capítulo 05

1471 Palavras
WAHLK. A vida só pode está de brincadeira comigo. Jogando com minhas inseguranças e fazendo questão de me deixar o mais louco possível. Como é possível que, depois de tudo, Kevin simplesmente decidiu vir comigo?? Mesmo depois de ter deixado bem claro que m*l me suporta e que quer manter o máximo de distância entre a gente? Eu só queria um tempo para mim. Ficar alguns solstícios apenas com os meus pensamentos, minhas lanças e adagas, mas agora também tenho Kevin a apenas alguns passos de distância e fazendo minha mente me torturar com cenas que nunca vão acontecer. Será que eu deveria... Tentar de novo? Não. Provavelmente não. Ele já deixou bem claro que não quer nada, mesmo sendo meu parceiro. Então insistir só vai deixar ele mais raivoso (mais do que normalmente é) e tentar voltar para a caverna da tribo sozinho. Mas e se...? Balanço a cabeça para os lados para tentar me livrar desses pensamentos bobos e abaixo-me ao lado da pilha de armas para pegar o um par de adagas longas, mas finas. — já vai caçar?— Kevin pergunta, ainda sentado na cama. Confirmo em um único aceno, erguendo o olhar para encara-lo. A pele pálida e com pequenas manchas aqui e acolá está corada; e mesmo tendo o tocado apenas uma vez (quando ajudei Will a tirá-lo do negócio estranho em que estava preso), sei que ela é absurdamente macia, assim com Yake disse com aquele olhar apaixonado enquanto nos contava sobre seu parceiro e eu virava o rosto para mascarar minha inveja e raiva (raiva de mim mesmo por não conseguir ficar feliz o bastante por um dos meus únicos amigos ter conseguido tudo que sempre quis). — então eu vou com você.— ele declara após alguns instantes, indo calçar as botas que tirou dois minutos atrás. Abro a boca para dizer alguma coisa, mas o que eu posso fazer? Lhe impedir de ir comigo para que minha sanidade (que já não é das melhores) não fique abalada por causa da aproximação?? Merda. Vou até onde as lanças estão e pego a mais pesada, ciente de que ele está a apenas um passo de distância. É quase como se eu conseguisse sentir o calor do seu corpo mesmo a distância... Engulo o grunhido de desgosto que quase escapa pela minha garganta e começo a andar em direção a saída. Meus passos são silenciosos, apesar do meu tamanho, mas o que mais dificulta a caçada é a cor chamativa da minha pele que se destaca automaticamente em meio a toda a neve; então ser silencioso e rápido é essencial para manter o elemento surpresa. Isso é: quando o animal em questão fugiria no primeiro sinal de perigo. Outros seriam atraídos para mim, achando que eu seria uma presa fácil; exatamente como o... Fecho os olhos com força e mudo minha linha de raciocínio; sentindo as cicatrizes pinicarem como se garras e dentes invisíveis estivessem passando lentamente por cima delas. Assim que saímos da caverna, uma brisa gélida passa pelo corpo, indicando que estamos contra o vento; o que é o ideal para manter nosso cheiro mascarado. O vento não causa nenhum efeito em mim, mas pela pressa de Kevin em se enrolar na capa, sei que seu corpo, com toda certeza, não está preparado para esse clima. Nós caminhamos em silêncio em direção a pequena floresta. Kevin passa a lança dele de uma mão para outra várias vezes, como se usasse isso para se distrair. Olho para o céu e percebo que a posição das luas está um pouco estranha e o dia está menos frio que o normal para essa época. Herse, a lua vermelha que sempre está quase na linha do horizonte, está um pouco maior do que o normal, como se estivesse mais próxima do planeta. As outras duas estão iguais, só que mais próximas uma da outra e estão refletindo mais luz que o normal. Isso indica que um eclipse está próximo. Bem próximo; na verdade. Nós descemos a colina coberta de neve em silêncio, mas o som da sua respiração é bastante alta, embora seja compassada. Quando chegamos na linha das árvores, atravesso os arbustos espinhosos sem nenhum problema, pois os espinhos não conseguem penetrar na minha pele. Mas esse parece não ser o caso de Kevin, que tem que desviar cuidadosamente de cada arbusto. Lembro-me de como sua pele é macia... Porra! Por que eu já estou pensando nisso novamente?! — ãh... Que animal a gente está procurando mesmo?