Minhas pernas estão inchadas pelas longas horas sentadas, as minhas costas reclamam pelo banco desconfortável, o meu corpo transpira pelo intenso calor que envolve a cidade.
Mas nem mesmo o desconforto de quatro longas e exaustivas horas dentro do nosso carro sem muito conforto fez com que eu deixasse de sentir a emoção de retornar para a casa dos meus pais, como um filme a minha vida nos tempos em que vivi aqui passa diante dos meus olhos, a cada caminho em que o carro percorre eu vejo aquela pequena magrela de longos cabelos ondulados correndo pelas calçadas. Foi aqui onde eu passei momentos maravilhosos da minha vida na companhia de alguns amigos e da minha família.
Olho a minha volta e tudo nesta cidade me trás boas recordações, desde o caminho da escola para casa até os passeios com papai aos Domingos à tarde.
Eu sinto muitas saudades destes pequenos momentos felizes que não voltarão mais. Saudades dos amigos que seguiram o seu caminho e que por alguma razão que desconheço, nos afastamos. Meu peito aperta, dói, o sabor do gosto da saudade que percorre em minha boca é intragável.
Eu sei que não podemos voltar a nos encontrar novamente um dia, mas tudo o quê vivemos aqui faz parte da página do livro de nossas vidas e será lembrado por alguém até mesmo após nossa partida.
Sou desperta do meu devaneio ao ver que Jonathan estaciona o carro em frente a grande casa de muros antigos, um misto de cores é vista por baixo das paredes descascada confundindo-se a sua natural pintura.
Eu fecho os olhos, inalando o gostoso aroma das flores que a brisa trás me fazendo recordar os bons momentos da minha meninice em que eu aqui vivi.
A diversão com os amigos, às gargalhadas no trajeto para a escola, os passeios com papai aos Domingos, as lágrimas pelo amor não correspondido, tudo está gravado em minha memória e em meu coração.
Percorro os olhos sobre a árvore onde o mesmo pequeno jardim há anos é cultivado por mamãe, eu não me recordo de quantas vezes eu entrei em casa chorando por ralar os joelhos, mas logo eu me arrependia quando ouvia mamãe culpar papai sobre meu comportamento inadequado para uma menina. Hostil.
Um nó se formara em minha garganta, uma lágrima solitária desliza sobre meu rosto. Nunca pensei que diria isso, mas sinto falta até mesmo destes momentos. Rio.
Eu me sinto culpada por ter me tornado uma filha desleixada, eu tenho visitado a minha família com menos frequência do que eu gostaria.
Percebo isso quando eu me deparo com as mudanças que aconteceram na cidade natal, à pequena lanchonete que sempre frequentava com os amigos após a escola para comer um delicioso pão de queijo e beber um suco gelado, hoje deu lugar a uma floricultura. A pequena capela que nós íamos às missas e paquerar os coroinhas aos Domingos, hoje se tornou uma igreja grande e ainda mais bonita...
Por mais que tudo aqui esteja mudado, ainda sinto como se tudo estivesse como eu deixara no dia em que parti. O meu coração palpita em felicidade. Recordar é viajar para o passado tendo como a máquina do tempo os meus pensamentos.
— Tudo bem, amor? — sou desperta dos meus pensamentos ao sentir o toque frio de suas mãos sobre a minha que descansa em meus joelhos.
Eu me viro olhos de suas mãos para seu rosto, ele me fita com o cenho franzido, confuso, dou lhe um sorriso tímido com o canto da boca seguido de tranquilizar.
—Sim, está tudo bem — desliza sua mão áspera que carrega algumas marcas, vestígios dos trabalhos braçais em que tivera que estar para juntar dinheiro e pagar sua faculdade, sobre meu rosto, seca o rastro que as lágrimas ali deixarão.
—Mãe, eles chegaram — ouço Ruth, minha irmã gritar enquanto ela toma toda a minha atenção para si.
