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784 Palavras
Eu devia estar lendo. A apostila estava aberta sobre a mesa da biblioteca, cheia de marcações coloridas e anotações nos cantos. Mas nada disso fazia sentido agora. Não quando minha mente insistia em se desviar para o nome que vinha martelando nos meus pensamentos desde ontem: Jace Maddox. Desde aquela mensagem i****a — "Boa sorte fugindo de mim" — ele vinha invadindo minha rotina com a mesma facilidade que entrou na minha vida. Sem pedir licença, sem bater na porta. E o pior? Eu estava deixando. A biblioteca era silenciosa, o que deveria ajudar. Mas até o silêncio parecia carregar a presença dele. Fechei os olhos por um instante, tentando afastar tudo, focar. Concentração, Ellie. Você veio aqui pra mudar de vida, lembra? — Posso sentar aqui? A voz me pegou de surpresa. Grave, familiar. Como um eco que eu não queria que se tornasse real. Abri os olhos devagar. E lá estava ele. Jace, parado do outro lado da mesa, com um livro nas mãos e aquele sorriso meio debochado no rosto. Usava uma camiseta preta e jeans escuros. Casual. Confortável. Confiante. Demais. — Você sabe que a biblioteca tem várias mesas, né? — E você sabe que não é tão fácil assim te achar — ele respondeu, puxando a cadeira à minha frente e se sentando sem esperar permissão. — Então... achei melhor aproveitar a oportunidade. Suspirei e fechei a apostila. Claramente, não ia conseguir estudar agora. — Você sempre aparece do nada? — Eu prefiro "do momento certo". — E quem decide o momento? — Eu. Sempre. Revirei os olhos, mas não consegui impedir o canto da boca de levantar. Ele era insuportável — e charmoso. Uma combinação perigosa. — O que você quer, Jace? — Conversar. Te conhecer melhor. Descobrir por que você me responde com ironia, mas continua me olhando como se quisesse saber mais. Meu coração deu um pequeno salto. Ele era direto demais. Sem filtros. Sem rodeios. — Talvez porque você seja diferente do que estou acostumada — murmurei, sem encará-lo. — Isso é bom ou r**m? — Ainda estou decidindo. Ele riu, e o som me atingiu como uma música antiga que você não quer admitir que gosta. — E você? — perguntei, mudando o foco. — O que exatamente você faz aqui? Além de flertar com calouras no primeiro dia? Ele apoiou os cotovelos na mesa e me encarou com intensidade. — Estudo engenharia. Quando não tô arrumando encrenca. Ou... tentando entender por que uma garota como você parece tão desconfiada do mundo. — Eu só... aprendi a não confiar tão fácil. — Que sorte a minha. — Ele sorriu, dessa vez mais suave. — Adoro desafios. Houve um silêncio. Não desconfortável. Só... carregado. Como se algo estivesse prestes a acontecer e os dois soubessem disso. — Você sempre foi assim? — perguntei. — Assim como? — Tão seguro. Tão cheio de respostas. — Não. — Ele desviou o olhar pela primeira vez. — Já fui pior. E também já fui ninguém. Mas aprendi que se você não mostrar ao mundo quem é... ele decide por você. Algo no tom dele mudou. Mais grave. Mais sincero. Aquilo me pegou desprevenida. — E quem é você, Jace Maddox? Ele voltou a me encarar. Os olhos castanhos escuros pareciam querer atravessar camadas que eu mesma evitava. — Alguém que não para de pensar em você desde ontem. Minha respiração falhou por um segundo. Ele não dizia essas coisas como quem joga charme. Dizia como quem está apenas sendo honesto. E isso era muito mais perigoso. Antes que eu pudesse responder, a bibliotecária passou por nós com um olhar reprovador. Jace ergueu as mãos num gesto de rendição silenciosa, mas seu sorriso não desapareceu. — Você devia sair comigo, Ellie. — Isso foi um convite? — Foi um aviso. — E se eu disser que não tô interessada? — Eu vou saber que tá mentindo. O silêncio se instalou de novo. E dessa vez, eu fui a primeira a sorrir. — Você é impossível. — E você não é fácil de esquecer. Ele se levantou devagar, sem pressa, e pegou o livro que havia deixado na mesa. Antes de sair, se inclinou levemente em minha direção e sussurrou: — Amanhã. Café. Vou te mandar o lugar. Se não quiser ir... não vá. Mas se quiser, estarei lá. E prometo tentar não te deixar maluca — hoje. Ele piscou, virou-se e foi embora. Como sempre fazia: bagunçando tudo e deixando a poeira pra trás. Fiquei olhando para a porta por um tempo. Sem saber se odiava ou amava o efeito que ele tinha sobre mim. Mas uma coisa eu já sabia com certeza: Jace Maddox era impossível de ignorar.
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