Em seu lugar, estou vendo um homem com cara de pedra que nunca tinha visto antes. Tem a cabeça raspada e várias cicatrizes ao longo da mandíbula. Os seus olhos são frios como mármore.
A esperança desaparece tão rápido como chegou.
— Quem é você? Perguntou alarmada.
— O seu novo guarda, senhorita. Ele responde. — O seu pai me enviou para acordá-la. Tem que se levantar e arrumar as suas coisas.
Eu continuo assustada. — Eu tenho que arrumar as minhas coisas? Por quê?
A expressão do homem não muda. — o seu pai tem uma reunião em Los Angeles. Você o acompanhará.
O meu cenho se aprofunda e o meu coração bate mais rápido. — O que há em Los Angeles?
Mas o homem se afasta de mim. Não responde. Ele já está com uma das minhas malas aberta. Uma mala Louis Vuitton que só eu usei uma vez:
Quando César e eu voamos para Paris, quando fizemos a foto que estava olhando ontem à noite. Só de ver me dói o coração.
O meu irmão jurou que me protegeria do papai.
Mas mentiu.
Morreu e me deixou aqui sozinha.
Ninguém pode me proteger agora.
GEAN ARTE
EM UMA COBERTURA EM LOS ANGELES, CALIFÓRNIA
Malditos pesadelos
Não sonhei com ela em meses. E agora, do nada, vem aquela maldito pesadelo de sempre.
Marina com o seu vestido branco. Vindo até mim de forma silenciosa. Até que ela começa a gritar e desaparece no silêncio.
E no sangue.
Tanto sangue.
Vermelho e espesso, manchando o branco do seu vestido...
Tiro as pernas da cama e deixo cair a cabeça entre as minhas mãos, tentando sair do turbilhão que parece que vai me consumir.
Quando isso não funciona, eu faço o que sempre faço: bebo uísque.
Guardo uma garrafa ao lado da minha cama para momentos como este. Tomo um gole direto da garrafa e sinto o ardor que baixa pela minha garganta.
— Sukin syn. Murmuro grato em russo. — Precisava disso, por*ra.
As imagens desaparecem de uma vez.
Estou bem de novo.
Até que uma mão coça as minhas costas nuas.
Eu olho para trás, e agarro o braço e o coloco para trás, pronto para quebrar o cotovelo. É um reflexo automático de anos de treinamento: quebrar primeiro, perguntar depois.
Ouço o grito de pânico da mulher antes de ver o seu rosto. Os seus olhos azuis devolvem-me o olhar, muito abertos, com terror e confusão.
Ela está nua e confusa nos meus lençóis. O seu curto cabelo loiro já não tem o brilho que me chamou a atenção na noite de ontem.
— Você está me machucando. Ela geme.
Eu olho para baixo e me dou conta de que eu ainda estou segurando o seu braço.
Suspirando, eu solto. Ela deixa escapar um pequeno suspiro de dor antes de escapar aterrorizada para o canto oposto da cama.
Dou-lhe as costas e fico de pé. — Se veste e cai fora.
Tento lembrar o que fizemos ontem à noite, mas só consigo me lembrar de alguns vagos reflexos de cinza. Lembro-me de que ela gritou tão forte que deu dor de cabeça. No final, fiz ela calar metendo o meu pa*u na sua boca.
Mas mesmo assim, isso me deixou insatisfeito.
Por outra parte, há muito tempo que nenhuma mulher me faz sentir satisfeito.
Eu fico esperando ela sair. Mas quando não ouço nenhum movimento, olho para ela de novo, que está parada olhando para mim.
— Tenho que pagar você, ou alguma coisa assim?
— Você me pagar? Ela soa confusa. — Por quê?
Os seus olhos azuis se abrem, quando ela se dá conta do que estou perguntando. O medo se desvanece com a indignação.
— Eu não sou uma m*aldita pros*tituta, idi*ota! Ela cospe com raiva.
Eu dou de ombros. — Então o que você está esperando?
Uma cor furioso inunda o seu rosto quando ela salta da cama e começa a tropeçar em busca de suas roupas, bufando de raiva. Tem que passar por cima de várias garrafas vazias de uísque para chegar ao vestido prateado com lantejoulas que está no chão.
