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CAPÍTULO 1
ANNA NARRANDO
Abro meus olhos e a primeira coisa que enxergo é o espelho no teto. Estou com as mãos nos cabelos de um homem que não conheço, ele beija meu pescoço, completamente sem roupa. Posso ver pelo espelho que é um homem forte, bonito, cabelos escuros e pele morena. Estamos deitados na cama, ele por cima de mim. Seu corpo é quente, gostoso, seus músculos são saltados e eu gosto da forma como tudo está acontecendo.
— Anna, você é tão deliciosa... — Ele diz, baixo, contra meu pescoço.
Ele se empurrava contra mim, e eu o sentia lá dentro. Era bom, não posso negar. Estou aqui por escolha mútua, ele me escolheu para ir pra cama com ele, e eu o quis...
Confesso que parece um sonho. Gosto da forma como ele me toca, ele parece ter um manual de instruções feminino e faz o serviço direito. Passa a mão nas minhas coxas, faz minha pele arrepiar... E eu sinto que estou prestes a chegar ao ápice do meu prazer. Não demorou muito, até que eu cheguei ao ápice, realmente. E ele também.
Ele se jogou ao meu lado, e agora, nos olhávamos através do reflexo do espelho do teto. Ele sorria, ofegante, e eu apenas tentava normalizar minha respiração.
Aquela cena parecia familiar demais porque já vivi. O homem sem roupas em cima de mim é Eric, e eu o conheci alguns minutos antes nessa festa, onde basicamente todos os solteiros da elite de Nova Iorque estão, para se divertir e, bom, ir pra cama com alguém sem julgamentos e fora dos holofotes.
Enquanto me olho no espelho, percebo que algo inacreditável aconteceu: Minutos atrás, eu estava no topo do edifício do meu trabalho, e sim, eu me joguei. Eu tinha quarenta anos, vivi uma vida de merda e não, eu não estou ficando louca. Tudo foi real demais... A minha irmã sendo uma verdadeira cretina comigo, o meu pai me rejeitando, meus avós dando razão ao marido da minha irmã que faliu a empresa... Mas, como eu vim parar aqui de novo? Eu não faço ideia do que aconteceu.
— Você tá legal, Anna? Parece esquisita. Não gostou? — Eric me pergunta, me olhando com atenção. Eu sorri e neguei com a cabeça.
— Não, não. Estou perdida em meus pensamentos.
A verdade é que, como num passe de mágica, ao invés de estar morta... Eu estou de volta aos meus vinte anos. Como isso é possível? Como?
— Você parecia mais animada antes. — Eu me levantei da cama, e comecei a recolher minhas roupas no chão.
— Eu estava animada, mas preciso resolver algumas coisas. Me desculpa, Eric. Me liga um dia desses.
— Mas você nem me passou seu telefone...
Eu fui me vestindo, com certa pressa. Coloquei as roupas íntimas, depois o meu vestido, então saí rápido da festa sem nem olhar para trás. Estou nervosa. Acho que finalmente caí em mim: Eu literalmente voltei no tempo. Caramba, eu voltei no tempo!
Eu entrei no meu carro. Antes de o ligar, eu segurei as duas mãos no volante e dei um grito.
— O que eu vou fazer agora? Anna, pensa, pensa, pensa! O que aconteceu? Como isso é possível? — Eu passava as duas mãos por meus cabelos ruivos como os de meu pai. Minhas mãos tremiam, eu estou assustada e ansiosa. — O que eu faço? Meu Deus, o que eu faço?
Depois de surtar por alguns minutos, eu liguei o carro, e durante o caminho, comecei a lembrar da minha vida antiga. Posso estar de volta aos meus vinte anos e não sei como isso é possível, mas eu me lembro tudo que aconteceu até eu chegar naquele momento desesperador onde atentei contra minha própria vida. Será que essa é a oportunidade que estou tendo de fazer tudo diferente? Será que eu devo mudar a mim mesma, para que quando eu chegar aos quarenta, não queira tirar minha própria vida? Meu Deus...
Estacionei o carro em frente à minha casa, já são duas da manhã. As luzes ainda estão acesas, o que me faz entender que eles ainda estão acordados. Não é incomum, afinal, minha mãe vive com uma pensão gorda que seu marido deixou quando morreu e tem sua própria aposentadoria também, ela era enfermeira. Meu irmão trabalha comigo, mas realmente não parece querer trabalhar e não sabe administrar o próprio dinheiro, sempre acaba perdendo em jogos online. Eu sou a única dessa família que gosta de botar a mão na massa e ganhar algum dinheiro por conta própria. Eu fiquei sentada no carro um pouco, tentando recuperar a sanidade. Estou assustada, porque caramba, eu vou ter que viver tudo de novo! Eu sei o que acontece essa noite, e eu não gosto disso!
Saí do carro e arrumei meu vestido vermelho, coloquei meus saltos novamente e fui em direção à porta de entrada. Meu irmão girou os olhos e cruzou os braços assim que cruzei a porta.
— Por que você demorou tanto pra voltar, sua insuportável? Eu pedi seu carro emprestado e você nem ao menos retornou minhas ligações! — Liam disse, bufando e cruzando os braços.
Se ele não fosse um irresponsável teria um carro também, mas prefere comprar roupinhas exclusivas de jogos online.
— Sua irmã é egoísta, você sempre soube disso.
