quatro

1627 Palavras
Se mantendo em silêncio,a jovem aspirante deu alguns passos tomando a frente da cientista,mas parou ao sentir um breve aperto em seu braço. E em um reflexo retardado,levou lentamente o seu olhar de encontro ao de Brenda, os quais lhe transmitiam enorme preocupação. Não com a decisão que Claire poderia vir a tomar,mas sim que tudo não passasse de uma manipulação sádica da parte de Gabriela. Não era difícil ver a ligação que havia entre a cientista e a jovem aspirante,o que de certa forma se mostrava muito estranho tendo em conta que as duas se conheciam há menos de doze horas completas. Mas o que nem mesmo elas entendiam, era que nada do que estava acontecendo ali se resumia apenas em uma coincidência. Existia algo a mais, algo que teriam de se esforçar para descobrirem juntas. – Depois de tudo o que eu pude confirmar com as minhas próprias pesquisas e observar com os meus próprios olhos, Srta Mendes. Duvido que possa me convencer de algo que não seja encerrar de vez com esse projeto – A jovem de olhos verdes foi firme ao finalmente dar a sua resposta, mostrando que tinha uma opinião formada, e com certeza não iria mudá-la por nada que pudesse vir da mulher a sua frente. Ficaria ao lado da jovem cientista independente do que seria obrigada a enfrentar dali em diante. E sendo a decisão tomada, prosseguiu – Não posso fechar os olhos para a catástrofe que vai acontecer quando ele estiver com a fase final concluída. O certo é parar tudo por aqui, e destruí-lo enquanto ainda temos tempo e uma chance única. – Você ainda não entendeu, Claire? Essa catástrofe é tudo o que ela quer – Teve sua atenção roubada pelo suave tom de voz de Brenda, que ainda mantinha o toque sutil sobre o seu braço. Gabriela por sua vez, se limitou a esboçar o seu melhor sorriso, deixando claro que tudo o que foi dito pela jovem cientista era a mais pura e completa verdade. Seus planos eram grandes, e aos olhos de muitos, absurdos. Mas sendo ela a dona de praticamente tudo ali,não se atreviam a ir contra a mesma. Tinham medo do que receberiam como um possível castigo ou repreensão. Entendiam quais poderiam ser as consequências ao se meterem com alguém de uma família tão poderosa quanto a família Mendes. Sendo assim, a preferência de muitos era simplesmente seguir as ordens que eram dadas, enquanto outros optavam por pedir a demissão e se desligar por completo de tudo ligado a tal empresa, se restringindo até mesmo a apresentar currículos em filiais da mesma. – Essa com certeza não era a resposta pela qual eu estava ansiosamente esperando, Claire – A mulher de pose intimidadora e olhar friamente calculista, comentou nunca deixando de a fitar intensamente, ou deixando seu sorriso simplesmente desaparecer, o qual sempre foi a sua marca registrada, a sua arma secreta para conseguir quase tudo o que queria – Mas ainda espero uma confirmação. Sendo assim, você possui total certeza e consciência do que está me dizendo? Vai mesmo arriscar um futuro brilhante aqui dentro logo no seu primeiro dia por causa de alguém que acabou de conhecer? – Como já disse antes, não estou me arriscando por nada. Sei o que vi, e o grande estrago que poderá ser causado se esse projeto não for parado o quanto antes – Claire voltou a afirmar, e não soube bem como reagir ao sentir um suave aperto durante, o ainda presente, toque da jovem cientista em seu braço. Porém, se manteve firme ao continuar com seu diálogo de frente a chefe – Não sei bem o que realmente se passa em sua mente, mas estou certa da decisão que tomei e não pretendo voltar atrás até conseguir finalizar o que foi planejado aqui, porque infelizmente, deixar que a segurança seja substituída dessa forma não é o certo a se fazer. Principalmente sabendo que todos ficaram sob o controle de um único programa de computador, uma única pessoa. – Confesso estar surpresa, e um pouco perplexa com tudo até agora, mas garanto que o lançamento ao vivo não sofrerá alterações até o momento, em partes porque vocês não irão sair daqui. Sendo assim, não há mais ninguém que queira fazer o papel de detetive e vir me enfrentar pouco depois – Ainda exibindo o melhor de seus sorrisos, Gabriela simplesmente engatilhou a arma em sua mão e a ergueu na direção de Claire. Ato o qual, fez a morena de olhos de avelã agir no reflexo ao trocar de lugar com a jovem aspirante em questão de segundos. Ela não sabia sequer explicar o motivo para que todo o seu corpo tenha agido instantaneamente, simplesmente aconteceu, se viu na obrigação de fazer algo, sentiu que era o seu dever, seu propósito perante a drástica situação. Então simplesmente