Ela se inclina para pegar o seu vestido. Agora eu me lembro por que tinha escolhido ela, entre a multidão, na noite de ontem: as m***s são obra de um cirurgião plástico muito talentoso.
Ela colocou os seus sapatos, pegou a sua bolsa, e se virou para mim.
Os seus olhos injetados estão vermelhos alinhados com rímel e delineador escorridos. — Você se lembra sequer do meu nome?
Eu rio muito. — O que você acha, princesa?
Ela franze o cenho por um momento, muito irritada para falar, antes de passar ao meu lado e sair do meu quarto.
Eu fico parado, com a cabeça latejando pela bebida de ontem à noite, até que ouviu a porta principal se fecha de uma vez só.
Que se vá para a por*ra.
Quando o que parece não ser uma prostituta se foi, dirijo-me ao banheiro para verificar o m*al que me foi feito na noite anterior.
Eu fiz uma mer*da. Provavelmente não deveria ter ido tão forte com as drogas e a bebida na noite de ontem. Foi uma estupidez fazer isso, um dia antes de uma grande reunião.
O meu reflexo me devolve o olhar. Por costume, estiro a mão e toco a cicatriz ao lado do meu olho esquerdo. Meu corpo ficou tenso e obrigo a minha mão a baixar do meu lado.
Hoje não. Não irei lá hoje.
O sonho com Marisa despertou velhas lembranças, que eu venho vários anos sufocando. Mas, basta o menor lembrete para fazê-los reviver.
No entanto, hoje não tenho tempo para distrações. O meu pai estará me observando na reunião. Está me observando de perto durante os últimos meses. Pondo-me à prova.
Esta noite será a culminação de tudo.
Entro no chuveiro e abro a torneira. A água está tão fria, mas isso é o que procuro: um pouco de dor para manter a minha mente aguda, presente, consciente.
Mais importante ainda, mantém as lembranças longe.
Quando tive o suficiente, me seco rapidamente e eu me coloquei um par de calças escuras e uma camiseta casual sem manga longa, tipo Henley.
O meu pai prefere que vá de terno a essas reuniões, mas eu evito deliberadamente.
Fo*da-se o que quer de mim.
Ninguém me diz o que fazer, nem sequer o meu pai. Embora ele seja o Dom da Bratva.
Eu subo as mangas, mostrando as tatuagens que rodeiam os meus braços. O meu Rolex marca oito e cinquenta e seis da tarde, eu dormi o dia todo, o que significa que o meu carro está na frente do edifício, há exatamente quatro minutos.
O meu pai nunca chega tarde.
Eu vou para o meu elevador pessoal. As portas do elevador se abrem no hall principal para revelar um caminho em linha reta para a
entrada de vidro do edifício.
— Bom dia. Cumprimento o porteiro, justo quando vejo o Range Rover de primeira linha, do meu pai parado em frente ao edifício.
Não se pode negar que o SUV de luxo é um carro elegante. Até mesmo a primeira vista, é realmente assustador. E isso sem saber sobre os pneus de alto desempenho, o pára-brisas de vidro polarizado a prova de balas ou as armas de fogo automáticas de alta potência escondidas em vários compartimentos do veículo.
Tudo isso foi desenvolvido para ele. O meu pai não gosta de viajar sem proteção.
No seu caso, está mais do que justificado. Quando se tem sobrevivido a tantas tentativas de assassinato, como ele, investir em uma proteção adequada é um bom negócio.
Vejo o meu próprio reflexo na janela colorida antes de abrir a porta traseira e entrar no carro.
O meu pai e o meu tio me esperam dentro, ambos vestidos com roupas elegantes.
Quando eram jovens, eles pareciam ser gêmeos. Tinham a mesma mandíbula quadrada, as mesmas maçãs do rosto afundada.
As mesmas sobrancelhas cheias. O mesmo gosto para cerveja. E a mesma intolerância e falta de respeito.
Mas à medida que envelheceram, começaram a se parecer cada vez menos. Meu pai, Stanislav, foi desenvolvendo uma leve corcunda, que o faz olhar o mundo com os olhos entre cerrados.
