Nova Iorque.

2189 Palavras
Lauren McKay Antes de me chamarem de ambiciosa ou gananciosa, eu gostaria de compartilhar alguns fatos sobre a minha vida. Minha mãe foi uma diarista jamaicana muito injustiçada e m*l paga que morreu com câncer de pele por não ter os cuidados mínimos de saúde básica. E meu pai, bom... Ele teve sorte em herdar com quinze anos, lá nos anos 70, uma grande rede de empresas de petróleo que estavam em ascensão. Mesmo com toda fortuna que ele construiu ao longo dos anos, o dinheiro não poupou a vida da minha mãe. E meu pai foi um belo canalha com ela. Faz pouco mais de dez anos que eu decidi ter uma relação um pouco mais saudável com ele. A vida dele após os milhões de dólares e mudou bastante. Ele é o genérico homem branco rico, que coloca a filha afrodescendente como cara da empresa para ter o aval da diversidade. Mesmo com toda a sujeira que eu sei que acontece na empresa, este império é parte de quem eu sou e de quem a minha mãe foi. E se a condição de poder que eu tenho puder honrar a vida dela, eu sinto que fiz o trabalho. — E esse nem é o maior problema que vamos enfrentar neste trimestre — o analista climático apontou para um gráfico na sala de reuniões, chamando a minha atenção para o declínio nos níveis de gases de efeito estufa. — É devido a sustentabilidade dos clientes, certo? — complementei — nós estamos em uma era onde as empresas prezam por sustentabilidade e por indústrias mais verdes... No último trimestre nós não tivemos ações efetivas contra a degradação do solo e reposição dos minérios nas zonas de extração. Isso deixa a empresa com uma bandeira vermelha em cima do logo dizendo “destruição ambiental” — suspirei, lendo os relatórios — tem algo de errado, nós estamos há dois anos com o projeto de implementação de biomassa enquanto tentamos tornar a comercialização de petróleo menos agressiva. Os resultados eram para estar aparecendo agora. — A senhora é uma Hastings agora — a diretora de segurança ambiental argumentou — a indústria do seu marido é a responsável pela produção dos componentes da Biomassa, e a porcentagem de vendas deles foram muito pequenas. Eles se comprometeram parcialmente com o projeto. Chegou a hora de cobrar a conta. Assenti e dispensei a equipe, abrindo o número de Alec no meu celular. Quando ele não me atendeu, eu senti vontade de gritar. Não o vejo há vinte dias, desde as Bahamas. E nos falamos duas vezes apenas sobre a disposição dos móveis da casa em Nova Iorque e dos quartos. O fato dele ser tão irresponsável pela empresa me fez apanhar a minha bolsa e me dirigir até o escritório do pai dele, em Manhattan. — Eu gostaria de falar com o senhor Joel Hastings — sem cerimônia, pedi para que a recepcionista o contactasse. — Senhorita, ele está em uma reunião muito importante no momento. — Então avise que a Lauren Hastings está subindo — foi a primeira vez que eu pronunciei meu novo sobrenome — obrigada. Antes que a moça pudesse contestar, eu estava no elevador, a caminho da cobertura. Quando avistei a sala de reuniões com ele e mais dois homens, eu sequer anunciei minha entrada. Apenas abri a porta e me sentei na mesa. — Senhores — os cumprimentei e observei a tela disposta em minha frente — acredito que são os compradores do projeto fabril das indústrias de escavação. ­— Está e a minha nora, Laure... — Meu nome é Lauren McKay, sou presidente da Mckay Corporation. E é interessante este momento de prospecção de novos clientes, porque hoje eu estava analisando o cenário ambiental com a minha equipe de especialistas e vocês com certeza estão apostando em energia verde e cultura de diminuição de emissão de carbono, certo? Eu li sobre vocês semana passada e notei que não é relevante comercializar com uma corporação que teve uma queda nos investimentos de biomassa. — Como assim? — um dos potenciais clientes perguntou. — Foi exatamente isso que eu vim questionar para o senhor Hastings. Como mais de vinte milhões de dólares investidos em biomassa nos últimos dois anos não ajudaram