Acordando com o estrondoso barulho sonoro de seu despertador, Claire se limitou a sair da cama e seguir até seu banheiro, onde não perdeu tempo para desfrutar de um bom banho, afinal, havia sido realocada, era o seu primeiro dia na nova área de trabalho, mas nada poderia ser tão simples, não é?
– Tchau mãe! Já estou de saída – Gritou em despedida ao pegar caminho até a garagem indo em busca do seu carro, mas obtendo a plena certeza de que já havia dito tal frase em algum momento anterior. Porém, isso não parecia ser algo assim tão importante, ao menos não mais importante do que manter a boa impressão e chegar dentro do horário marcado.
Apesar de tentar ignorar ao máximo todos os acontecimentos ao seu redor, não estava sendo nada fácil para Claire. Não quando tudo à sua volta parecia estar acontecendo de forma igualitária a um replay, como se tudo até o momento se resumisse a flashes passados, como simples lembranças recentes. Mas o que se deveria realmente pensar nessa situação? Poderia tudo não passar de apenas uma estranha coincidência?
As respostas não pareciam estar ao alcance da jovem aspirante, que se limitou a respirar fundo e adentrar o prédio o quanto antes, fazendo o possível para tentar não pensar em nada do que viu ou ouviu até o instante em si.
– Bom dia, Raquel? – Sendo algo de seu costume, cedeu logo a saudação para a mulher responsável por todos os que entravam ou saíam de dentro do prédio. E mais uma vez se sentiu como se aquele dia já tivesse sido vivido de alguma forma, porém, seguiu com seu objetivo principal – Sabe me dizer se o diretor já chegou? Estou precisando tirar uma dúvida importante.
– Ele não vem hoje,mandou a filha no lugar para não haver problemas – A resposta obtida não apenas foi ouvida com o máximo de atenção, mas também acabou sendo acompanhada nas mínimas letras pelo seu subconsciente antes mesmo da pronúncia de Raquel. Claire poderia não estar disposta a admitir, mas ali viria toda uma constatação para o que vinha lhe atormentando desde o momento em que deixou sua cama – Pode falar com ela, o diretor mandou deixar todos os assuntos em geral sob a supervisão dela. Imagino que sua dúvida deva se encaixar – Assim como na fala anterior, novamente sua mente materializou todas as palavras com grande antecedência, mostrando que talvez, ela não estivesse ficando louca, apenas sofrendo com um pequeno distúrbio de realidade, o qual os médicos julgavam ser algo baseado no elevado QI, onde a pessoa envolvida projetava tudo ao seu redor com base nas mínimas probabilidades, se permitindo saber até mesmo o momento exato em que alguém fosse cometer um espirro. Parecia ser algo sádico, mas era a única coisa que se passava pela sua mente.
– Está na sala dele? – A questão era óbvia, e já tendo noção de qual seria a resposta obtida, não estranhou o aceno positivo vindo da parte da mulher a sua frente – Obrigada, e tenha um bom trabalho – Agradeceu de forma simples, mas acrescentando algumas palavras a mais àquelas que se passaram rapidamente pelo seu sistema sensorial. Se sentia na obrigação de fazer isso, de seguir um ponto que sua mente não estivesse prevendo. Precisa tentar algo para sentir a normalidade daquele dia em si. E com esses pensamentos materializados em sua mente, diferente do que parecia ser o programado, não seguiu para a sala da chefe, mas sim diretamente para a ala 17 se colocando frente ao setor 3.
– Não é permitida a entrada de pessoas não autorizadas – Da forma que sua idealização acabou por mostrar, havia sido barrada por alguém extremamente rude, que mesmo não conseguindo se lembrar, possuía a certeza de conhecer o nome. Porém, não se importou muito com isso, havia mais o que fazer ali, e tê–lo obstruindo sua passagem não ajudaria em nada.
– Eu com certeza não estou tentando fazer uso da grosseria, mas conheço as regras e não estaria aqui se não tivesse autorização – Como feito no corredor principal ao adentrar o prédio, Claire buscava a todo custo não rondar pelo mesmo trajeto que parecia ser tão familiar. Por esse motivo, se mantinha escolhendo a dedo as palavras certas para cada diálogo até o momento.
