.
— E fui aprovada?
— Desde o momento em que coloquei meus olhos em você.
Ela deu uma risadinha nervosa e esticou os braços entrelaçando-os ao pescoço de Ethan. Sentiu ele abraçar sua cintura e depois dar um beijo em sua bochecha.
— Como você está? — ele perguntou.
— Perfeitamente bem, e você?
— Feliz em te ver. — ele respondeu e deu mais um beijo na bochecha dela.
— Ethan Hall, quem diria que você poderia ser esse grude… — ela comentou provocando.
— Sou seu chiclete particular, senhorita.
Ela riu e antes que pudesse responder, ambos ouviram alguém vomitando próximo a onde estavam e não de uma forma que pudesse representar uma brincadeira por eles serem fofos um com o outro, mas realmente vomitando como quem passa m*l. O casal se separou e começou a olhar ao redor tentando identificar de onde vinha o som.
Alice foi a primeira a encontrar, estava atrás de um arbusto no início daquela parte do jardim. Ela acenou para que o rapaz se aproximasse, ela estava receosa de ir sozinha. Lado a lado eles deram a volta e encontraram Verona com uma garrafa de vodka sentada e suja de vômito. O rosto estava inchado e molhado, mas Alice não sabia dizer se era por causa da bebida, do vômito ou se ela realmente havia chorado.
— Vero, quer que eu chame alguém para ajudar? Eu e Ethan podemos te acompanhar a enfermaria ou ao hospital se quiser. — ela mantinha a voz suave e gentil.
— Ninguém pode me ajudar, ninguém entenderia nada do que eu estou sentindo. — ela respondeu irritada e com a voz um tanto enrolada, provavelmente por conta da bebida.
— Mas você precisa se limpar, há vômito por toda sua roupa. — Ethan apontou o fato com gentileza.
— Bem, eu sou assim, afinal, um vômito que todos desejam limpar de suas vidas. — ela lamentou — E agora que Dominique se foi, ninguém nem mesmo se importa mais comigo.
— Não é verdade, todos nos importamos com você, Vero. Estamos aqui ainda, poderíamos ter ido no segundo que disse que não queria ajuda.
Verona fungou algumas vezes e entornou mais um longo gole direto do gargalo da garrafa em sua mão. Ao terminar, balançou a garrafa e percebeu que havia esvaziado ela toda, a jogou em direção ao casal e ambos desviaram.
— Eu vou vazar, — avisou Ethan.
Alice segurou o pulso dele.
— Deixa eu tentar uma última vez. — por favor.
Ele assentiu e cruzou os braços esperando.
— Vejam só, pelo jeito ela colocou uma coleira em você, Ethan… Sempre achei que você iria virar cachorrinho de Donna, mas virou da substituta dela. O que mais pretende pegar de Dominique, Alice?
Alice contou até dez para não mandar a garota ir para um lugar nada agradável e se aproximou revirando os olhos.
— Bebados amargurados são os piores. — comentou — Agora, você tem duas escolhas, ou vai me deixar te levar para a enfermaria ou vou deixar você em sua própria sujeira e avisar Madame para que ela lide com isso.
Simples assim, se ela não queria ajuda deles, então lidaria com a diretora e não iria ser nada agradável, ainda mais que ela estava bebendo a luz do dia nos terrenos da escola, mesmo que fosse um dia de folga.
— Não quero sua ajuda, tudo se tornou ainda pior depois que você chegou. — disparou Verona.
— Você fez sua escolha.
Alice virou de costas e segurou o braço que Ethan lhe oferecia. Caminhavam para dentro do colégio.
— Vai mesmo chamar a Madame?
Ela assentiu.
— Se fosse só ela bêbada e resmungando amargurada, eu a deixaria ali quantas horas quisesse. Porém ela está toda vomitada e há vômito na grama e no arbusto também, vai começar a feder e precisa ser limpado. Madame deve saber para poder mandar limpar tudo.
Ethan concordou e a acompanhou para a sala da diretora no último andar da academia. Ela bateu com os nós dos dedos na porta de carvalho e logo ouviu a voz da Madame pedindo que entrasse,
— Alice? Não esperava você. O que já traz aqui?
— Adoraria dizer que vim tomar chá com a senhora, Madame, mas infelizmente estava passeando com Ethan pelos jardin e nos deparamos com Verona Hastings bebendo uma garrafa de vodka já completamente embriagada e coberta de vômito. Tentamos oferecer ajuda, mas ela se recusou, achei que deveria te avisar. — ela explicou o mais sucinto que conseguiu evitando as partes sobre ofensas.
— Bem, também adoraria que fosse para um chá. — a diretora respondeu com um suspiro — Obrigado por avisar, eu lidarei com a situação. Verona anda tendo problemas assim desde a morte de Dominique, elas eram amigas de infância, sempre foram próximas, não deve ser fácil.
— Eu imagino, senhora. Por isso oferecemos ajuda, mas como ela recusou, recorri a alguém com autoridade.
— Fez certo, querida. Podem ir, aproveitem o resto do domingo, eu vou resolver a situação.
Alice assentiu e ao sair da sala fechou a porta, em seguida caminhou para os braços de Ethan que esperavam abertos por ela.
— Odeio ter que ter feito isso. — ela comentou.
— Eu imagino, mas o que mais poderia ter feito?
— Eu não sei, insistido?
— E ser mais ofendida?
— Não sei, eu só acho que ela é alguém que precisa de ajuda.
— Provavelmente precisa, mas algumas pessoas não aceitam ajuda alheia, você tentou, fez sua parte.
Ela assentiu e abriu um sorriso para ele.
— Vamos comer alguma coisa?
— Aqui ou na cidade?
— Cidade!
Ele riu e beijou o topo da cabeça dela.
— Tudo bem formiga, vamos.