Capítulo 59. Visita indesejada

874 Palavras
— Senhorita McGoldrick! — Felicity chamou, ofegante. — Me desculpe interromper, mas… há alguém esperando por você na recepção. Sophie, que até então mantinha a compostura impecável, virou-se com o cenho franzido. — Quem é? Felicity hesitou por um breve instante, como se ponderasse se deveria dizer em voz alta. — É o senhor Alexander Rowe, da Rowe Industries. Disse que não tinha hora marcada, mas que precisava muito falar com a senhora. O nome caiu no ar como um peso. Sophie congelou por um segundo mínimo, mas perceptível. Os olhos dela, sempre firmes e seguros, vacilaram. Theodore percebeu de imediato. — Alexander Rowe? — repetiu, a voz carregada de uma curiosidade cuidadosa. Sophie piscou, forçando o controle de volta. — Sim. — respondeu, seca. — Um contato antigo de negócios. Mas Theodore não se convenceu. A tensão dela não era de quem reencontrava um parceiro de empresa era de quem revia um fantasma. Ele notou o modo como ela apertou o tablet com força, a forma como o maxilar ficou rígido e o olhar se desviou ligeiramente. — Quer que eu vá junto? — perguntou, o tom mais calmo, mas firme. Sophie endireitou a postura, respirou fundo e balançou a cabeça. — Não. Eu resolvo isso sozinha. — Sophie… — ele começou, já pressentindo que havia algo mais profundo ali. Mas ela o interrompeu, olhando-o nos olhos com aquele misto de orgulho e autodefesa. — Eu disse que resolvo. É um assunto antigo. Não tem a ver com você… E, antes que ele pudesse insistir, ela se afastou com passos firmes em direção à recepção. Theodore a seguiu com o olhar, o cenho franzido, o coração batendo um pouco mais rápido. "Alexander Rowe." o nome ecoava em sua mente. Ele nunca o ouvira sair dos lábios de Sophie antes e, pelo jeito que ela reagiu, aquilo era algo que ela preferia manter enterrado. Enquanto o som dos saltos dela desaparecia no corredor, Theodore ficou parado, a revista ainda na mão. O rosto de Sophie na capa parecia diferente agora não apenas a imagem de uma mulher poderosa, mas alguém que carregava um passado que ele, até aquele momento, não tinha ideia de que existia. A recepção da B&M estava silenciosa, quebrada apenas pelo som dos saltos de Sophie ecoando pelo piso de mármore. Ela mantinha a postura ereta, o rosto impassível mas por dentro, o coração batia num ritmo inquieto. Alexander Rowe estava de pé, de costas para ela, observando uma das esculturas de vidro próximas à parede. Quando se virou, o sorriso dele foi cortês… e ligeiramente provocador. — Sophie McGoldrick. — disse, a voz baixa e carregada de ironia. — Continua pontual e elegante como sempre. Ela parou a poucos passos de distância. — O que está fazendo aqui, Alexander? — perguntou, sem rodeios. — Vim parabenizá-la. — respondeu ele, mostrando a foto dela e de Theodore estampada na capa de um site no i********: — Aliança do ano, dizem. Você e o filho de Elizabeth Beaumont. Impressionante até para você. Sophie respirou fundo, os dedos se contraindo discretamente ao lado do corpo. — Não tenho tempo para provocações. Alexander deu um passo à frente. — Sempre direta… mas ainda com o mesmo medo de encarar certas verdades. — Verdades? — ela riu sem humor. — Você perdeu o direito de falar comigo sobre “verdades” há muito tempo. Ele inclinou a cabeça, estudando-a com atenção. — Você está mesmo fingindo tão bem assim, Sophie? — perguntou, baixando a voz. — vai me dizer que esse casamento não é apenas uma jogada comercial? Ou que o nome McGoldrick finalmente está acima do dos Beaumont? Sophie manteve o olhar firme, mas o aperto no estômago denunciava o impacto das palavras. — Eu construí o que tenho, Alexander. Sozinha. Diferente de você, que só sabe viver da sombra da mamãe. O sorriso dele desapareceu. — E ainda assim… — ele aproximou-se mais um passo, o tom agora sombrio — …a mulher que eu conheci jamais teria se vendido assim. Sophie se enrijeceu, os olhos faiscando. — Cuidado com o que diz. — Por quê? — ele provocou. — Porque Theodore pode ouvir? Ou porque teme que ele descubra o que você fez anos atrás? Por um instante, o ar pareceu sumir da sala. Os dois ficaram frente a frente, tão próximos que Sophie podia sentir o perfume familiar dele o gosto amargo das lembranças que vieram junto. — Vá embora, Alexander. — disse ela, fria. — Antes que eu mande alguém te tirar daqui. Ele a observou por um longo segundo, avaliando cada palavra. Então, com um meio sorriso, recuou. — Você sempre foi boa em encerrar conversas quando elas começavam a ficar perigosas. E, antes de sair, acrescentou num tom calmo, mas carregado de ameaça: — Nos vemos em breve, Sophie. Ah, e… parabéns pelo casamento. Espero que Theodore saiba no que está se metendo. Sophie ficou imóvel por alguns segundos depois que ele se foi. O peito subia e descia com força, e ela sentia o peso de um passado que lutava há anos para manter trancado. Quando finalmente se virou para o elevador, sua expressão já estava de volta fria, elegante, impenetrável. Mas por dentro, o caos era absoluto.
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