De volta ao meu quarto, olho para os meus cachorros, que estão dormindo. Depois olho para o relógio. São dez e meia da noite e eu não estou cansada. Decidindo sair, vou até o meu armário e pego um vestido preto sem mangas e recortes laterais que vai até a metade da coxa e botas de salto alto preto até a coxa, com quatro polegadas de altura. Uma vez vestida, solto meu cabelo e o balanço, passo delineador preto nos olhos, rímel e gloss labial. Olho para mim mesma no espelho, o vestido se ajusta ao meu corpo como uma segunda pele. Estou bonita. Pego meu telefone com a minha identidade e cartão de crédito, saio do meu quarto e desço as escadas, onde vejo o Dalton.
— Senhorita Elena, eu já troquei o código como você pediu e tenho o tablet aqui — Ele diz, fazendo um gesto com a mão para a mesa.
— Coloque no meu quarto, por favor. Eu estou saindo, então não espere acordado — Eu digo.
— Você quer que eu te leve? — Ele pergunta. Eu tenho alguns carros, mas como vou para a boate, não vou dirigir.
— Não, está tudo bem. Vou chamar um Uber. Descanse — Eu digo e saio pela porta.
Depois de pegar um Uber e dizer ao motorista para onde eu queria ir, ele me levou a uma boate de alto padrão. Agradeci e paguei, então, saí e me dirigi ao segurança. Ele me olhou de cima a baixo e depois olhou para trás de mim e franzia a testa quando viu que eu estava sozinha.
— Uma mulher tão bonita como você não deveria estar sozinha, mas espero que se divirta — Ele diz e abre a porta para mim.
Ouvi algumas pessoas protestando, mas ignorei. O lugar tinha cheiro de suor, perfume, sexo e álcool. Fui até o bar e pedi uma bebida e alguns shots, que shots queimaram ao descer e, embora a bebida seja doce, também era forte. Eu realmente queria dançar.
Três andares de sacadas forravam as laterais, mas se mantinham próximas à borda como a mão preciosa de um jogador de pôquer, deixando a maioria do espaço preenchido com luzes, névoa e a vibração de seu próprio coração. Apesar das minhas apreensões, a pista de dança estava relativamente vazia, embora pudesse ser apenas devido ao seu tamanho. As plataformas de dança em forma de tubo ao lado do DJ estavam vazias no momento. Depois de mais uma bebida, consegui começar a me mexer um pouco. O peso dos olhares se aliviou e minha imaginação felizmente me tirou das nuvens e me levou para a luz, onde voei, me contorci e me apaixonei pelas curvas do meu corpo mais uma vez. Eu sentia vontade de me soltar, de levantar voo e dançar de verdade, mas quando comecei a fazer uma pirueta, lembrei de onde estava e como seria e******o fazer uma dança clássica na boate. Eu podia sentir o cheiro do meu próprio xampu e de qualquer produto químico que eles usassem na máquina de névoa. Eu até conseguia sentir a colônia do DJ, que balançava a cabeça ao seu próprio ritmo. O som grave parecia perfurar meus ouvidos.
Depois de dançar por horas, voltei para o bar. Eu não achava que estaria mais tranquilo no bar, no entanto, de alguma maneira estranha, estava. Após um momento de hesitação, pedi algo doce, mas mais leve do que o que eu tinha tomado antes. Não queria ficar enjoada pela manhã, mas comecei a beber para afastar a decepção que eu nem sabia que sentia. Algumas coisas sobre ser uma loba não transformada é que eu me curo mais rápido do que um humano, mas mais devagar do que um lobisomem. Ah, e o álcool me afeta como afeta os humanos, por isso eu não bebo.
Acabei pedindo outra bebida depois de terminar a segunda, e comecei a finalmente entender por que as pessoas bebem. Meu sangue parecia vibrar agradavelmente, e eu me senti estranhamente quente e distante da dor no peito que me fazia respirar com dificuldade. Logo que o terceiro martini apareceu na minha frente, um homem deslizou para o banco ao meu lado. Optei por me concentrar na bebida em vez de olhar para ele.