o fez. Tudo o que estava acontecendo desde o primeiro minuto do dia, parecia estar programado para não sofrer mudanças, para ser exatamente como estava seguindo até o momento. Porém, Claire sabia que era bem mais do que isso, sentiu que tudo aquilo tinha um propósito meio estranho. E sem dúvidas, a jovem cientista ter lhe lançado um rápido olhar antes de a deixar sob posse, do que parecia ser um pequeno controle sensorial, só fez essa sensação de que tudo era muito familiar, simplesmente aumentar ainda mais. Com o pequeno aparelho sob o seu controle, mesmo que seu instinto a mandasse agir, ela se conteve. Sendo uma pessoa observadora e até mesmo calculista, se limitou ao silêncio pois não poderia dizer nada, ao menos não no momento. Possuía plena consciência de que qualquer comentário desnecessário poderia ser o seu último, e talvez ela não estivesse errada quanto a isso. – Tem algo me deixando muito confusa, e eu não gosto de estar em tal posição – Gabriela fez o breve comentário sem deixar de olhar a cena a sua frente. Para ela, as duas mulheres nem mesmo se conheciam, não faziam sequer ideia da existência uma da outra. Então porque cada mísera ação ou troca de olhares, dava a entender completamente o oposto do que todos ali presentes na sala, tinham plena certeza? – Qual das duas vai me dizer o porquê de cada ação feita até aqui, dar a entender muito mais do que simplesmente é? – Revezou seu olhar de uma a outra algumas vezes diante do silêncio que recebeu, e a mesma não era uma grande fã do silêncio. Mas também sabia ser paciente quando o momento pedia, então escolheu não agir premeditadamente – Poderia ser você mesma Brenda, já que tem a língua mais afiada do que muitos por aqui. – Esse seu argumento acaba não tendo muito valor quando meus assuntos sempre giraram em torno do trabalho dentro desse prédio, Gabriela. Não tinha motivos para falar mais ou menos, sempre foi o necessário –sorriu orgulhosa de si mesma, e viu a dúvida nascer no olhar da chefe. Ela poderia estar repensando sua ação futura? – E quanto a sua pergunta, não sabemos como definir uma resposta. Apenas é o que está vendo com os seus próprios olhos, nada mais além disso – diante de tal comentário, Gabriela apenas assentiu antes de se pronunciar. Não se importou com nada mais. – Que se dane, não posso correr riscos – foi tudo o que saiu por entre seus lábios antes de efetuar um único disparo com grande precisão, acertando o centro do peito de Brenda, que rapidamente caiu para trás sendo amparada pelos braços de Claire, a qual se pôs de joelhos com a mesma se apoiando em seu colo enquanto mantinha a mão sobre o recente ferimento – Sabemos como o corpo humano funciona, Dra Ernandez. Está claro que o disparo executado não lhe mataria se tivesse a oportunidade de ser socorrida, algo que se encontra fora de qualquer cogitação no momento. Sendo assim, a perda de sangue junto a possível hemorragia que se fará presente em pouco tempo, irão cuidar para que tenha uma morte lenta e dolorosa – s mulher sorriu como se não tivesse acabado de cometer um assassinato, como se tudo o que aconteceu fosse a coisa mais normal do seu dia-a-dia – E quanto a você, Claire. Eu gostaria de poder agir de uma forma diferente, que tivesse aceitado a minha proposta e deixado essa besteira de lado. Porém, você se mostrou uma jovem decidida, alguém com convicções próprias, as quais não podem ser mudadas, já que são elas a moldar uma pessoa – comentou em lamento – Eu realmente preferiria não ter que fazer isso, mas infelizmente você não me deu escolhas. Não posso deixar pontas soltas, e te manter aqui não se encontra dentro das opções desejáveis – Dito isso, voltou a erguer sua arma mais uma vez na direção de Claire. Agora, não tendo mais um obstáculo à sua frente. E como resposta para tal ato, recebeu apenas o olhar repleto de tristeza e tomado pelas lágrimas da jovem a frente dos seus olhos, que ainda se mantinha em silêncio. A qual teve sua atenção tomada pela brilhante cientista em seus braços, então deixou de encarar a mulher armada a sua frente. – Desculpe-me por isso – Pediu com a voz quase inaudível, a culpa doendo mais do que a bala que acabara de receber, e a negação vinda da jovem não estava ajudando. Porém, ela possuía um ótimo meio para se redimir. Foram horas de trabalho, noites de sono perdidas, mas havia valido a pena. Então apenas fez seu pedido – Não deixe o disparo ser efetuado, aperte o botão antes disso – Claire não soube dizer se havia realmente compreendido algo, mas se limitou a assentir e executar tal pedido.
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