na diminuição da produção do petróleo tóxico que comercializam e sequer aparecem com relevância nos livros contábeis...? Sem contar que... — fiz uma pausa — a causa ambiental está gritando com a situação atual da produção da Hastings & CO. ­— Se este for o cenário, para nós não faz sentido manter esta compra ­— um dos investidores se levantou, e em poucos segundos eu os assisti sair da enorme sala, me deixando com um carrasco folgado. — Seria uma venda de milhões — ele esbravejou — quem você pensa que é, pirralha?! Me pus em pé e dei dois tapinhas nos ombros do homem enfurecido ao meu lado. — Eu quero os resultados das vendas de biomassa na minha mesa amanhã de manhã — apontei para o relógio — você tem algumas horas. Após algumas horas, eu estava novamente na empresa quando meu pai entrou na minha sala, completamente nervoso. Ele estava com os olhos arregalados e a ação imediata dele foi pegar o primeiro objeto que ele viu na frente e estilhaçar na parede. No caso, um vaso decorativo. Eu sabia que ele iria reagir m*l, então bebi um pouco de água e esperei ele finalizar o show. — Você não tem um mês de casada, um mês sequer de sociedade! — ele esbravejou e deu um tapa na mesa — e já espantou investidores?! — Eu não vou deixar o mentiroso do Hastings afundar a McKay Corporation. Não vou mesmo — balancei os ombros — você queria sua filha ativa nos negócios? Aqui estou... Encontrando falcatrua nos negócios do seu amiguinho enquanto ele arrasta nossas vendas para a lama e coloca a cultura da empresa dentro de um bueiro. — Você não sabe de nada. — Ah... e é você quem sabe? É você quem sabe que de vinte milhões direcionados para produção de Biomassa, apenas oito foi realmente destinado a isto? E isso é o que eu estimo. Eu quero desmantelar estas empresas se for possível. Quer fazer dinheiro? Então faça. Mas se continuar deste jeito a Receita Federal vai entrar aqui e levar até o último lápis! — Vai embora e volte só quando recuperarmos o cliente — ele apontou para a porta. — Eu sou a presidente! — Eu sou o dono, p***a! Eu mando aqui. Vai embora, Lauren! Fechei meus olhos por alguns segundos e soltei o ar dos meus pulmões, apanhando minha bolsa. — Quando isso aqui, o seu império, se resumir a nada... Não diga que eu não avisei. — Eu ainda tenho outro filho que pode aceitar coordenar tudo isso para mim. — Boa sorte com seu prodígio. Não importava como, eu precisava do endereço da casa ou da igreja do Alec em Chicago. Ele não podia simplesmente sumir enquanto nossos interesses estavam ameaçados. Eu fiz o possível para encontrar na internet algo sobre acolhimento de refugiados na região de Illinois, e nada. Nem no jornal local, em grupos comunitários ou ONGs. A única coisa que me restou foi pedir para Julienne rastrear o celular do Alec. Ela era a cientista de dados mais inteligente que eu já conheci, e após cinco minutos, eu estava com um endereço em mãos. Eu chegaria em Chicago quase de madrugada, mas nada me impediu de pegar o vôo mais próximo e ir fazer o Pastor acordar para a vida. Sem a ajuda de Alec, eu estava de mãos atadas. Após duas horas e meia de viagem de avião, eu já estava em Illinois, dentro de um táxi e a caminho do endereço que Julienne me passou. Não demorou muito e logo eu estava em frente a um condomínio fechado, cercado por seguranças do mais alto nível. Havia tantas câmeras que eu não sabia para qual olhar. Desci do carro e me apresentei como esposa do Alec, e com muita relutância, fui escoltada até uma casa mais distante que as outras. Mas completamente linda e enorme. Exatamente idêntica a foto que a minha amiga me enviou, e com muitos carros na garagem. Estranhei a permanência do segurança e reforcei: — Sou esposa dele. O homem ao meu lado não disse nada. Apenas digitou algo no celular e saiu. Liguei pela décima vez para o meu marido, que finalmente atendeu. — Lauren? — Estou na sua casa — falei, ríspida — poderia vir abrir a porta? Eu posso entrar? — Droga... — escutei ele resmungar — espere um minuto — ele desligou