— Eu quero o que ela está bebendo — O barítono suave me surpreendeu por um momento, o suficiente para me fazer perguntar se eu estava mais bêbada do que pensava para ser afetada pela voz de alguém. Sem mencionar que o cheiro incrível que vinha dele não podia ser atribuído apenas a uma colônia qualquer, ou pelo menos a nenhuma colônia que eu conhecesse.
Por um momento silencioso, fiquei sentada ali e tentei me concentrar naquele cheiro. Ele cheirava a fumaça e a perfume em excesso.
— Essa é sua festa de aniversário? — Ele perguntou.
Como ele percebia que isso era uma festa de aniversário? Eu neguei com a cabeça diante de tanta estupidez.
— Não, isso é a minha festa de autocomiseração — Eu menti e levantei a mão para chamar a atenção do barman.
— Ah, que droga — Ele disse, mas não tinha ideia.
— É uma droga. E logo depois de decidir isso, eu realmente queria ficar bêbada. Sério, esses caras... — O barman se aproximou com aquela segunda bebida rosa que entregou à figura alta ao meu lado.
Então meus olhos se fixaram em um homem alto e musculoso com uma camiseta preta escrito “segurança”. Seus olhos estavam em mim e ele me olhava como se eu fosse um pedaço de carne. Ele passou por mim e aproveitei a chance para dar uma olhada completa no homem ao meu lado e fiquei deslumbrada, verdadeiramente deslumbrada, como se estivesse diante de uma celebridade. Ele deve ser um lobisomem ou uma criatura sobrenatural. O zumbido no meu sangue provavelmente não ajudou a atenuar o impacto. Se houvesse um homem perfeito, poderia ser ele. Engoli em seco. Preparei meu cérebro traidor, imaginando quanto da minha pele aquelas mãos poderiam cobrir. Sacudi a cabeça com força. Foi então que uma mulher chegou ao bar toda suada, com maquiagem borrada.
— Não é um pedaço de carne humana! Você levou isso a sério? — Ela me perguntou em voz alta. Eu quase enfiei meu rosto no bar, bebi lentamente o último gole da minha bebida e coloquei o copo no balcão — Oh! Eu disse isso em voz alta? — Ela riu, depois se virou para mim.
Antes que eu pudesse agarrá-la pela frente daquele tecido terrível cheio de glitter que ela chamava de vestido, ela já havia saído, balançando a cabeça ao ritmo da música. Eu tinha o pensamento de correr atrás dela, mas não consegui encontrar força para superar minha vergonha o suficiente para separar meu rosto do bar. O homem ao meu lado riu, fazendo todos os pelos do meu corpo ficarem arrepiados, mas não de um jeito bom.
— Eu não me preocuparia. Isso acontece muito comigo — Disse o cara sentado ao meu lado.
— Bom para você — Mando isso para longe. Preciso de algo mais forte — Me traga algo mais forte — Eu pude ver a hesitação do barman em sua expressão, mas então ouvi o barulho de suas roupas enquanto ele se afastava, quando meu rosto esfriou o suficiente.
— Eu gostei da sua dança na pista. Você é uma dançarina profissional? — Ele perguntou.
— Isso é uma cantada? — O álcool me deu coragem. Em qualquer outra ocasião, eu teria lutado para dizer até um oi.
— Nunca fui fã de cantadas. Normalmente elas vêm até mim — Ele disse.
— Bom para você — Eu disse de novo. Eu o chamaria de arrogante se não visse que era verdade.
— Não precisa soar amargurada. Não é tão bom quanto parece — Ele disse, dando um gole na bebida. Olhei para ver que ele tinha um copo que parecia ser uísque. Seu copo anterior estava vazio.
