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751 Palavras
— Hoje à noite, eu quero te apresentar meus amigos.
Essa frase ficou na minha cabeça o dia inteiro. Jace me disse isso por mensagem como se fosse algo casual. Mas pra mim, não era.
Conhecer os amigos dele significava entrar, de verdade, no mundo que ele sempre manteve nas sombras. O lado que eu não tinha certeza se estava pronta pra ver.
Mesmo assim, eu fui.
A festa acontecia numa cobertura no centro, com vista pra cidade inteira. Música alta, luzes de LED nas paredes, cheiro de bebida e cigarro no ar. Gente dançando, rindo, encostada nos sofás de couro ou nas sacadas com copos nas mãos e sorrisos nos rostos.
Era como entrar num universo paralelo. Um onde regras não existiam.
E lá estava ele.
Jace.
Encostado na bancada da cozinha, copo na mão, jaqueta escura, rindo de algo que um cara ao lado dizia. Quando me viu, o sorriso mudou. Ficou mais leve. Quase... pra mim.
Ele veio até mim, passou o braço pela minha cintura com um toque natural demais pro caos ao redor.
— Você veio — disse perto do meu ouvido.
— Você mandou a coordenada, não o convite — respondi com um meio sorriso.
Ele riu e me puxou pra mais perto.
— Vou te apresentar o pessoal.
Seguimos até um grupo reunido perto da varanda. Um cara alto e loiro com cara de surfista acenou com a cabeça.
— Ellie, esse é o Nate, parceiro de oficina desde os tempos de briga. A ruiva ali é a Harley, fotógrafa das madrugadas. E os dois deitados no sofá... são Kayla e Liv.
As duas olharam pra mim ao mesmo tempo.
Kayla usava um vestido justo demais, olhos delineados e um sorriso preguiçoso nos lábios. Liv era o oposto: cabelo preso num coque bagunçado, camiseta larga e expressão curiosa. Mas havia algo nos olhos delas. Um brilho de conhecimento. Um código silencioso.
— Então essa é a nova peça do Jace? — Kayla perguntou, sem cerimônia.
— Ainda em teste — Liv completou, com uma piscadinha pra mim.
O coração bateu mais forte. Não por ciúmes — ainda. Mas por alerta. Eu não era bem-vinda naquele território.
— Vocês se conhecem bem, né? — tentei soar natural.
— Ah, querida — Kayla disse, pegando um gole da própria bebida. — Jace e a gente já dividiu muitas coisas. Inclusive... uma à outra.
Jace passou a mão pelo rosto, claramente desconfortável.
— Já foi, Kayla.
— Mas foi — ela respondeu, com um sorriso venenoso.
O silêncio entre nós pesou. Eu mantive o olhar firme, mas por dentro, algo rachava. Elas estavam testando limites. Mostrando poder. E funcionava.
— Eu não sou como vocês — falei, com a voz mais firme do que esperava.
— A gente sabe — disse Liv. — Por isso é curioso. Você é o tipo que ele corre. Não o tipo que ele segura.
Jace se intrometeu.
— Já deu, meninas.
— Relaxa, Maddox — Nate disse, rindo. — Elas só estão marcando território que nem é mais delas.
Eu precisava sair dali. Respirar. Entender.
Fui até a sacada sem dizer nada. A brisa fria me acalmou por dois segundos. Depois senti os passos dele se aproximando.
— Eu devia ter te preparado pra elas — ele disse, se encostando ao meu lado.
— Não precisa me preparar. Só precisava ser honesto.
— Eu fui. Não escondi quem eu sou.
— Não. Mas também nunca me mostrou quem são elas.
Ele suspirou.
— Elas não significam nada agora. Nem antes significavam. Era só o que tinha, Ellie. Nada real. Nada que me fizesse querer mudar o rumo das coisas.
Ficamos em silêncio. A cidade lá embaixo parecia mais distante do que nunca.
— Eu não sei se consigo lidar com esse seu mundo, Jace.
— Então me deixa te mostrar que você não precisa lidar com tudo sozinha.
Ele se virou pra mim, pegou meu rosto entre as mãos com delicadeza e me olhou como se estivesse pedindo permissão pra continuar existindo perto de mim.
— Elas não são você. Ninguém aqui é.
E antes que eu respondesse, ele me beijou.
Dessa vez, não foi desespero. Foi firme. Controlado. Como se dissesse: isso aqui é real, e eu estou aqui agora.
E mesmo com tudo ao redor, com todas as dúvidas, com as garotas que já foram parte da vida dele...
Eu beijei de volta.
Porque parte de mim já estava lá. Mergulhada nesse mundo estranho, novo e tão perigosamente viciante.
- Escritor