Em passos largos atravessa a porta da sala, ela corre em minha direção, o seu vestido amarelo de alças finas, em estampas florais, brancas esvoaçante dançam ao som da mesma melodia em que o vento embala os seus longos cabelos, seguida por um jovem rapaz um pouco mais alto que ela, cabelos lisos, castanhos claros, corpo magro vestido em uma bermuda preta, camisa regata branca e calçados em seus chinelos de dedos que o impedem de lhe acompanhar, ele fica pra trás, sempre fora muito habilidosa.
Sorrio feliz em vê-la.
Rapidamente eu saio do carro, fechando a porta atrás de mim.
Com os meus braços abertos, eu a recebo, ela envolve os seus pés em volta da minha cintura como quando era criança, me equilibro como posso, ela crescera mais rápido do que eu pude acompanhar.
—Ei, calma aí, mocinha — eu rio divertida.
Envolto os meus braços em volta de sua cintura, só agora estando com ela em meus braços é que sinto o quanto senti falta disso.
Aprofundo o meu nariz por entre seus cabelos macios inalando o doce perfume que carrega desde pequena, melancia.
Amo o seu cheiro, ele me traz recordações de quando ela era pequena, geniosa, sempre teve resposta para tudo na ponta da língua, brigava com tudo e todos, mas era uma das crianças mais lindas e doces que eu já havia conhecido. Eu agradeço à Deus por tê-la enviado em nossas vidas.
—Gabi, que saudades! — sua voz soa emocionada.
—Ah! Sua maluquinha — digo lhe puxando mais para perto, em um abraço repleto de afeto.
—Que bom que chegaram — diz ofegante — Eu pensei que não viriam mais — faz uma careta em desgosto. Gargalho com uma leve jogada de cabeça para trás.
— Você é impossível — eu aperto sua bochecha levemente entre o dedo polegar e o indicador igual quando ela era criança, ela bufa.
—Querida, desculpe pelo atraso, eu gostaria de ter vindo mais cedo, mas houve alguns contratempos e só conseguimos chegar agora.
— Tudo bem, Gabi, você é uma mulher importante agora, tem muito trabalho a fazer — dá de ombros — Eu só estou te enchendo — dá uma piscadela acompanhada de um sorriso divertido.
—Mas agora eu estou aqui, não estou? — questiono recebendo um sorriso amistoso.
— Isso é o que importa —rimos. Ela volta a me abraçar.
— Pare de bobagens, Ruth, você já não tem mais cinco anos — nós somos despertas do nosso devaneio ao ouvir sua voz que carrega um tom agressivo.
Mamãe.
Eu observo Ruth revirar os olhos, arqueio as sobrancelhas, em seguida dela se afastar dos meus braços, se coloca de pé ao meu lado alinhando seu vestido.
Seus passos são firmes, precisos enquanto ela caminha em nossa direção, lindamente vestida em seu vestido azul em algodão que caíra perfeitamente bem em seu corpo, mamãe sempre fora uma linda mulher, nem mesmo os anos e a maternidade o fizeram perder as curvas acentuadas do seu corpo.
Seus longos cabelos negros estão presos em um r**o de cavalo, ela seca as mãos no seu costumeiro avental que carrega amarrado na cintura.
— Você vai acabar derrubando a sua irmã que nunca tivera muita firmeza nas pernas. — reviro os olhos. - Veja como ela está ainda mais magra. - Eu sei que mamãe se preocupa conosco da maneira dela, mas às vezes esses comentários nos importuna.
— Quanto exagero, mãe. - Ruth bufa ao se afastar dos meus braços, se coloca de pé ao meu lado.
Temperamento forte, Ruth nunca perdera a oportunidade de rebater algumas das muitas grosserias de mamãe, enquanto eu sempre fora mais tranquila, nunca passou por minha cabeça ir contra as suas falas e decisões mesmo não concordando com algumas delas, eu sempre gostei de evitar problemas.
Jonathan sentindo o clima pesado em nossa volta chama a atenção de Ruth para si.
— E de mim, você não estava com saudades, cunhadinha?
—Claro que eu estava seu chato — ela se afasta e se aproxima dele, que lhe envolve em um abraço apertado.
— Finalmente, pensei que não fossem chegar nunca — mamãe diz ao se aproximar tomando nossa atenção para si.
