Anna A noite caiu pesada sobre a mansão como um manto que não permite ar. A chuva cessara há pouco; as ruas brilhavam com reflexos das luzes e eu sentia nos poros a umidade lenta que traz lembranças de todo o dia: a vigilância, os sussurros, os olhares que pesam como sentença. Sentei-me junto à janela do quarto e observei o morro respirar, cada luz uma história, cada sombra um segredo. Tentei me concentrar num livro, em qualquer página, mas as palavras escorregavam. Ele pisou na casa sem aviso — o som de passos dele é, por si só, um aviso. Mesmo esperando, não se acostuma: a presença de Kadu entra como comando e silêncio ao mesmo tempo. Ele passou a mão no próprio ombro, ainda sentindo o calor da batalha da tarde. Eu vi a ferida no ombro dele, o curativo improvisado; vi também a linha es

