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A música clássica tocava baixo na sala enquanto os convidados, sentados em seus lugares segurando suas plaquinhas, se preparavam para arrematar o seguinte ítem do leilão, que por acaso era o que Anancy havia se interessado ao ver o catálogo logo no início do evento.
– O próximo item é colar Coração do Inverno_ começou o leiloeiro_ é uma joia envolta em lenda e luxo, criada no século XIX por um renomado joalheiro de São Petersburgo, a peça foi encomendada por um poderoso magnata russo, rumores antigos sugerem que ele era, na verdade, um dos primeiros chefes da Bratva_ acrescentou o homem em forma de segredo_ como um presente para sua amante secreta, uma bailarina da corte czarista, feito em platina pura, o colar é cravejado por dezenas de diamantes brancos lapidados à mão, emoldurando uma safira-celeste de 42 quilates, de tonalidade azul-clara quase translúcida_ retiram o pano que cobria a caixa onde a jóia se encontrava, deixando a sala toda em admiração por sua beleza_ a pedra central, lapidada em forma de gota, foi apelidada de "a lágrima que nunca congela", por manter um brilho límpido mesmo sob as condições mais severas. Após a queda do império russo, o colar desapareceu misteriosamente, reaparecendo mais de um século depois no circuito privado de leilões europeus e hoje é nossa estrela da noite_ o burburinho entre os convidados começou, algumas esposas pedindo aos seus esposos para comprar, alguns admirando sua magnificência e por aí em diante_ o lance inicial será em um milhão e trezentas mil libras esterlinas_ e então começaram os lances.
A princípio dois casais desputavam o colar, um para dar a sua esposa e o outro porque sabia que aquele colar poderia vir a render um bom dinheiro futuramente, quando o lance chegou aos 1 milhão e quinhentos mil libras esterlinas, Anancy levantou sua plaquinha calmamente.
– 1 milhão e oitocentos_ sua voz chamou atenção dos presentes, que olharam para ela e os casais que disputavam até cogitaram parar, dado o poder e influência que aquela mulher tinha.
No fundo da sala uma plaquinha foi levantada, as pessoas não notaram, mas sem demora sua voz soou imponente_ 1 milhão e novecentos_ o inglês carregado de sotaque russo fez a sala toda estremecer. Eles logo souberam que havia começado.
Anancy não precisou virar seu rosto para saber que aquele era Mikhail Reznikov, sua voz era inconfundível. Todos do mundo corporativo sabiam como era a relação daqueles dois, disputavam por qualquer coisa, parecia até birra, não era uma rivalidade apenas por suas empresas atuarem em áreas parecidas (ela no ramo da inovação sustentável e tecnologia de ponta e ele no ramo do investimento em energia, tecnologia e imóveis), haviam um monte de outras empresas no ramo da tecnologia e afins mas eles não implicavam com seus concorrentes, muito pelo contrário, tinham relações cordiais com eles, porém, entre eles não era assim, sua elegância não permitia que saíssem por aí gritando um com o outro em público, mas a mídia já sabia que eles eram como fósforo e pólvora, uma pequena faísca e arderiam, poderiam até se manter impassíveis diante de todos, mas a cada palavra eram farpas jogadas e respostas afiadas, ninguém queria ficar no meio daquele fogo cruzado.
– 1 milhão e novecentos e cinquenta_ Anancy rebateu.
Não deixando nem o leiloeiro falar, Mikhail já respondeu_ 2 milhões.
– 2 milhões e quinhentos mil_ voltou a contra atacar Anancy. Naquele momento, mais ninguém quis se envolver, os casais que antes disputavam o item agora não ousavam nem mexer suas plaquinhas.
– 2 milhões e novecentos_ Mikhail aumentou a fasquia não querendo desistir do item.
– 3 milhões _ rebateu Anancy também não se dando por vencida. O silêncio preencheu a sala.
– 3 milhões e dou-lhe uma, dou-lhe duas..._ o leiloeiro começa mas é interrompido.