Mesmo com o passar dos anos, mamãe não esconde a mágoa que carrega por Gabriel, o meu irmão gêmeo, ter partido, sinto como se ela me culpasse por isso. Por um tempo eu me martirizei por sua partida precoce. Foram muitas as sessões no psicólogo até que eu entendesse que a culpa não era minha, que o quê houvera acontecido não passara de uma fatalidade, mas vejo que não é desta forma que ela vê as coisas.
Ao se aproximar, ela me cumprimenta brevemente com um beijo rápido no rosto, a sua indiferença não me afeta mais, eu já estou acostumada, mas eu gostaria que a nossa reação fosse diferente.
Ela se afasta, volta a sua atenção para Jonathan, a quem ela abraça carinhosamente como se ele é quem fosse o seu filho.
Eu espero ansiosamente receber tão sentimento demonstrado através de um abraço.
— Boa tarde, dona Helena.
—Oi Jonathan, boa tarde, meu querido, como está?
— Bem, e a senhora?
— Estou bem, meu filho, melhor agora que está aqui. Como foi a viagem?
—Correu tranquila — conversam descontraídos enquanto eu me sinto deslocada. Eu rio amarelo com o canto da boca sinto o gosto amargo do seu desprezo percorrer sobre os meus lábios.
—Quanta bajulação — Ruth diz, sua voz soa entediada, em seguida revira os olhos.
—Esta menina está a cada dia mais impossível — interrompo mamãe antes que elas iniciem uma discussão desnecessária.
— Onde está papai?
— Seu pai deve estar chegando, foi até a cidade comprar algumas coisas que estavam faltando para o jantar. Venham, vão guardar as malas no quarto — minha mãe não assume, mas tanto Ruth quanto eu, nós sabemos que ela tem ciúmes do nosso relacionamento com papai. Ela sempre faz questão de dizer que nós o preferimos a ela, o que é uma grande inverdade, nós os amamos da mesma maneira, mas temos que admitir que a convivência com papai sempre foi mais amistosa, diferente de mamãe.
Muitas vezes me perguntei o porquê ela se portar tão rude conosco, algumas vezes me senti culpada por saber que na minha gravidez nada fora fácil, um casal de gêmeos, meu irmão que nascera depois viera a falecer, e isso lhe acarretou uma depressão pós-parto.
Ao longo dos anos tive acompanhamento psicológico e fui entendendo todo o processo pelo qual minha mãe havia passado, e eu entendi que não tinha culpa por nada daquilo que ela havia sofrido. Talvez ainda ela me culpe por tudo o quê vivenciou não a julgo fora um processo doloroso, mas espero que um dia ela me perdoe e se dê conta de que eu também fora vítima assim como ela.
— Eu vou retirá-las do porta-malas. - Jonathan se dirige até o porta-malas enquanto comprimento meu cunhado, que além de ser um menino muito bonito, é também muito simpático.
Ajudo Jonathan com as malas, adentramos a casa que continua da mesma maneira de como eu me recordará, com algumas melhorias, é claro. Seguimos para o meu quarto, que mesmo depois de eu ter partido, papai decidiu que nada seria mudado, apenas uma cama de casal fora colocada como parte da mobília.
Após organizar as nossas coisas no meu antigo armário, tomamos um banho relaxante e descemos para nos juntarmos à Ruth e à mamãe na cozinha.
— Pai! -grito ao vê-lo adentrar pela porta da sala vestido em sua calça jeans surrada e camisa de mangas longas de estampa em xadrez. O seu rosto carrega uma expressão cansada, mesmo estando visíveis suas linhas de expressão, papai não esconde a beleza que um dia fora o motivo da insônia de muitas garotas. Eu desço as escadas correndo e vou em direção a ele, que a me ver aproximar só tem tempo de deixar as sacolas que carrega no chão ao lado do seu corpo.
—Querida, que saudades!
—Que saudades, pai — envolvo os meus braços em volta do seu pescoço, sinto o seu gostoso perfume cítrico que me trás doces recordações invadir as minhas narinas.
— Querida, quanta falta você me faz —envolve seus braços em minha cintura, me ergue fazendo com que eu tire os pés do chão.
