Pequenos Conflitos

1566 Palavras
Não há dúvidas de que a capital paulista é um lugar ímpar em todo o Brasil. Sei que existem cidades charmosas como Paris, Nova Iorque, Londres ou até mesmo o Rio de Janeiro. Mas somente São Paulo tem aquele gostinho especial de “cada um cuida de sua vida”. Aqui, as oportunidades afloram, os jovens se soltam e a noite é uma eterna criança. Mas até mesmo o Peter Pan teria medo dos males que este território pode trazer, pois nem todos conseguem lidar com o livre arbítrio do outro, disfarçados de mau caráter, muitas pessoas se aproveitam umas das outras, é desse lado que encontramos Raphael que está insistindo em uma noitada com Bárbara. E acredite, ela está um pouco inclinada a ceder. Alex, sempre que podia tocava em alguma parte do corpo de Bárbara, ela foi deixando, meio que por não sentir maldade naquele papo. “Se eu não der bola, ele não poderá fazer nada”. — pensou. Mas nosso antagonista se aproximava cada vez mais. O assunto rolou até o ponto em que os dois ficaram um pouco distantes do bar com ela de costas para uma parede. Raphael girou as mãos pela cintura de nossa personagem, que pelo som alto e a bebida um pouco avançada, estava quase cedendo. — Quem é? — questionou Yago. — Um cara mais velho que sempre dá encima dela. — respondeu Alexandra. — Sempre? — Ele havia parado quando você se aproximou. — Ela fica sem jeito do lado dele, vou resolver isso! Yago puxava Alexandra pelo pulso com força tentando atravessar o mar de gente que estavam em sua frente. Mas Alexandra se chateou com aquela reação dele. Não teve como, os seus ciúmes por Yago falaram mais alto do que amizade pela Bárbara. — Pare! — exclamou. Yago se virou em atenção á ela, um pouco irritado. — O que foi? — O que você pensa que vai fazer? — Vou salvá-la daquilo! — Tá maluco? — Por quê? — questionou incrédulo. — Porque essa é uma oportunidade para a Bárbara se acostumar a falar com garotos. — Mas e eu? Não conto? — Quero dizer que ela só tem a mim como amiga e o único garoto com quem convive é você, não percebe? Alexandra cruzou os braços no meio da balada enquanto Yago revirava os olhos. — Se ele magoá-la ou se pelo fato dela ser tímida, se aproveitar? Ainda vai salvá-la como sempre fez ou vai deixar pra lá? — Tá dizendo que será culpa é minha? — questionou Alexandra. — E você fez algo para eu pensar ao contrário? — dessa vez, foi Yago quem cruzou os braços. — i****a! Preciso salvá-la! — respondeu Alexandra. E bem no momento em que Raphael parecia dar uma última investida sobre nossa protagonista, forçando o corpo dela contra a parede com o seu, nossos heróis chegam. — Tire suas mãos da minha amiga! — disseram Alexandra e Yago. Cada um deles a puxou por um braço, colocando-a para trás deles. Yago e Raphael se encararam de forma ríspida. As tensões haviam se acumulado com o que Bárbara havia lhe dito, e agora estavam prestes a explodir. Yago lançou um soco em direção a Raphael, que conseguiu se esquivar a tempo. A luta começou com empurrões e golpes desajeitados, mas logo se tornou mais intensa. Raphael era mais consciente, acertou a barriga de nosso protagonista. Yago, impulsionado por sua determinação, conseguiu conectar um soco poderoso no rosto de Raphael, fazendo-o cambalear para trás. Raphael retaliou com um golpe rápido, mas Yago desviou habilmente e contra-atacou com um soco no estômago, deixando o antagonista sem ar. Raphael abaixou a cabeça, ofegante, ele estava claramente em desvantagem. No mesmo momento da luta, Bárbara desabava emocionalmente, Alexandra a envolveu em um abraço caloroso. Sua expressão se suavizou, e seus olhos refletiram compreensão e carinho genuíno. Ela apertou Bárbara contra o peito, sussurrando palavras de conforto e apoio. Bárbara, aos poucos, começou a relaxar em seus braços, sentindo o afeto sincero de sua amiga. As lágrimas que antes haviam inundado seus olhos agora se transformaram em suspiros aliviados. O abraço de Alexandra era um refúgio seguro, um lembrete de que ela não estava sozinha. No silêncio do abraço, Alexandra transmitiu todo o amor e apoio que sentia por Bárbara, dando-lhe a força necessária para enfrentar o que quer que estivesse perturbando sua alma naquele momento de conflito. Contudo, Yago não queria piorar a situação. Quando Raphael ousou se aproximar, Yago o empurrou com a mão em seu peito. Foi quando Alexandra fez questão de erguer as mãos e gritar. — Segurança, aqui, TARADO! E várias pessoas começaram a olhar para os quatro. Raphael não teve outra escolha, se não sair de