– 3 milhões e seiscentos_ Mikhail fala casualmente e todos olham para ele com incredulidade. Anancy não demonstrou nenhuma emoção, mas por dentro ela estava contando até 50 para não se irritar com ele, sabia ela que ele não desistiria então preferiu ser ela a sensata da situação.
– 3 milhões e seiscentos dou-lhe uma, dou-lhe duas e..._ bateu o martelinho_ vendido ao senhor Reznikov por 3 milhões e seiscentos mil libras esterlinas_ anunciou o leiloeiro e todos bateram palmas.
Anancy finalmente olhou para trás e lá estava ele, sorrindo de forma irónica e ainda teve a ousadia de fazer um gesto de cabeça subtil mas repleto de provocação, causando ainda mais irritação nela, que disfarçou voltando-se para o leiloeiro e deixando o curso do leilão seguir.
•••
Quando todos seguiam para sair do salão, Elise, segurança pessoal de Anancy, recebeu a ordem de ir pegar o carro enquanto ela se despedia de algumas pessoas e sem protestar Elise foi, não se preocupando com a segurança de sua chefe pois Rowane, a outra segurança também de confiança de Anancy, estava ali.
– Senhorita Williams, muito obrigada por sua presença hoje_ o anfitrião, Albert Dunf, agradeceu dando um beijo gentil nas costas da mão de Anancy.
Ela assentiu com um sorriso cordial_ agradeço eu pelo convite, haviam peças fenomenais aqui hoje_ declarou.
– Bem, esse é mérito da minha querida esposa_ o mais velho falou e como em um passe de mágica, sua esposa se aproximou.
– Senhorita Williams, obrigada por sua contribuição hoje, sinto muito que não tenha conseguido o coração do inverno, mas também saiu com peças de grande valor_ a mulher falou de certa forma com intensão de provocar Anancy, ação está que fez seu marido ficar tenso e rapidamente intervir.
– Aurélia, não fale isso_ a repreendeu baixinho_ mil perdões senhorita Williams, minha esposa não quis chatea-la_ falou tentando não transparecer o medo que sentia.
Anancy por outro lado sorriu, realmente não tinha se incomodado com a frase da mulher, principalmente por saber o quanto Aurélia Dunf conseguia ser naturalmente inconveniente e o Sr. Dunf era um homem de respeito.
– Não se preocupe senhor Dunf, não me chateou, de um jeito ou de outro o importante era conseguir o dinheiro para causas sociais e foi o que houve hoje_ sorriu.
– Viu querido_ a mulher entrelaçou o braço ao seu marido_ a senhorita Williams não tem um ego frágil_ esboçou um sorriso falso.
– Eu preciso ir, tenham uma boa noite_ Anancy falou respeitosamente e se afastou do casal.
Anancy caminhou elegantemente para a saída e viu seu Volvo XC90 T8 parado a uns metros de distância, bem do lado estava o Rolls-Royce Ghost Extended de Reznikov, seu motorista a posptos provavelmente esperando que o homem aparecesse para que do mesmo jeito rápido que ele chegou, ele pudesse desaparecer. Ela decidiu ignorar aquele detalhe e seguiu em direção ao seu carro, mas antes que o pudesse alcançar, seu apelido foi pronunciado daquele jeito provocador e cheio de sotaque que só Mikhail conseguia.
– Então Williams, vai embora sem nem um boa noite?_ o homem falou percebendo ter conseguido a atenção da jovem mulher.
– Reznikov_ o nome saiu lentamente pelos lábios de Anancy, ao passo que ela revirava os olhos de forma quase que automática_ eu realmente acreditei que você já estivesse na Rússia_ a frase foi genuína, mas seu tom deixou claro que a possibilidade dele estar em outro país a agradava.
– O Детка (Detka)_ ele falou "oh querida" do mesmo jeito que sempre fazia quando queria tirar a paciência de Anancy e sorriu levemente de canto_ como eu poderia ir para qualquer lugar sem antes ver seu rosto uma última vez?_ deu de ombros.
Anancy arqueou a sobrancelha_ sério?