- Você a mim, papai. - minha voz soa embargada. Meu pai foi o meu primeiro amor, ídolo, e é meu grande herói. Afastamo-nos do abraço.
— Boa noite, Sr. Johnson — Jonathan lhe oferece a mão para um cumprimento amistoso, mas papai o pega de surpresa, ignora a sua mão e lhe puxa para um abraço apertado.
— Boa noite, meu filho, como você está? — papai carinhosamente pergunta enquanto o mantém entre os seus braços, ele tem por Jonathan um sentimento de pai para filho, e sei que recíproco por parte dele.
Eu me orgulho dessa amizade que nascera entre os dois, para mim é muito importante que o meu futuro esposo tenha uma boa relação com a minha família, e fico feliz que Jonathan pense da mesma maneira, talvez porque ele tenha sido criado em um orfanato e sente a falta de um contato mais íntimo familiar, talvez mamãe sinta por ele ter sido o menino criado sem muitos recursos, não que nós tivéssemos, mas tínhamos o quê ele não tivera uma família.
— Eu lhe ajudo papai. - abaixo para pegar as sacolas, mas sou impeça por ele que intervém.
— Deixe, eu as levo querida — eu lhe sorrio em agradecimento.
(...)
Mamãe, Ruth e eu ficamos preparando o jantar entre uma breve conversa e outra enquanto papai e John foi conversar acompanhado de suas cervejas.
Eu amo estar em família, conversar descontraidamente sobre diversos assuntos, recordar de bons momentos, mas como em toda a família, sempre há desavenças, e com a minha não seria diferente, e isso é o quê me incomoda, as discussões que acontecem entre Ruth e mamãe por obterem opiniões divergentes, ou até mesmo pela maneira em que a minha irmã cortara a cebola, mas no fim tudo terminava em paz.
Entre uma conversa e outra descontraída, nós saboreamos uma deliciosa massa, preparada por mamãe que sempre fora muito talentosa na cozinha.
—Por favor, por favor, eu desejo um minuto da atenção de todos.
Jonathan chama a atenção de todos batendo com o garfo sobre a taça que carrega nas mãos.
Mas o que há com ele? Eu me pergunto.
Ele encosta delicadamente mais uma vez o garfo sobre o fino objeto que tine.
O silêncio se faz presente por alguns segundos, todos voltam a sua atenção para ele até que eu o quebre.
—O que está acontecendo, John? — pergunto um tanto confusa. Eu nunca o vira tão agitado.
—Está tudo bem, minha princesa, fique calma, eu só peço que não atrapalhe a surpresa — ele diz com um tom de voz brincalhão levando todos aos risos.
—Está bem — entro na brincadeira. Ergo as mãos na altura do peito em sinal de rendição. -Desculpe, não está mais aqui quem falou. - rimos descontraídos.
—Você é uma mulher muito compreensível, querida, obrigada — ele dá uma piscadela me provocando. -Bom primeiro eu quero dizer que está sendo maravilhoso pra eu estar na presença de todos vocês. Eu sou muito grato ao senhor e a senhora Johnson por sempre serem muito receptivos comigo e por me confiar uma de suas joias mais preciosa para ser a minha esposa. - disse com os seus olhos marejados fixos em mim, as maçãs do meu rosto aquecem, nunca soube lidar com exposições.
Gritos e assovios vindos da minha irmã seguidos do seu namorado foram ouvidos, fazendo a todos sorrir com exceção de mamãe, que ficara bastante incomodada.
—Ruth, olhe os modos, você está se comportando como um moleque. E você Alisson, deveria ensinar bons modos para a desnaturada da sua namorada — mamãe lhe repreende sobre o revirar de olhos da minha irmã, que não esconde o quanto as suas críticas lhe incomodam — Olha só, Pedro, o comportamento m*l-educado dessa garota — reclama com papai, que sempre tem a missão de apaziguar os ânimos.
—Por favor, Helena, vamos deixar que John continue com o seu discurso, poderemos resolver isso numa outra hora — diz visivelmente cansado das suas reclamações, enquanto ela bufa irritada, mamãe não sabe lidar quando contrariada.