— Não estou amargurada, só não me importo — Disse enquanto o barman voltava com minha nova bebida, ainda doce, mas que ardia ao descer pela garganta. Só depois que a queimação desapareceu e meu sangue estava quase cantando, me virei para o homem ao meu lado. Decidi ver para onde essa conversa estava indo, mas algo no fundo da minha mente acendeu sinais de alerta — Eu sou uma dançarina — Menti, dando um gole na minha bebida.
— Você vai para a Oasis Dance Company? Ou planeja entrar? — Ele perguntou.
— Nenhum dos dois — Disse, certificando-me de estalar meu “s”.
— Por que não? — Ele perguntou antes de acrescentar — Você é realmente boa.
— Porque eu não gosto de me apresentar — Admiti.
— Você é uma dançarina... que não gosta de se apresentar? Por quê? — Ele perguntou, prestando atenção total em mim.
— Porque eu não gosto da ideia de convencer as pessoas de que sou boa o suficiente para receber dinheiro. Se elas gostam de assistir, bom para elas. Eu não preciso disso — Torci a parte estreita do meu copo entre os dedos. Vi o segurança sexy caminhando na minha direção — Eu só... só quero dançar porque eu gosto, não porque sou boa nisso.
Tomei outro gole da minha escolha venenosa. Por um minuto, só se ouvia o som da pista de dança.
— Você poderia ter ganhado milhares, talvez até milhões — Ele disse.
— E daí?
— E daí? — Ele disse, sua voz subindo um pouco em incredulidade.
— Sim, e daí? — Dei de ombros — Eu tenho tudo o que quero. O que mais posso pedir? — O álcool parece soltar minha língua e descubro que o filtro entre meu cérebro e minha boca está em outro lugar. É verdade, eu tenho tudo o que quero, exceto uma coisa: alguém que me ame pelo que sou.
— Nah, eu quero uma pequena casa longe das pessoas, com um bom terreno para dançar sob o sol, não sob essa luz falsa. Quero aquele sol quente e brilhante, que cega os olhos, e a grama — Essa bebida estava realmente boa — Sem carros, sem luzes. Por que pagaram tanto dinheiro para fazer o teto de vidro se nem dá para ver as estrelas? Malditas luzes da cidade. Quero um céu totalmente estrelado. Ah, essa música é horrível — Porque eu achava que estava bem, agora me escapava. Eu só tinha metade da consciência do olhar dele em mim agora. Eu tinha me perdido em algum lugar cheio de sol e do barulho das folhas das árvores. Mas, de alguma forma, notei a expressão estranha que ele usava.
— Isso parece... perfeito — Ele disse, mas por algum motivo, eu não acreditei nele.
— Sim, é. Ah, por que estou aqui mesmo? Eu odeio lugares assim. Pessoas estúpidas. Barulho e******o, m*l consigo ouvir meus próprios pensamentos — Eu disse.
— Que tipo de música você gosta? — Ele perguntou.
— Todos os tipos, mas mais de Vivaldi, Bach — Eu disse com um encolher de ombros.
— É, bem — Ele disse, devagar — Existem salas de dança privadas no segundo andar. Podemos tocar a música que você quiser lá.
O homem me segurou pelo braço e começou a me arrastar até algumas escadas.
— Pare! Me solte — Eu disse e tentei soltar meu braço dele, mas ele apenas segurou mais forte, me fazendo gemer.
Eu sabia que isso ia deixar um hematoma amanhã. Flashbacks começaram a tocar na minha cabeça.
Flashback...
PONTO DE VISTA DE ELENA
— PARE! — Eu gritei enquanto tentava empurrar meu companheiro para longe de mim. Acabei de descobrir que o Alfa Anthony é meu companheiro e ele me insultou na frente da minha mãe, irmã e matilha. Ele acha que eu não tenho minha loba e que sou fraca. Claro, eu ainda não tenho minha loba. Ainda não me transformei, mas sempre fui capaz de falar com ela. Vou me transformar hoje à noite — Por favor... pare — eu disse.