– Eu conheço todos os funcionários que trabalham aqui há mais de seis meses,o que deixa claro que você é mais uma em meio a tantos novatos. Então não venha tirar uma com a minha cara se quiser continuar aqui – Até mesmo a grosseria em seu tom era notável para a jovem aspirante, seu ar de superioridade não passaria batido por motivo algum.
Para Claire, todas as palavras usadas já eram conhecidas e esperadas, e mesmo assim, não se sentia muito bem em engolir tudo para si sem nem mesmo tentar responder à altura. Possuía plena consciência de que poderia ser expulsa no instante seguinte em que mostrasse todos os argumentos àquele que se julgava como o dono de tudo. Porém, ainda havia algo de suma importância que gritava entre os seus neurônios, algo que não a permitiu agir imediatamente. A espera por alguém que se apresentaria em dez segundos, no máximo. O que não causou desconforto algum a Claire, diferente de tudo até o momento.
– O que pensa que está fazendo Damon? Estão precisando de você na sala de pesquisa – Não deixando que seu argumento fosse criado contra a sua vontade, Claire se sentiu maravilhosamente bem com o som da voz que ouviu, e não escondeu o sorriso ao bater os olhos na pessoa por trás de tal trilha sonora, que lhe cedendo uma breve análise, jogou a questão já esperada para o homem ao seu lado – Quem é ela, e o que está fazendo aqui? – Sendo direta, Claire não pôde deixar de notar o quão simples e contraditória sua pergunta foi jogada ao vento. Algo que não se lembrava de ter notado anteriormente, então sorriu para o momento.
– Não é ninguém,apenas uma novata deslocada que não sabe onde está – Pela primeira vez desde o momento em que bateu os olhos na morena de olhos verdes a sua frente, Damon exibiu um breve e curto sorriso, o que também saiu um pouco diferente do que se passava em suas possíveis memórias, e mesmo parecendo ser algo normal, Claire não se sentia dessa forma. Estava vivendo o inevitável dentro de um momento que se mostrava ser totalmente previsível por si mesmo.
– Ao menos se deu ao trabalho de perguntar? – Ironizou de maneira simples, recebendo imediatamente a resposta que buscava diante do silêncio recebido, então se prontificou a colocar um fim ao erro cometido pelo colega de trabalho, dedicando sua máxima atenção sobre a intrigante jovem aspirante a sua frente. Mantendo apenas para si o sentimento de conhecimento, sabendo que não deveria expor algo tão estranho e confuso em meio ao assunto – Posso saber o seu nome, e o que deseja estando nesta área do Instituto?
– Claire.. Claire Novak, e fui designada para fazer parte não sei do que,nessa área em particular – Sim, ela sabia do que se tratava, sua mente gritava isso. Mas no fim, ela era apenas uma novata em seu primeiro dia naquela ala em questão. Dessa forma, se limitou a responder simples, mantendo no rosto um discreto sorriso. E mesmo intrigada com toda a situação, por algum motivo totalmente diferente ao seu, a moça à sua frente possuía a sensação de que já havia presenciado aquele momento antes. No entanto, uma vez mais escolheu o silêncio em relação a toda essa confusão dentro de si, se limitando apenas ao trabalho que deveria fazer.
– O que está esperando para poder fazer a checagem da lista, Damon? Uma ordem direta do chefe? – A autoridade e a ironia presentes em seu tom, agradou incondicionalmente a jovem aspirante, pois ela não esperava por nada menos diante as circunstâncias, e claro, ainda havia muito o que acontecer dali em diante. E tendo uma pequena noção do que se tratava, Claire estava disposta a buscar alternativas para mudar aquele final – Pensei que esse fosse o seu trabalho – Diante seu breve ultimato, assim como a jovem de olhos verdes se lembrava, Damon se certificou de que a mesma realmente se encontrava junto aos três novos membros de sua equipe principal, e não escondendo sua insatisfação com o momento, se limitou a deixá–la sob os cuidados de sua parceira, seguindo assim, para onde precisavam de sua presença.
Entendendo ser aquele o início de um longo diálogo, a jovem aspirante precisava buscar meios para que de uma forma bem discreta, as ações a seguir não caminhassem pelos mesmos passos que seus pensamentos insistiam em lhe mostrar.