— Obrigado, senhor Pedro — John agradece a papai e em seguida segue com o quê havia planejado.
Eu me remexo na cadeira ansiosa pelo que viria.
—Antes de continuar, primeiro eu quero fazer um convite — com movimentos elegantes deposita o copo com a sobra de sua bebida de cor âmbar em cima da mesa, ele se levanta, dá alguns passos em minha direção, em seguida se vira pra mim, oferece a sua mão para que eu a pegue.
—Amor, venha até aqui, por favor. - me convida a me juntar a ele.
Meu coração bate acelerado em ansiedade. Apaixonada como eu sou por este homem, não tenho como negar a um pedido seu, dou um generoso gole em minha bebida, não me faço de rogada, eu me levanto e caminho em sua direção sobre o assovio e gritos de minha irmã.
—Obrigada, querida — agradece quando eu já estava próxima a ele, leva minha mão entrelaçada a sua próximo aos se lábios e beija.
—Não por isso, meu bem — dou-lhe um sorriso tímido.
—Parem de enrolação, vamos, digam alguma coisa — minha irmã grita eufórica.
—Ruth, comportar-se — mamãe volta a lhe repreender.
—Mamãe, me deixe, me deixe — diz impaciente.
—Querida, vamos ouvir o quê John tem de tão importante para nós dizer — papai intervém, e ganha um beijo de Ruth que joga no ar sobre o olhar reprovador de mamãe.
—Amor, eu acho melhor você seguir com o que planejou ou tudo irá por água a baixo. - faço um pequeno sinal com a cabeça em direção a mamãe, que discute com papai e minha irmã sobre o olhar atento do meu cunhado, que tenta impedi-la de seguir com a discussão.
Pobre coitado.
—Vamos lá. - ele diz e abre um largo e lindo sorriso. -Por favor, eu gostaria da atenção de todos. - bate palma enquanto diz até que todos nos olhem um tanto confusos. —Obrigado, obrigado a todos pela compreensão — John agradece — Como eu ia dizendo... Eu quero agradecer do fundo do coração ao Sr. Pedro e a Dona Helena por me confiarem a sua primogênita, a sua joia preciosa, Gabriela para se tornar a minha esposa, mãe dos meus filhos — as suas palavras são músicas para meus ouvidos. Meu coração bate acelerado, os meus olhos estão marejados, estou emocionada.
—Ele é um menino de ouro — mamãe profere em alto e bom tom para quem quisesse ouvir.
Ela não esconde de ninguém sua admiração por ele.
—Gabriela, eu amo você com todas as minhas forças, eu não poderia escolher outra mulher para ser a mãe dos meus filhos, a mulher com quem eu vou viver até os últimos dias da minha vida. - suas palavras me afetam, não contenho sobre a emoção que me toma, lágrimas rolam sobre o meu rosto, Jonathan sabe o quanto espero por este momento, ter um filho é o que eu mais desejo, mas não antes de oficializar a nossa união.
—Eu amo você — balbucio.
Um pequeno sorriso de satisfação surge em seus lábios aquecendo o meu coração, John retira uma pequena caixa em veludo vermelha do bolso de sua calça, segura firme em sua mão, mas em seguida abre revelando o objeto.
—Gabriela Johnson, você aceita casar-se comigo? —entre abro os meus lábios em espanto já não conseguindo mais controlar as lágrimas que caem molhando o meu rosto.
—Oh, meu Deus — ouço gritos da minha mãe, assovios da minha irmã se misturando as palmas de todos.
—John, não precisava disso, eu já sou sua, sua namorada, sua noiva, eu sou sua mulher... — fungo, emocionada.
—Eu sei querida, e fico feliz por ouvir de você essas palavras, mesmo que você já tenha me demonstrado inúmeras vezes, mas eu senti a necessidade de fazer tudo como tem que ser feito. - leva uma de suas mãos ao meu rosto e acaricia — Oficializar a nossa união diante de Deus e dos seus pais por quem tenho grande respeito. - desliza o seu polegar sobre minha lágrima secando-a.