– Mas é claro, onde mais eu conseguiria ver essa carita? Não é fácil ver rostos tão belos mergulhados em derrota_ provocou, alargando ainda mais seu sorriso.
– Mas você pode simplesmente se olhar no espelho_ retrucou Ana calmamente e depois suspirou_ me parou para isso?
– Na verdade não, a noite ainda é uma criança, a gente pode sair para beber algo_ propôs.
Anancy soltou uma gargalhada contida_ a gente?_ perguntou ainda incrédula.
– Eu e você, você e eu, nós dois, uma saída antes da minha viagem_ deu de ombros.
– E porquê nós sairíamos juntos? Não é a primeira vez que você viaja, isso não é motivação suficiente.
– Talvez eu não volte mais, talvez essa seja a última vez que você me verá, não vai perder nada em sair comigo_ argumenta.
– Além do meu tempo_ ela balbucia_ mas você tem razão, não perco nada mesmo, além disso você paga_ avisou.
Mikhail abanou a cabeça rindo_ porquê eu não estou nada surpreso?
– Você convida, você paga nem_ dá de ombros e chama Rowena que estava um pouco afastada deles.
– Sim senhorita?!_ a mulher de 29 anos, fala respeitosamente após se aproximar de sua chefe.
– Eu vou sair com o Reznikov, ele vai me levar pra casa depois, você e a Elise podem ir descansar_ avisou.
– Tem certeza?_ a morena perguntou cautelosa.
– Tenho, não se preocupe_ Ana assegurou, e mesmo não confiando plenamente a segurança de sua chefe para Mikhail Reznikov, o homem cujo nome é temido por supostamente ter ligações com a Bratva (nada confirmado, mas ainda assim), Rowena não viu outra solução se não deixar a mais nova ir e monitorar tudo para não perde-la de vista.
– Como quiser senhorita Williams_ respondeu ela assentindo_ se precisar de mim não hesite em ligar_ avisou.
– Não irei_ Anancy assentiu e olhou para o russo_ podemos ir?_ perguntou.
– Claro_ ele assentiu e deu passagem para ela seguir na frente, em direção ao Rolls-Royce.
Antes que ela levantasse a mão para abrir a porta do carro, ele o fez de forma cavalheiresca, abrindo a porta de passageiro para ela e fazendo Anancy o encarar com a sobrancelha arqueada e ele sorrir. Ela se acomodou, ele fechou a porta, deu a volta e olhou para seu motorista e seu chefe de segurança.
– Dmitri, vá para casa com o Viktor, estão dispensados por hoje_ avisou para a dupla, que se entre olhou_ todos_ acrescentou para que não houvesse dúvidas sobre os outros 9 homens que também andavam na sua cola.
– Sim senhor!_ respondeu Dmitri prontamente.
Os dois homens nunca em sua vida questionariam uma ordem direta de Mikhail, na verdade, nenhum de seus homens em sã consciência o faria, por isso assim que Dmitri respondeu, os dois se dirigiram ao carro onde os outros homens estavam, a fim de dar a ordem e saírem rapidamente de lá.
Mikhail por outro lado entrou no carro e olhou para Anancy.
– Dispensou seus homens? Que planos maquiavélicos você têm, Reznikov?_ perguntou ela, se virando um pouco de lado, para olhar nos olhos dele.
– Um deles, é deixar você com um gostinho de quero mais, Anancy_ ele respondeu sem desviar o olhar do dela. A forma como ele proferiu o nome dela fez com que uma corrente elétrica percorresse o corpo de Anancy, mas ela não desviou o olhar e ele muito menos, as mãos de Mikhail estavam no volante mas queriam estar percorrendo o rosto de Anancy, as mãos de Anancy estavam em seu colo, mas queriam estar acariciando o cabelo dele.
Mais uma vez, os dois lutavam com seus subconscientes na intenção de fugir ao desejo louco que sempre sentiram um pelo outro.
– Bem, melhor irmos_ Anancy quebrou o contato e olhou para frente.
– Tem razão_ ele deu partida no carro, seguindo para seu restaurante predileto.