Minha mãe, Claire Davis, a vagabunda que acabou com seis casamentos, disse que sou egoísta. Me lembro que, da outra vez, eu disse isso em voz alta. Mas eu me mantive em silêncio dessa vez.
— É, e pelo visto, o gato comeu a língua dela. Nem resposta ela quer dar.
— Eu estava em uma festa. Vocês dois sabem que trabalho muito, preciso me divertir às vezes. — Meu irmão negou com a cabeça.
— Foi com quem na festa? Com sua irmãzinha Bella? — Eu fechei os olhos. Suspirei. Ele me olhava com malícia.
— Sim, com minha meia-irmã Bella.
Bella não é minha amiga, é minha irmã. Liam fará questão de jogar isso na minha cara em breve, então, vou fingir que ainda não sei. Parece mais fácil reviver a vida sabendo quem é quem. Deixei os dois falando sozinhos e fui para meu quarto, não quero papo.
Fiquei andando de um lado para o outro, passando as mãos em meu cabelo, pensando no que fazer. Eu devia contar para alguém? Devia pedir ajuda para um psiquiatra? Será que tô maluca?
Talvez eu esteja trabalhando demais...
Eu trabalho na empresa da família Jones, assim como meu irmão. Nós somos da diretoria da empresa, mas eu sei que não cheguei ali por mérito, porque minha área nem era liderança de empresa. Eu estudei para ser professora de crianças, era o que eu queria da vida, mas minha mãe tinha outros planos pra mim. Eu cheguei ali por ameaças de minha mãe ao dono da empresa, meu verdadeiro pai, Harold Jones. Tecnicamente, sou uma filha bastarda de Harold, então, para que minha mãe Claire fique em silêncio e não faça um alarde maior do que os que já fez, ele me colocou na empresa como chefe. Eu não tive uma boa educação e estou ralando muito para fazer um bom trabalho, mas é muito difícil.
Os próximos dias a serem vividos serão muito tensos. Me lembro exatamente que aqui foi o ponto em que minha vida virou de cabeça pra baixo, pois foi no momento onde Paola Jones pediu o divórcio ao Harold Jones, por descobrir que ele era um traidor.
Meu telefone tocou, e era Bella.
— Alô? — Atendi, respondendo a ela.
— Você me deixou sozinha na festa de novo, Anna! — Bella reclamou. — Tive que voltar de Uber.
— Desculpa, tive um problema. — Falei. Ela bufou. — Tudo bem, não foi para isso que liguei. Você não vai acreditar no que aconteceu...
— O que? — Questionei, mesmo sabendo.
— Minha mãe foi embora de casa. — A senhora Paola Jones abandonou o marido. É isso mesmo, esse foi o momento mais odioso da minha vida.
— Você tá brincando? — Questionei.
— Não, não estou.
Eu estava no meu quarto, mas ouvi os gritos de minha mãe pela casa. Gritos de alegria, como se tivesse ganhado na loteria. De certa forma, ela ganhou, porque o caminho para chegar à fortuna de Harold Jones agora estava livre. Paola Jones não sabia o que havia feito, mas se arrependeria amargamente.
— Eu sinto muito. — Falei. Eu queria gritar com a Bella e dizer que sei o quanto ela é falsa, mas preferi ficar em silêncio.
Lembro-me que da última vez, pulei de alegria com minha mãe. Eu também queria a fortuna do Harold. Eu pensava: “Sou sua filha, mereço tanto quanto Bella, quero ter uma vida de rainha”. Mas a verdade é que agora, me pergunto se quero me aproximar novamente.
Quando desliguei o telefone, fui para a sala e minha mãe estava pulando de alegria.
— Anna! A senhora Jones deixou o Harold! Eu finalmente vou me casar com ele, finalmente! — Ela gritava e comemorava como se isso fosse um gol do nosso time favorito.
— Não sei se isso é tão bom quanto parece. — Respondi.
— Não começa. Pare de ser tonta! Quando nos mudarmos para lá, eu vou contar um segredo que venho guardado há anos. Seremos a família que devíamos ter sido desde o início.
Eu dei os ombros e voltei para o meu quarto. Fechei a porta e comecei a olhar ao redor. Deus, o que eu vou fazer agora? Minha vida está caminhando para o mesmo caminho que eu segui anteriormente. Se essa é uma outra chance, eu preciso mudar alguma coisa, preciso trocar o caminho... E encontrar um jeito de fazer tudo diferente.
Não espero amor de Claire Davis, minha "mãe". Sei o motivo do tamanho desprezo que ela tem por mim, e sei disso graças a minha vida passada.
Minha mãe insistiu tanto em Harold, que finalmente conseguiu engravidar dele. Ela achou que um bebê seria o suficiente para fazer com que ele se separasse de sua esposa Paola Jones... Mas não foi. Muito pelo contrário, ele ficou com ódio da minha mãe. Imagine só, a esposa e a amante grávidas ao mesmo tempo! Que grande ironia do destino!
Minha mãe, grávida, agora pensava no futuro da filha bastarda... Mas uma filha de Claire Davis jamais poderia ser criada como intrusa, desprezada e na pobreza. Foi aí que minha mãe traçou o plano que mudaria toda a história de minha vida.
A filha da minha mãe foi criada como uma rainha, como ela sempre planejou. E eu? Eu fui criada por ela. Mas eu sou filha da mulher que Claire passou a vida tentando separar de Harold. Minha vida foi literalmente roubada de mim.