o celular e eu cruzei os braços, olhando em volta. Eu só esperava que Alec me apoiasse com os problemas da empresa e pudesse entrar nos negócios de uma forma ativa. Eu me assustei com os resultados da reunião de hoje. — Lauren? — Alec abriu a porta — não está um pouco tarde? Ele me atender apenas com uma bermuda e um pouco sonolento não ajudou. Eu estava cansada, com dor de cabeça, e olhar a situação de uma forma s****l não iria resolver nada. E ele era um pastor, então não teria chances de nada ser além do que já era. ­— Como você não me atendeu, eu precisei vir até aqui — entrei na casa, dando de cara com uma mulher vindo em minha direção. Não foi estranho, foi apenas cômico. Dei risada e revirei os olhos. — É, pastor... Talvez você não seja tão santo assim — eu dei um passo para o lado e a moça saiu da casa, um pouco constrangida — mas loiras fazem o seu tipo — caminhei pelo local. A casa era enorme, ele vivia muito bem ali. Mas estranhamente não era um ambiente que eu esperava de uma pessoa religiosa. — O que você quer? — Onde é seu escritório? Precisamos conversar sobre o projeto de Biomassa. — Lauren, são duas da manhã — ele cruzou os braços. Seria mais fácil desviar a minha atenção dele, mas o corpo escultural, os olhos cansados, os lábios... O cabelo bagunçado. Era difícil não me sentir atraída — não pode ser de manhã? — Olha, pastor — eu suspirei e caminhei até o sofá, abrindo a minha mochila, retirando vários relatórios e meu notebook — eu estou desde as seis da manhã trabalhando sem parar e descobri um deslize da Hastings & CO. no projeto de Biomassa. Estamos com problemas com as reduções de... — Boa noite, Lauren — foi tudo o que ele disse — acho que o sofá irá te comportar bem. Mas se quiser, no andar de cima na terceira porta à esquerda é o quarto de hóspedes. Eu não vou ver nada disso agora. — Eu vim de Nova Iorque! — esbravejei e me pus de pé — e você, seu religioso irresponsável, sumiu por dias! As empresas precisam de nós! Eu não aceito tanto descaso e falta de comprometimento! Eu estou casada com você por uma razão! Se você não se importa com isso, ao menos seja homem de assumir as responsabilidades! — La... — Eu segurei as pontas sozinha por quase um mês, Alec! E eu me recuso a carregar tudo sozinha quando você se comprometeu. Então sente nessa p***a deste sofá e vamos analisar tudo de forma clara. Ele revirou os olhos e se sentou ao meu lado. Retirei meus saltos e soltei meu cabelo, soltando o ar lentamente. — Você comeu alguma coisa? — Eu almocei — liguei o computador, separando os relatórios. — Então já que vamos ficar o resto da madrugada nisso, vem comer antes — Alec me direcionou até a cozinha e eu não contestei — vou fazer um sanduiche. Você gosta de leite de amêndoas? Apenas assenti e observei o local. — Não pensei que a casa de um pastor seria assim. — Você fala como se eu fosse um bicho — ele riu, preparando tudo com calma — É tão estranho para você estar casada com um pastor? — A maioria do tempo eu nem lembro que estou casada — dei risada, suspirando — eu preciso de você na empresa, Alec. Preciso mesmo. Tenho certeza de que o dinheiro dos projetos está sendo desviado. Nós assinamos um contrato extenso com todas as condições bem esclarecidas. Está na hora de você colocar a mão na massa. Ele ficou em silêncio e colocou um lanche muito apetitoso na bancada, em seguida serviu o leite e sentou-se ao meu lado. — Que tipo de desvio? Mordi o lanche e desbloqueei meu celular, mostrando algumas fotos da apresentação do analista climático. Ele pegou o celular e deu zoom nas fotos, me olhando em seguida. — Consegue ver o problema? Estamos perdendo novos investidores porque o nosso produto ainda está sendo fabricado da forma incorreta. Nenhuma empresa quer manchar a imagem com isso. — E a produção de Biomassa era de responsabilidade da Hastings & CO., correto? Assenti e ele voltou a olhar as imagens, com certa estranheza. — Precisamos resolver isso, Alec.
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