Anna
O morro fala — e fala alto. As vielas são como veias abertas, carregando boatos, veneno e verdades distorcidas. Eu aprendi isso na marra. Bastou eu descer uma vez com uma das funcionárias da mansão para sentir os olhares me cortando como lâminas.
— É ela — murmuraram. — A mulher do Kadu.
Alguns sussurravam com respeito, outros com desprezo. “Mais uma jogada do Rei.” “Dizem que é bonita, mas burra.” “Tá com ele por interesse.” “Foi ele que tirou ela da casa dos pais, cê não sabe?”
As palavras me seguiam, ecoando entre os becos. Eu caminhava com a cabeça erguida, mas por dentro, algo se desfazia em silêncio. Cada frase parecia me empurrar de volta pra prisão invisível que eu tentava negar.
Naquela tarde, o sol batia forte nas lajes e o cheiro de comida misturava-se ao da pólvora ve