fininho no meio da multidão, finalmente reconhecendo a derrota, se afastou, com o rosto contorcido de dor e humilhação. Yago, triunfante, ficou de pé, respirando profundamente enquanto observava Raphael se afastar. Bárbara lhes deu um abraço apertado. — Não sei o que faria sem vocês! — Formamos um bom "trisal"! — respondeu Yago. — Vamos para o camarote beber! Hoje é pro minha conta! — gritou Alexandra. Os amigos coloridos se esbaldaram no camarote. Curtiram de tudo, dançaram, se azararam, beberam e se animaram. Parecia que suas vidas acabariam ali e que todo o sofrimento de seus eternos dias não fosse pesado o suficiente em suas cabeças. Hoje era o hoje e o amanhã, não importava mais. Porém, a vida continua não é mesmo? Após todo esse rolê aleatório e saírem triunfantes pela porta da frente da boate. O trio bem que pareciam bons amigos, lindos e despreocupados. Por alguns instantes, eles bem que se passaram pela amizade, Yago estava no meio de ombros dados com Alexandra e a Bárbara. Mas nós bem que sabemos onde isso inevitavelmente acabará, pois cada um deles, tem sentimentos conflitantes um com o outro. Os níveis amorosos de carinho não se equivalem. — Pra onde iremos? — questionou Alexandra. Os outros dois a encararam. — Pra onde a primeira dama quer ir? — rebateu Yago. Bárbara sente aquela pontada de ciúmes. — É, para onde a primeira dama quer ir? — debochou. Após alguns segundos olhando o céu, ela responde. — Bem na verdade, querer eu queria ir para um Motel com vocês. — jogou Alexandra entre uma risada e outra. Yago se assustou, Bárbara hesitou. Alexandra claramente é o elo de ligação entre eles. "Se eu pudesse ficar com a Bárbara, tava tudo certo pra mim". — sonhou Yago. "Será que a Alexandra me dava uma chance?" — imaginou Bárbara. "Acho que falei demais, não queria que me interpretassem assim". — pensou Alexandra. Os três atravessam a movimentada rua da Boate e param no ponto de ônibus. O que antes, era amor e amizade, tornou-se tensão e hesitação entre os amigos. "Bem na verdade, acho que seria bom, pelo menos para mim". — Yago abriu um sorriso malicioso enquanto as encarava. "Não sei se devo ir, mas também não quero que eles se peguem". — Bárbara franziu a testa de raiva enquanto apanhava o celular. "Chegamos numa sinuca de bico. Ou nós três topamos um rolê a três, ou brigamos. Certamente acabaremos assim". — Alexandra se sentiu no ponto um tanto cabisbaixa. O trio ficou por longos segundos sem se falar, meditando nos próximos passos a serem dados, até o momento em que o Uber aleatório parou enfrente os três. — Juliana? — questionou o Uber perdido. Os três se encararam. — O Senhor errou. — respondeu Bárbara. Yago retornou a tela de seu celular distraído. No entanto, Alexandra, mais do que depressa, ao perceber que o motorista do Uber cancelou a corrida, tratou de questionar. — Tá livre? — Pra você, toda a noite. — respondeu. Alexandra sorriu para o motorista que não pensou duas vezes antes de lhe passar a cantada. — Vamos pra minha casa, ok? — afirmou Alexandra. Os dois se sentiram mais aliviados, o hotel era realmente uma escalonada do caos muito rápida. "Nossa". — pensou Bárbara. "E agora?" — pensou Yago. A volta para casa foi constrangedora. Alexandra foi no banco da frente com o motorista dando encima dela de todas as maneiras diferentes. Bárbara e Yago foram no banco de trás com Bárbara querendo muito chamar atenção de Alexandra, enquanto Yago estava irritadíssimo com o motorista. Dito isso, os três entraram no Uber. Ainda bem que o caminho a percorrer até a casa que Alexandra falou, foi extremamente rápido e em poucos minutos eles chegaram ao local. — Boa noite meninas! — despediu-se o motorista. Bárbara e Alexandra meio que riram da situação enquanto Yago queria matar o motorista. Alexandra puxou sua bolsa e perdeu certo tempo procurando seu molho de chaves. "Tem um tempinho que não venho aqui, deveria ter separado as chaves antes". — pensou Alexandra. "Será que conseguiremos dormir aqui?" — avaliou Yago. "Ao menos não estamos tão bêbados assim". — analisou Bárbara. — Achei a chave! — esbravejou Alexandra, confiante. A casa era sua antiga moradia, antes de se mudar para o luxuoso, mas minúsculo apartamento. Ela não passa de um resquício do passado remoto com lembranças e charme, mas enorme e difícil de cuidar. Logo, assim que brigou de vez com o pai, Alexandra se mudou. Contudo, manteve o IPTU pago e as chaves, pois seu pai não desejava mais retornar para aquele lugar.
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