Ouvi minha loba gemer em minha cabeça.
“Não faça isso, cara”, suplica Brie, mas ele não consegue ouvi-la.
Eu olho para minha mãe e minha irmã em busca de ajuda, mas elas apenas me encaram como se isso fosse um filme. Sinto as mãos dele sob meu vestido, então arranho o rosto dele.
— v***a! — Ele rosnou e me soca novamente. Ouço o r***o da minha roupa íntima.
— ELENA! — Ouço Ruben gritar.
Olhei para Ruben, que está sendo segurado pelos membros da minha suposta matilha. Ele não poderá me ajudar e eu não posso lutar contra um Alfa sem um lobo. A dor que sinto na minha parte inferior é pior do que eu poderia ter imaginado. Costumava ouvir as pessoas dizerem que fazer amor era a coisa mais bonita quando ambos os parceiros queriam. Eu não queria isso, porém, eu não estava pronta.
Ouço o uivo da minha loba e, a cada uivo, a ouço ainda mais distante, até que não a escuto mais. Apenas olho para Ruben e posso ver o quanto ele está machucado, ainda tentando me alcançar. Pareceram horas antes que o desgraçado do meu parceiro saísse de cima de mim e viesse ao chão.
Eu estava sentindo tanta dor, mas, acima de tudo, me sentia suja. Uma coisa eu sabia com certeza, que eu não podia ficar aqui com essa matilha. Eu sei que meu pai ficará magoado, mas se eu não sair daqui, Deus sabe o que acontecerá em seguida. Os membros da matilha soltaram Ruben e ele correu em minha direção.
— Oh, querida, eu sinto muito — A voz de Ruben se quebrou no final.
— Eu, Anthony Williams, Alfa da Matilha Grimm, rejeito você, Elena Russi Santos, como minha parceira e Luna da minha matilha — Meu parceiro disse com nojo. Virei meu rosto em direção a ele.
— Eu, Elena Russi Santos... aceito sua rejeição — Eu disse.
A forma como ele me olhou foi surpreendente. Acho que ele pensou que eu ia implorar para que ele não me rejeitasse, mas ele estava errado. Ele caminhou em direção à minha irmã e a beijou.
— Stephanie, você quer ser minha parceira? — Meu ex-parceiro perguntou para minha irmã.
— Sim — Minha irmã gritou.
Ele a pegou no colo como uma noiva e a levou para dentro da casa da matilha. Virei-me para Ruben, fraca, e pude ver seu desgosto em relação à minha irmã e ex-parceiro.
— Tire-me... daqui. Sem mais matilha para mim — Eu disse.
— Mas, Elena, você está fraca — Disse Ruben.
— Se eu ficar, isso pode acontecer de novo. Por favor, Ruben — Disse, com lágrimas escorrendo pelos olhos.
Ele assentiu e me pegou no colo como uma noiva. Gritei de dor, mas ele pediu desculpas.
— Ok, vou tirar você daqui — Disse Ruben.
De volta para o presente...
PONTO DE VISTA DE ELENA
— Vamos lá. Vou te mostrar algo divertido — Rosnou o homem do bar.
Eu não tinha ideia do que estava passando pela cabeça dele, mas sabia que não era nada bom. Recuei minha mão e dei um soco no cara, na garganta, fazendo-o me soltar.
— Quando alguém diz não, significa não, babaca — Cuspi e fui até o bar.
Se eu já achava que ele poderia ser o homem perfeito, eu estava totalmente enganada. Paguei a conta e peguei um táxi de volta para casa. Uma vez dentro de casa, respirei fundo e fui para o meu quarto tomar um banho rápido e vestir meu pijama.
Deitei na minha cama e respirei aliviada, fechando os olhos e entrando em um sono tranquilo.