—O porquê está falando baixo? Vamos diga alguma coisa, irmã — Ruth grita.
—Eu aceito, é claro que eu aceito! — minha voz soa embargada.
—Eu te amo, meu amor —beija minha testa.
Jonathan retira uma aliança grossa com uma pequena pedra em diamante, deve ter custado uma fortuna, em seguida coloca em meu dedo anelar direito. Serviu perfeitamente. Ele conhece cada detalhe de mim. Admiro o objeto com adoração.
—Gostou?
—Amei —sorrio em satisfação.
Aproximamo-nos ainda mais e demos um selinho demorado.
—Eu te amo — dissemos em uníssono.
—Discurso, discurso, discurso... — Ruth grita animada, a todos pulmões, ela não demora a ser acompanhada por todos que ali estavam.
Eu lhe fito com os olhos cerrados em sinal de reprovação, ela sorri ainda mais me provocando. Reviro os olhos ao mesmo tempo em que deslizo a mão por sobre o meu rosto secando as lágrimas que o lavará.
—Está bem, está bem — digo por fim me dando por vencida — Vocês sabem que não sou muito boa com as palavras, eu me enrolo toda, e acabo falando demais — todos riem.
—Eu tenho que concordar — provoca minha irmã.
—Ruth tem razão — completa mamãe a gargalhadas.
—Vamos, deixem a menina em paz — papai intervém.
Estava demorando em que o seu defensor interferisse — mamãe finge uma falsa irritação.
Foram poucas às vezes em que vi descontraída, e em todas elas eu sentia o ambiente mais ameno, leve, gostaria de vê-la mais vezes assim descontraídas.
—Obrigada, papai — jogo um beijo. —Quem me conhece sabe que não me dou muito bem com discurso. Mas quero deixar registrado aqui que esse momento é um dos mais felizes da minha vida. Eu amo você, John. -disse virando-me para ele, que também estava com os olhos marejados — Eu amo você como nunca pensei que poderia amar alguém em toda minha vida.
—Eu também te amo, meu amor — me retribui o selinho estalado.
Olho a aliança que está sobre o meu dedo acompanhado de um grande sorriso de felicidade, o quê eu estou vivendo não é apenas um sonho.
Eu realmente estou prestes a subir ao altar para me casar com o homem que eu amo.
Mesmo após tanto tempo estarmos morando juntos, ainda assim ele se preocupou em realizar um dos meus sonhos, casar de véu e grinalda.
Sua atitude foi de uma delicadeza inominável.
Eu não tenho dúvidas de ter feito a escolha certa, entregando meu coração a Jonathan.
[...]
Minha noite não poderia ter sido melhor, estive rodeada da minha família que eu tanto amo e sou amada.
Após algumas horas de conversa e divertidas histórias de papai, nós seguimos cada um para os seus respectivos quartos, claro com a exceção do namorado da minha irmã, que papai e John fizeram questão de leva-lo até sua casa, enquanto nós deixávamos a cozinha em ordem.
—Amor?
—Hum.
—Obrigada.
—Por?
—Por me fazer a mulher mais feliz do mundo — rapidamente ele me envolve em seus braços, me fazendo rolar para cima dele — Ai, John — rio com o pequeno susto que me dera abafando meu grito com uma das mãos, e com a outra, lhe dou um leve tapa em seu ombro. Ele ri.
—Eu que tenho que agradecer, por ser tão maravilhosa e me aturar — rimos.
—Eu não te aturo, eu te amo — digo sincera.
Toma meu rosto entre suas mãos, fita em meus olhos e por fim diz:
—Eu também amo você — nos beijamos intensamente.
Conversamos, não sei exatamente por quanto tempo, mas fora tempo o suficiente para que fizéssemos planos de onde iríamos a nossa viagem de lua de mel, de quantos filhos teríamos, e o último, não tão menos importante, de comprar uma casa maior para que possamos abrigar confortavelmente os nossos quatros filhos.
John se levanta após beijar minha testa, pega seu notebook e senta na poltrona que fica no canto do quarto e inicia o seu trabalho. Em poucos minutos fecho os olhos, sou sucumbia por uma névoa escura e adormeço.