Capítulo 6 MILENA NARRANDO Eu não pensei. Eu não respirei. Eu não existi direito. Eu entrei. O portão bateu atrás de mim e eu atravessei a sala num fôlego só, quase tropeçando no tapete que sempre escorrega. A TV tava ligada num volume mínimo, passando um programa que ninguém assiste de verdade, só deixa lá pra fingir companhia. O ventilador velho fazia aquele barulho de rolamento morrendo: tic… tic… tic. E no sofá, do mesmo jeito que a Dona Neide tinha descrito no telefone, tava meu pai. Do lado, uma garrafinha d’água aberta e, em cima da mesinha, um saleiro — jeito de pobre de tentar “subir pressão” no improviso. Pálido. Suado. Os lábios meio roxos, o peito subindo num ritmo que não era o dele. — Pai! — minha voz saiu mais alta do que eu queria, mais desesperada do que eu conse

