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800 Palavras
Eu sabia que Seattle ia ser diferente. Mas não esperava que tudo fosse parecer tão rápido, tão intenso... tão grande. Até respirar parecia exigir mais esforço. No meu primeiro dia oficial na Rainier University, acordei cedo, tomei café com gosto de papelão no refeitório e segui o fluxo de alunos tentando parecer entrosada. A verdade? Eu me sentia como uma figurante num filme onde todo mundo já tinha decorado seu papel — menos eu. A sala de aula era fria demais, com luz branca demais, e um professor que falava com entonação suficiente pra me fazer lutar contra o sono logo na primeira hora. Psicologia. Uma das matérias que eu mais esperava. Mas minha mente insistia em se rebelar. Mais especificamente, em voltar ao dono da moto preta e do sorriso que parecia saber demais: Jace Maddox. Que tipo de nome era aquele? Soava como personagem de livro — ou de problema. E talvez ele fosse os dois. Revirei os olhos só de lembrar do jeito como ele falava comigo. Como se me conhecesse. Como se eu fosse previsível... ou interessante demais pra ser ignorada. Idiota. — Você é nova? — a garota ao meu lado sussurrou, inclinando o corpo sem tirar os olhos do professor. Assenti com a cabeça. — Ellie. Cheguei ontem. — Cassie. Sou do Texas. Segunda vez nesse curso. Eu reprovo, mas com estilo — ela piscou. Sorri. Cassie tinha cabelos ruivos, sardas nos ombros e um jeito de quem não se levava a sério. Era o tipo de pessoa que tornava a vida menos pesada. E naquele momento, isso bastava. No intervalo, fomos juntas até a praça central do campus. Cassie me mostrou os lugares mais baratos pra comer, as lanchonetes com café decente e o mural onde os estudantes colocavam anúncios — desde festas até gente vendendo apostilas com "respostas prováveis das provas" (óbvio que ilegais). Estava começando a relaxar quando ouvi o som familiar. Grave. Reconhecível. Quase provocativo. A moto. Meu corpo reagiu antes da razão. Virei automaticamente na direção do barulho e vi ele ali, estacionando com a calma de sempre, no mesmo ponto de antes, como se o campus inteiro fosse dele. Cassie seguiu meu olhar. — Ai. Jace Maddox. Você já conheceu? — A gente se esbarrou ontem — murmurei, tentando parecer desinteressada. — Cuidado com ele — ela avisou. — É o típico problema com cara de poema. Tem histórico. Brigas, suspensões, garotas suspirando e depois chorando... O pacote completo. Suspensões? Ótimo. — Ele estuda aqui? — Tecnologias aplicadas. Tem uns professores que odeiam ele, mas ninguém tem coragem de bater de frente. Porque, né... ele sabe exatamente o que faz. Em tudo. Meus olhos seguiram Jace enquanto ele descia da moto, tirando os óculos escuros devagar, com a mesma confiança absurda de ontem. Só que agora, ele estava olhando direto pra mim. Senti o estômago virar. — Você devia parar de encarar antes que ele perceba — Cassie sussurrou com um meio sorriso. — Já percebeu — respondi, e antes que eu pudesse me virar, Jace já estava vindo na minha direção. Não. Não. Não. Ele parou a menos de um metro de mim, e o sorriso estava de volta. — Eu sabia que ia te ver de novo. — Isso aqui é um campus. Não um roteiro de filme — tentei manter a compostura. — Mesmo assim, tô acertando bastante. — Ele virou brevemente o rosto pra Cassie. — Tudo bem? — Tudo ótimo — ela respondeu com um tom entre sarcástico e curioso. — Ellie... — Ele voltou os olhos pra mim. — Já tem meu número? Eu ri. Literalmente. — Isso funcionou com alguém antes? — Quase sempre. Mas com você parece mais divertido. Cassie cruzou os braços, claramente se divertindo com a cena. — Me dá o seu então — ele disse, puxando o celular do bolso e destravando a tela. — Se quiser apagar depois, eu deixo. Mas se você guardar... bom, pode ser útil. Ele estava brincando. Mas também não estava. E era esse o problema. Peguei o celular dele antes que minha mente decidisse fugir. Digitei meu número, adicionei meu nome e devolvi. — Pronto. Agora você pode me ligar se quiser ajuda com... sei lá, escolher uma cantada nova. Jace deu aquele sorriso de canto que já estava começando a me irritar. E a atrair. — Eu gosto das velhas. Mas aceito sugestões. E então, sem pressa, ele se afastou. Como sempre fazia. Cassie ficou me olhando com um sorrisinho. — Você entrou no radar dele. E quando Jace Maddox mira... não costuma errar. Olhei pro celular, que vibrou segundos depois com a mensagem: "Agora você não tem mais desculpa. Boa sorte fugindo de mim." Suspirei. Problema. Com nome, número e moto própria. E eu? Já estava dentro do caos.
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