Ataque

1018 Palavras
Lara tentou deixar o acontecido para trás, respirando fundo enquanto Luana preparava algo para ela beber. Mas não conseguiu. Toda vez que pensava em Elias, sua mente se enchia de uma sensação gelada, como se suas mãos, que ainda seguravam a bolsa com os doces, estivessem congeladas. Ele parecia sempre ali, à espreita, com aquele olhar calculista, e as palavras, amargas, ainda ecoavam em sua cabeça. Luana percebeu que algo estava diferente nela. — Lara, tá tudo bem? Você não parece normal hoje. Lara sorriu sem muita convicção, tentando esconder o nervosismo. — Tá tudo certo, Luana. Só... é a chuva, você sabe. Não gosto de sair com tempo assim, não ajuda muito. Luana não parecia convencida, mas sorriu e trouxe uma xícara de chá. — Se você diz... Vai me contar logo o que tá acontecendo? Eu te conheço. Lara olhou para a amiga por um longo momento. Mas se houvesse algo que sempre tentava evitar, era envolver Luana nas questões pesadas do morro. Sabia que sua amiga tinha uma visão diferente de como o mundo funcionava, e colocar mais tensão ali seria inútil. Ela pegou a xícara e, com um sorriso amarelo, mudou de assunto. — Então... Como estão as coisas por aqui? Como Sofia está? Luana aceitou a mudança, sentando-se ao lado dela no sofá. As duas conversaram por um bom tempo sobre coisas pequenas, cotidianas, mas Lara sentia uma inquietação crescente, como se, mais tarde ou mais cedo, precisaria enfrentar tudo o que estava acontecendo em seu próprio universo. Antes de sair, já com a sombrinha novamente aberta e a chuva pesada lá fora, Luana a acompanhou até a porta. — Não vai voltar agora, vai? Tá tarde. Lara sorriu, tentando aliviar a tensão. — Claro que vou, Luana. Só que agora vou pela rua, não confio mais no beco com essa chuva e... Bem, a situação com Elias ainda me assusta. Não sei se já comentei, mas ele... — Ela se interrompeu antes de dizer mais, engolindo o resto da frase. A amiga, naturalmente, notou o que fora deixado de lado. — Você não precisa dizer mais nada, Lara. Apenas seja cuidadosa. Lara assentiu, um sorriso frágil se formando no rosto. Ela sabia que Luana estava se preocupando, mas também sabia que aquele momento fugiria do controle se ela falasse demais. No morro, as palavras podem ser armas perigosas. Ela então saiu, agora com o rosto voltado para a chuva, sentindo cada gota fria escorrer sobre ela. Mais uma vez, seu pensamento foi interrompido pela memória daquela noite. As palavras de Elias, o peso do seu olhar, o medo que ele não tentava disfarçar. Enquanto andava pela rua, olhando os degraus iluminados pelas lâmpadas tortas, Lara tentou afastar o peso da preocupação. Mas ela não podia negar a verdade que sentia lá no fundo. O morro estava cada vez mais complicado. Elias não estava apenas em busca de poder, ele era como um predador esperando o momento certo de atacar. O ar denso da noite fazia Lara acreditar que o perigo já não estava mais tão distante. Lara tentou se mover, mas seu corpo parecia completamente fora de seu controle. Cada centímetro da pele que tocava o chão se revirava em dor, como se ela estivesse sendo esmagada pelo peso de seus próprios medos. Ela tentava abrir os olhos, mas tudo era uma mistura turva de sombras. O som da chuva batendo no concreto e o ronco distante do morro pareciam se fundir em um pano de fundo sufocante. Quando a visão começou a clarear, ela percebeu que não estava mais sozinha. Alguém estava em cima dela, segurando seus ombros com uma pressão inquietante. Não conseguia distinguir o rosto da pessoa, mas sentia um calor corporal que não combinava com a chuva fria que caía incessante. Seus pensamentos eram confusos, desconexos. O susto foi imediato, e sua mente, tentava, desesperadamente, entender o que estava acontecendo. Por um momento, Lara ficou parada, sentindo o peso da presença como uma mão invisível a apertando. Foi quando a respiração forte e pesada se fez clara, vindo de perto de sua orelha. O cheiro de tabaco misturado com suor, e a sensação de uma pressão crescente nos braços que a restringiam, fizeram sua pele se arrepiar ainda mais. O que ele queria? O que estava acontecendo? "Quem é você?", ela finalmente conseguiu sussurrar, sua voz fraca, cheia de pânico e confusão. O silêncio na viela foi quebrado apenas pela chuva. Ela sentia seus olhos queimarem ao tentar focar a visão na escuridão. Tentou forçar as pernas a reagirem, mas parecia que seus músculos estavam presos a algo invisível, imóveis. A silhueta em cima dela se mexeu ligeiramente, mas foi o toque nas suas bochechas, como se alguém estivesse tentando fixar a atenção dela, que a fez ter um arrepio mais forte. Era uma presença ameaçadora, e algo dentro dela lhe dizia que esse momento não era só uma ameaça, mas um aviso. "Não tente nada," uma voz baixa e grave disse de repente, em um tom ameaçador. Lara tentou, sem sucesso, bloquear a tentativa de morder as palavras que ele estava formando, mas o medo crescia em seu peito. A pele molhada de chuva não fazia mais sentido para ela, o frio misturado com o toque de alguém que ela sabia, mesmo sem ver o rosto, que não lhe traria nada de bom. Lara sabia que aquela sensação não passava apenas de um aviso. Ela estava em perigo real agora, e a ameaça era mais do que uma presença física, estava ligada à intenção de quem estava em cima dela, controlando aquele momento. Ela sentiu o ar apertando seus pulmões, a falta de oxigênio a incomodando. Ainda respirando com dificuldade, ela balbuciou: "Por favor, me deixe ir." Algo dentro dela sabia que a tensão estava aumentando, que as rédeas estavam se apertando a cada segundo, mas ela não sabia se sua voz seria capaz de aliviar um mínimo daquela pressão. A resposta que veio da escuridão foi rápida, mas carregada de uma tensão ominosa. "Você vai ficar por aqui por enquanto. Não é hora de fugir, Lara."
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