Kadu A madrugada no morro tinha um som próprio — mistura de tiros distantes, vozes roucas e o estalar dos passos apressados dos meus homens. O cheiro de pólvora ainda impregnava o ar quando bati a porta da sala de reunião. Os olhares se voltaram pra mim, duros, pesados, cheios de dúvida. Eles sabiam o que eu representava. Mas naquela noite, pela primeira vez, percebi que também me temiam de outro jeito. — O morro tá cochichando, Kadu — disse Jefinho, o mais velho do grupo, com o cigarro pendendo da boca. — Dizem que tu tá perdendo o foco. Que tá deixando mulher mandar no teu sangue. Respirei fundo. O cigarro dele tremia, mesmo que ele tentasse disfarçar. — Repete isso. — Minha voz saiu baixa, calma. Calma demais. — Eu só tô dizendo o que tão falando. — Ele ergueu as mãos, defensivo. —