— ele diz depois de algum tempo. O seu cabelo está meio espetado. — qualquer um.— digo, andando entre as árvores enormes e observando o chão para ver se não há rastros ou indícios de algum animal em especial (embora ache que numa floresta pequena como essa não haja muitas opções, isto é: se houver opções). Kevin me segue enquanto adentro ainda mais no aglomerado de árvores. Agradeço o seu silêncio, pois é meio difícil caçar com barulhos muito altos. Encontro algumas pegadas pequenas típicas de um Zaif. Elas levam direto até um buraco no chão. — olha!— Kevin diz baixinho, apontando para a toca, onde um pequeno ser branco como neve aparece. O Zaif é maior do que a maioria que eu já vi; tem enormes olhos pretos; um focinho alongado e seus pelos claros são meio espetados. — parece um porco-espinho. — Kevin diz (não faço ideia do que seja isso), com um pequeno sorriso no rosto, antes de erguer a lança e apontar para o Zaif, que continua parado lá nos encarando com aqueles enormes olhos curiosos. Antes que ele arremesse a lança, seguro o seu braço e o impeço de fazer isso. Uma sensação estranha sobe pelo meu próprio braço assim que nossas peles se tocam, Ele tem músculos duros e firmes, mas a pele sobre eles é tão macia que me pega de surpresa. — o que foi?— ele levanta uma das sombrancelhas enquanto abaixa a lança. Tiro minha mão dele antes que ele note faça alguma coisa em relação a isso. — Não matamos Zaifs. Dá azar. — explico, além de que o gosto não é dos melhores. — você disse "qualquer animal". — qualquer um, menos esse. — explico. Então um som baixinho aos nossos pés nos faz olhar para baixo rapidamente, dando de cada com o Zaif, que veio cheirar nossas botas. — ãh... Xô! — Kevin diz, dando um passo para trás; mas o bicho parece ter gostado dele, pois o segue e fica chiando enquanto faz um ziguezague entre as suas pernas — merda. Eu não sou muito fã de animais.— murmura ele, mas se abaixa para tocar o pelo espetado e branco do Zaif, que quase alcança seus joelhos. — é melhor não fazer isso. Ou ele vai te seguir pelo resto da vida.— explico, além de que esse carinha precisa encontrar um abrigo rapidamente, caso queira sobreviver ao eclipse. Quando ele finalmente se livra do animal, nós continuamos andando entre as árvores, em direção ao coração da floresta. Os minutos se passam rapidamente, até que eu paro de andar ao escutar um farfalhar vindo da copa das árvores, que com certeza não é obra do vento. Fico imóvel e olho para cima rapidamente, sinalizando para que Kevin fique em silêncio. Ouço o som novamente. Como se algo grande estivesse tentando se equilibrar de forma discreta e silenciosa em galhos finos; mas eles rangem um pouco, mesmo que o som seja quase inaudível. Respiro fundo e avanço contra Kevin o mais rápido possível, nos jogando dentro de uma moita (que por sorte, não tem espinhos). — o que foi...— ele começa, mas eu tampo a sua boca rapidamente. — Shhhh.— sussurro, sem conseguir esconder o sorriso que se forma nos meus lábios. Faz tanto tempo que eu matei um desses!! E talvez eu consiga impressionar meu parceiro... MERDA! PORQUE TODOS OS MEUS PENSAMENTOS ME LEVAM ATÉ ELE?! Saio de cima dele e abaixo-me para ver entre a folhagem. Não preciso olhar para ver que ele está fazendo o mesmo; tentando encontrar o que quer que seja que estou tão animado para matar. — não estou vendo nada.— o seu sussurro é tão baixo que só tenho certeza que não foi fruto da minha imaginação porque vi seus lábios se movendo com minha visão periférica. Não ouso abrir a boca para responder, com medo de que as palavras saiam altas demais e assustem o animal. Os segundos seguintes são preenchidos por um silêncio tão estático que chega a ser anormal; até que um bater forte de asas ecoa entre as árvores. Kevin abre a boca para sussurrar alguma coisa, mas as palavras morrem assim que o Talak imenso pousa na clareira e bate as asas encouraçadas, mostrando toda sua imponência.
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