Há cinco anos, o seu brilhante cabelo preto caiu por completo, como consequência do tratamento contra o câncer. Quando voltou a crescer, cresceu branco. No entanto, nada disso faz dele menos assustador. Continua a ser o Dom da Bratva. E ainda leva esse título como uma coroa de ouro.
Com o seu cabelo encaracolado e o seu sorriso fácil, o tio Budimir é menos imponente.
Mas há uma frieza nele, que é profunda. É c***l em uma forma que o meu pai não é. O tipo de homem que é c***l só por esporte,
enquanto o meu pai é c***l, apenas por necessidade.
— Você está com uma cara de mer*da. Diz o meu tio com uma hilariante risada.
Suspiro enquanto eu deslizo no meu lugar. — É bom ver você também, tio.
— Budimir tem razão. E que roupas são essas? O meu pai observa, com os lábios bordado com desagrado. Trinta anos nos Estados Unidos, mas seu sotaque russo continua a ser grosso e bem conservado.
— Não quero me sentir sufocado por uma gravata toda a noite.
— Não se trata do que você quer! Responde Budimir com frieza. O seu sotaque é leve. Só persiste o mais leve indício da sua pátria-mãe. — O seu pai prefere que se vista como ele, assumindo o seu papel.
Aperto os dentes. — E que papel é esse, cara?
— Você é o herdeiro da Bratva!
— Já não és uma criança, Arte. Interrompe Stanislav, com um tom impaciente.
Budimir fecha a boca imediatamente. Eu vi isso acontecer tantas vezes que já não me chama a atenção. Stanislav é o irmão mais velho. É o Don. Todos calam a boca quando ele fala.
Mas ultimamente eu tenho começado a notar pequenas coisas do meu tio. Principalmente, a forma em que a sua boca se volta para baixo nos cantos cada vez que o meu pai, o domina. Como se estivesse se roendo por dentro.
— Que simpático da tua parte que tenha percebido pai. Eu respondo sarcasticamente, tentando, sem conseguir, que a amargura não apareça no meu tom. — Tendo em conta que, desde o mês passado tenho trinta anos.
Os olhos de Stanislav se estreitam em direção a mim. — É preciso mais do que a idade para ser um homem, meu filho.
Ninguém diz uma palavra durante o resto da viagem. Paramos na entrada de trás Da Sereia, o clube noturno de propriedade da Bratva onde se celebra a reunião desta noite.
— Quem vira para está reunião? Pergunto.
Budimir responde primeiro. — Don Maggadino e os seus filhos. g**o. Brooklier e Dragna.
— O Dragna? Repito, surpreso, sentando um pouco mais reto e girando para o meu pai. — Você realmente convidou ele?
— Esta é uma reunião para todos os cartéis, que respondem diante de mim. Diz Stanislav, olhando pela janela. — Dragna responde perante mim. Portanto, estará na reunião.
— Faz? Então, por que não se falou do carregamento de drogas do cartel de António que tentou importar sem a nossa aprovação? Eu questiono.
Uma veia na sua testa, salta um pouco, mas ele ainda olhando pela janela. — Eu já cuidei disso.
Budimir faz-me um gesto para que eu fique quieto. O ignoro. Eu tenho pouca paciência hoje.
— Uma carga de quatro milhões de dólares! Você vai recompensar essa infidelidade, fazendo ele presente numa reunião? Quando o mínimo, deveria ser excluír ele do círculo interno por um tempo. Para ver se isso melhora a sua atitude.
O meu pai suspira. — Isso humilharia e o ofenderia.
— Esse é o m*aldito ponto. Eu solto um grunido.
Por fim, Stanislav volta o seu olhar para mim, mas sua expressão é fria.
— Ser o Don não consiste apenas em lançar o seu peso, e ver como as formigas se dispersam ao vento, Arte. Você precisa de diplomacia. Inteligência. A força bruta nunca é suficiente para manter o poder.
— Eu ouvi variações deste discurso antes.
— Como sempre, você precisa de tudo o que eu tenho para não rolar com os olhos em branco.