María José
Cheguei à universidade naquela tarde com o peso do mundo sobre os meus ombros. O céu cinzento de Toronto parecia refletir o meu estado de espírito. Caminhava pelos corredores com a cabeça baixa, tentando que ninguém notasse os meus olhos inchados de tanto chorar. A carta de demissão continuava dobrada no bolso do meu casaco, como uma sentença de morte para os meus planos.
A aula de Finanças Corporativas passou como uma névoa. O professor Donaldson falava sobre índices de ações e flutuações do mercado, mas minha mente só conseguia calcular quanto tempo eu conseguiria sobreviver com 87 dólares sem usar a remessa que eu tinha guardado para enviar para a Colômbia, e como eu explicaria aos meus avós que este mês não haveria remessa.
Ao soar o sinal do intervalo, guardei mecanicamente minhas anotações na mochila — aquela mesma mochila desgastada que eu tinha trazido de Bogotá e que já tinha as costuras estouradas de um lado.
— Você está com cara de enterro, prima. Disse Paulo, apoiando-se na minha carteira com aquele sorriso que conquistou tantos corações no campus.
Paulo Lehman. Canadense de terceira geração com raízes alemãs (por isso nos damos muito bem), loiro, olhos azuis. O seu pai estava concorrendo a senador nas próximas eleições.
Nós conhecemos no segundo ano, quando ele me defendeu de um grupo de garotos que zombavam do meu sotaque. Desde então, ele se autoproclamou meu "primo postiço" e guardião.
— Me despediram ontem. Murmurei enquanto saíamos para o corredor.
— O quê? Por quê? Se você é a funcionária mais responsável que eu já conheci.
Contei tudo para ele enquanto nos sentávamos em um dos bancos do pátio interno. O incidente com a senhora, a queixa falsa, a injustiça. Paulo me ouvia com a testa franzida, apertando os punhos.
— Posso te emprestar dinheiro até você encontrar outro trabalho. Ele ofereceu, como sempre fazia. — Quando o meu pai for senador, vou dizer a ele para fazer leis em defesa dos estrangeiros.
— Obrigado, Paulo. Por tudo, mas sabe que não aceito empréstimos. Respondi, também como sempre. — Encontrarei algo. Tenho que fazer isso.
— Paulo! Estou te procurando por todos os lugares. De repente, uma voz nos interrompeu.
E lá estava ela. Martina. Como se tivesse sido convocada pelos meus pensamentos mais desesperados, ela apareceu radiante em um vestido lilás que contrastava com seu cabelo castanho perfeitamente penteado. Enquanto todos os outros estudantes pareciam saídos de um filme de zumbis – olheiras, roupas amassadas, cabelo desgrenhado pelo estresse –, Martina sempre parecia ter saído de uma revista de moda.
Para qualquer pessoa, ela seria apenas mais uma garota rica e privilegiada. Mas eu sabia que havia muito mais por trás daquela fachada de perfeição. Martina era a única pessoa do seu círculo social que se sentava com os bolsistas na cantina. A que organizava arrecadações para estudantes estrangeiros com problemas. Aquela que, em mais de uma ocasião, "esquecera" notas de 50 dólares na minha mochila quando eu me recusava a aceitar a sua ajuda diretamente.
— Olá, Maria. Ela cumprimentou-me com um abraço que cheirava a perfume francês. — Estou interrompendo algo?
— Eu estava contando para o Paul que me demitiram do supermercado.
Seu rosto mudou imediatamente. Essa era outra qualidade de Martina: sua empatia não era fingida. Ele realmente se importava com os problemas dos outros.
— O quê? Isso é terrível! Por quê?
Voltei a contar a história, desta vez com menos detalhes. Não queria a sua pena.
De repente, um sorriso apareceu em seu rosto.
— Tenho uma ideia. Ela olhou para Paul e corou. —Na empresa dos meus irmãos contratam funcionários com experiência e também sem experiência, mas que já estejam cursando os últimos anos de uma graduação. Você se candidataria a um cargo, já está no último ano, além de ser muito inteligente.
— De verdade? Perguntei com emoção.
Paulo e eu trocamos olhares confusos.
— Não quero incomodar Martina, nem quero causar transtornos com os meus problemas.
Ela minimizou com a mão.
— Bobagens. Falarei amanhã mesmo com meu irmão mais velho, Julian, ele dirige a Marlow Industries. Ela explicou com entusiasmo.
— Seu irmão é Julian Marlow? Perguntou Paulo, impressionado. — O tubarão dos negócios?
Martina revirou os olhos.
— Detesto esse apelido, mas sim. É ele.
Fiquei sem palavras. Marlow Industries. Um dos conglomerados mais importantes do país. A empresa que importava aqueles carros de luxo que eu só via passar da janela do ônibus.
— Você é Martina Marlow, da família Marlow? Perguntei, minha mandíbula caiu no chão. Ela sempre se apresentou como Martina, nunca se gabou do sobrenome e eu também não perguntei.
Ela sorriu, corando novamente. — Não costumo dizer meu sobrenome, porque as pessoas só querem se aproximar de mim por causa da minha família e do nosso dinheiro, mas sim, sou uma Marlow.
Até Paulo tinha ficado surpreso.
— Eu não... não acho que seja uma boa ideia. Gaguejei. — Não tenho experiência em uma empresa assim e...
— Bobagens. Interrompeu-me Martina, pegando nas minhas mãos. — Você é brilhante. A melhor da sua turma. E você fala espanhol e inglês.
— Mas...
— Sem mais. Já está decidido. Amanhã falarei com o meu irmão, mas considere-se contratada. Meu irmão não me ne*ga nada.
— Martina, não sei como te agradecer.
Ela sorriu.
— Não tem nada a agradecer. As amigas estão aí para isso.
Amigas? Nunca pensei que alguém como ela me considerasse sua amiga.
— Além disso. Acrescentou, piscando o olho para o Paulo. — Assim terei uma desculpa para vir visitar seu primo com mais frequência.
Paulo corou levemente. Todos na faculdade sabiam que Martina vinha à seção de contabilidade só para vê-lo.
Enquanto os observava brincando, senti um peso se levantar dos meus ombros. Talvez, afinal, o Canadá tivesse anjos. Não com asas e auréolas, mas com vestidos caros e corações generosos.