capítulo 06

1312 Palavras
KEVIN. Paraliso no lugar quando aquela coisa pousa a poucos metros num estrondo gigantesco, quase fazendo o chão tremer! Wahlk parece bastante satisfeito ao meu lado e dedida os segundos seguintes para admirar o outro Alienígena. O bicho parece ser uma versão mutante e mais assustadora de um pterodáctilo. A pele é de um preto tão intenso e lustroso que parece petróleo, além de ter um par extra de asas ossudas um pouco abaixo de onde ficam as maiores. O bicho fica lá encarando as árvores por algum tempo, fazendo um som esquisito e aspirando o ar, como se sentisse alguma coisa. Prendo a minha respiração, como se isso inutilmente fosse impedir do nosso cheiro se espalhar por aí. Mas quando ele vira o focinho estranhamente longo e espinhoso na direção do arbusto em que estamos escondidos, sinto que fomos detectados. Wahlk se move tão rápido que tudo que vejo é um borrão de azul. O som de algo cortando tanto o ar quanto o silêncio bruscamente me faz tentar dar um passo para trás e... cair de b***a do chão como um pateta. O bicho solta um grasnado estridente, antes de começar a se debater sem parar, fazendo as quatro azas escuras girarem e sacudirem para todos os lados. Wahlk levanta tranquilamente com um olhar frio, então caminha até lá e corta a garganta do bicho com uma das facas, fazendo o alienígena alado parar de se debater instantaneamente. Levanto do chão e limpo a terra e os pedaços de neve da b***a, antes de sair dos arbustos e caminhar até lá. — O que é isso?— pergunto, sem desgrudar os olhos da criatura. Noto pela primeira vez a lança atravessando pouco abaixo de uma das omoplatas. Da garganta escorre um sangue tão preto quanto a pele encouraçada, tingindo o chão e criando uma poça que cresce a cada instante. — um Talak. São raros, e a carne é muito boa.— ele diz, com os cantos da boca levemente levantados e uma expressão um tanto convencida, Isso faz com que as covinhas profundas apareçam e a cicatriz que atravessa um pouco do lábio inferior ficar um pouco mais visível. — eu não vou comer essa coisa.— digo por fim, fazendo a sua expressão de felicidade sumir um segundo depois. Ele me encara por alguns segundos, antes de dá de ombros. — bom. Sobra mais para quem quer.— diz ele com uma voz desprovida de emoção, o que faz meu ficar um pouco surpreso, antes de pegar o Alienígena alado pelas asas e o jogar por cima dos ombros. Wahlk pega a lança suja de sangue n***o do chão e começa a andar por onde viemos em total silêncio, sem olhar por cima dos ombros para ver se estou o seguindo ou não. O que caralhos deu nele?! Segurando um gemido de desgosto, aperto a minha lança com força e o sigo. (***) Quando chegamos na caverna, Wahlk joga o bicho no chão, se ajoelha e começa a fatia-lo ainda sem dizer absolutamente nada. Fico meio em dúvida sobre se devo me jogar na cama e ficar sem fazer nada; pegar o objetivo mais próximo e atirar na cara dele, ou ir lá ajudar o mudo a destroçar a carcaça. Por fim, caminho até lá e me abaixo ao seu lado, tomando cuidado para não pisar na cauda azul que está estirada no chão. Isso é tão estranho que me faz ficar longos segundos a encarando. — precisa de ajuda? — hum... Você pode segurar as asas enquanto eu às corto.— ele responde, levantando uma das sobrancelhas, como se ainda não estivesse acreditando que estou oferecendo ajuda. Eu deveria ter ficado parado lá e jogado uma pedra na cara dele. Sem dizer nada, pego uma das as negras e a estico o máximo que consigo, fazendo-a ficar com quase dois metros de diâmetro. O couro das asas é tão fino que parece uma folha de papel, mas é super quente e parece ser bem resistente. Wahlk segura na base da asa e a corta fora rapidamente, fazendo um pouco de sangue escuro respingar no seu rosto e no peitoral azul. Involuntariamente, meu olhar vai até lá e analisa os músculos com pontos de sangue preto. Desvio o olhar e pego a próxima asa, esticando-a como fiz com a primeira. Wahlk também começa a cortar a próxima, sem fazer menção alguma de que vai limpar as gotas de sangue do corpo. Meu olhar recai sobre uma gota que fica um pouco em cima do olho esquerdo. Ela desce lentamente. E o desgraçado não faz nenhum movimento para limpa-la. Merda. Esse é um péssimo momento pro meu TOC atacar. tento desviar o olhar, mas mesmo fazendo isso, sei que aquele maldito sangue está descendo pela pele azul e em algum momento vai cair no olho. Soltando um grunhido de pura agonia, avanço e passo a mão no seu rosto para limpar o sangue. Meus dedos roçam os pequenos negócios duros q ele tem no topo do nariz (e em boa parte do corpo), mas retiro-os de lá antes que o tempo de contato ultrapasse mais do que uns dois milissegundos. Ele Arregala os olhos e me encara, um pouco atordoado. Ignoro-o e continuo segurando a asa, rezando para que ele não pergunte nada e volte a cortar o bicho. O que graças ao bom Deus, acontece. (***) Quando terminamos, há quatro asas pretas dobradas cuidadosamente e colocadas na parte mais funda da caverna. Quando perguntei para que Wahlk estava guardando elas, ele disse que o couro é bom para fazer roupas e botas depois de seco. A carne cortada em fatias super finas assumiu um tom estranho de cinza depois de todo o sangue escuro ter escorrido, parecido com carne de peixe. Mas ainda não sei se vou comer esse negócio. Wahlk saiu faz alguns minutos para se lavar e tirar todo o sangue. Eu simplesmente lavei os braços com um pouco de água que tinha aqui, fazendo uma nota mental para encher os recipientes de água depois para enfim tomar um banho de verdade. Ouço o som dos passos dele pouco antes do próprio aparecer na entrada da caverna, com pequenos flocos de neve no cabelo e a pele brilhando, onde provavelmente a neve derreteu devido ao calor que ele emana. Dou uma encara discreta enquanto finjo está repuxando os fios da minha capa. Ele tem mais músculos do que é humanamente possível (e como ele não é humano, acho que está tudo bem); não faço ideia do que sejam aqueles pequenos carocinhos na pele de todos eles; as cicatrizes ficam um pouco mais visíveis devido a luz amarelada da fogueira, mas elas não o deixam... Menos... Atraente? Bonito? Não sei nem porque estou pensando nisso, na verdade. Admito que tenho um pouco de curiosidade sobre elas, mas não sei se seria adequado perguntar sobre, pois ainda não nos conhecemos o suficiente. Ele pega alguns pedaços de carne e espeta em uma das flechas de osso, antes de colocar sobre a fogueira, me fazendo franzir o cenho e dizer: — pensei que vocês gostavam de comer a carne crua.— a frase sai no exato momento que ele pega outro pedaço e começa a comer, rasgando com as presas afiadas como se fosse papel. — é para você.— ele responde, me olhando de relance. Os olhos azuis ficam estranhamente fluorescentes devido a luz da fogueira. — eu disse que não queria.— murmuro, esperando que ele proteste ou tente me fazer mudar de ideia, mas Wahlk simplesmente dá de ombros, com indiferença, e continua comendo sem me encarar. Que p***a está acontecendo aqui? Solto um suspiro e pulo da cama. Meus passos ecoam pela caverna enquanto eu caminho até a fogueira e sento do lado oposto ao que ele está, para esperar a maldita carne ficar pronta.
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