Ainda no rescaldo da cerimônia de união, a atmosfera da alcateia não era de simples comemoração, mas de uma expectativa que roçava o sagrado. O ar vibrava com energia ancestral, uma corrente invisível que percorria cada m****o da matilha, conectando-os em um pulso primitivo. Não aguardavam apenas a união do Alfa e da Luna, mas o instante em que a pele humana seria rasgada pelo fervor animal, revelando a verdadeira força que residia em cada um deles. Era a noite em que as máscaras sociais caíam, e a essência da alcateia se mostrava em sua forma mais pura, selvagem e indomável.
O Ancião, uma figura cujas rugas pareciam mapas de eras esquecidas, ergueu uma mão e o silêncio caiu sobre a multidão como uma mortalha pesada. Sua voz grave e reverberante ecoou, carregada da autoridade de quem testemunhou incontáveis gerações de lobos.
– "Chegou o momento de provar a união, a força e a conexão. O desafio da Corrida dos Lobos aguarda o Alfa e a Luna."
Antes mesmo de Mia e Bryan se prepararem para a corrida, um silêncio reverente caiu sobre a multidão. Todos os membros da alcateia, assim como os aliados presentes, se alinharam, como se o tempo tivesse desacelerado. Em um gesto que era ao mesmo tempo ancestral e simbólico, cada lobo se agachou levemente, inclinando a cabeça para o lado e expondo o pescoço — uma demonstração de reconhecimento e submissão ao Alfa recém-unido e à Luna.
Era um movimento simples, mas carregado de significado: os jovens, os mais velhos, os guerreiros e até os visitantes respeitosos participavam do rito. Alguns erguiam os braços para o lado, os cabelos caindo como cortinas em sinal de reverência; outros, que usavam chapéus ou adornos na cabeça, removiam-nos e inclinavam a cabeça na direção dos líderes. O gesto ecoava com a força silenciosa de gerações inteiras, transmitindo respeito, lealdade e a aceitação de que aqueles dois, Bryan e Mia, eram agora o coração e a autoridade da alcateia.
O Ancião observava com olhos atentos e orgulhosos, reconhecendo a importância daquele momento. A energia entre os lobos se intensificava, e Mia sentiu o peso e a solenidade daquele gesto ressoarem em seu corpo e em sua alma. Não era apenas uma corrida; era a confirmação de que eles não corriam apenas por si mesmos, mas pelo espírito de toda a matilha.
Um arrepio percorreu Mia, mas não era de frio. Era eletricidade pura, um formigamento que queimava sob a pele e acendia cada fibra de seu ser. O vínculo recém-selado com Bryan pulsava em seu interior, uma corrente de poder indomável que se estendia muito além da compreensão humana. Mika, sua loba interior, sussurrava promessas de velocidade, liberdade selvagem e domínio absoluto. A corrida não era apenas sobre força física; era a dança de duas almas predestinadas, a fusão de duas forças ancestrais que ecoavam desde os primeiros lobos da terra.
Eles se entreolharam, e o mundo ao redor se dissolveu em borrões. Os olhos de Bryan, agora flamejantes, refletiam a intensidade selvagem que Mia sentia pulsar em si mesma. Confiança e fome de desafio se misturavam, e Mika se fundia com cada célula de seu corpo. Bryan, sob a máscara de calma habitual, escondia um furacão de emoções. Bones, seu lobo, ansiava pela corrida, compartilhando a mesma excitação primitiva. O vínculo recém-forjado transformava sua união em força tangível, quase palpável, que pulsava no ar ao redor deles.
Sem hesitar, ambos se despiram sob os olhares atentos da alcateia — um ato de entrega e confiança absoluta. A pele humana, frágil e limitante, cedeu lugar à pelagem selvagem. Ossos estalaram, músculos se expandiram e contorceram, e a transformação foi um espetáculo visceral, glorioso e agonizante, visível em cada detalhe. Eles não eram mais apenas humanos; eram a encarnação do predador supremo, híbridos de dois mundos.
Bryan se transformou primeiro. Sua musculatura se expandiu, o corpo se alongou, e uma pelagem cinza escura e densa emergiu, reluzindo sob a luz da lua. Seus olhos ardiam em vermelho intenso, irradiando autoridade inquestionável de um Alfa. Bones, seu lobo interior, era força pura — uma presença capaz de subjugar apenas com um rosnado. Ao seu lado, Mia sentiu sua própria onda de metamorfose. Sua forma humana se contorceu e se remodelou em uma criatura de pelagem prateada com nuances de roxo, uma coloração rara e majestosa, que a destacava entre todos os lobos. Seus olhos, profundos como o oceano, brilhavam com energia ancestral. Mika e ela se tornaram uma só entidade, uma força de poder, graça e singularidade incomparáveis.
O uivo gutural de Bryan sacudiu a terra, um som tão potente que fez as folhas das árvores tremerem e ecoar pela floresta. Com isso, dispararam pela pista improvisada, transformando o cenário solene da cerimônia em um campo selvagem, vibrante e desafiante. A floresta à beira-mar virou um túnel de árvores densas, galhos raspando suas pelagens, folhas farfalhando sob o ritmo frenético de suas patas. Cada passo era uma sinfonia de força, velocidade e precisão, como se dançassem na fronteira entre humano e lobo.
A sensação de liberdade era vertiginosa. A brisa salgada do mar misturava-se ao cheiro terroso da floresta, preenchendo os pulmões de Mia com energia pura. Ela sentiu cada músculo se alongar, cada artéria pulsar com adrenalina. Movia-se com graça letal, ultrapassando Bryan não pela força, mas pela fluidez precisa de seus movimentos, como uma correnteza que contorna pedras sem esforço. Bryan liderava com potência absoluta, sua presença intimidante marcando o ritmo da corrida.
A trajetória os levou até a lendária Pedra da Lua, um monólito ancestral que pulsava com magia sob a luz prateada da lua. Eles contornaram-na em perfeita sincronia, mantendo a velocidade e a precisão, antes de iniciar o percurso de volta. A adrenalina atingia o ápice. O som dos uivos e gritos de apoio da alcateia ecoava em ondas, cada incentivo amplificando o vínculo e a energia que transbordava deles.
A linha de chegada se aproximava, e cada passo se tornava mais frenético. Mia e Bryan corriam lado a lado, suas respirações sincronizadas, seus corações e almas fundidos. Por um instante, quase tropeçaram em raízes traiçoeiras, mas um impulso instintivo salvou ambos, tornando o momento ainda mais intenso. Não era apenas uma corrida; era uma prova de união, poder e confiança absoluta. Cada passo confirmava que eram predestinados, destinados a liderar e dominar como Alfa e Luna.
Quando cruzaram a linha de chegada, quase simultaneamente, exaustos, mas vitoriosos, os uivos da alcateia explodiram pela floresta, reverberando como trovões. A força que emanava deles era inegável. Não eram apenas um casal; eram a encarnação da liderança, do poder e da união que a alcateia necessitava.
Ao retornarem à cerimônia, a multidão os recebeu com aplausos e uivos, reconhecendo a vitória na corrida e a autoridade recém-declarada de Bryan e Mia. Eles estavam prontos para governar, não apenas como parceiros, mas como a força imbatível da alcateia. A corrida não marcava apenas o fim de um rito, mas o início de um novo capítulo — um capítulo de desafios, conquistas, dor e amor que se aprofundava a cada dia, mostrando que a união entre Alfa e Luna não era apenas predestinada, mas inevitável.