Capítulo Três

1174 Palavras
Rubí É domingo e ainda estou na cama, acho que deve ser meio-dia e está fazendo muito frio. E quem está aqui do meu lado é o meu namorado, ontem ele veio aqui depois que saiu do seu turno. A noite foi boa, pedimos comida no iFood, claro que paguei, porque o Bruno não tinha dinheiro. Nós nos divertimos muito, demos boas risadas com uma série que assistimos na Netflix. Foi tudo perfeito. Estou muito ansiosa, não paro de pensar que é amanhã que começarei a trabalhar no Montenegro Company. E meu celular começa a tocar. Imediatamente me levanto da cama, com cuidado para não acordar o Bruno. Vou até a minha bolsa que está perto da cama, pego o celular e coloco a mão no alto-falante para abafar o toque, saio do quarto, encosto a porta vou para cozinha. Vejo que é a Carol. Raios! Por que está me ligando? — Oi? Nem no domingo você me dá folga? — sussurro, dou uma espiada para o quarto ver se o meu namorado não levantou. Acho que não. Continua dormindo, que bom. — Nossa, que mau humor hein? — reclama. — Ih, nem pra isso ele serve, melhor trocar de namorado. — Volto pra cozinha, encostando na pia. Dou aquela bufada pelo comentário da minha amiga. — Tivemos uma noite ótima, tá — digo, ela resmunga alguma coisa na linha que ignoro. — Também estou mega ansiosa pra amanhã. — Depois eu que sou ansiosa, né? — ela diz, me zombando no outro lado da linha. — Vem cá, você já contou para o Bruno que você começa amanhã? — Ainda não... Mas sei que não vai gostar nadinha disso — digo, com celular no ombro enquanto estou pegando o pó de café do armário. — Por enquanto é melhor ele não saber. — O que é melhor eu não saber? — Dou um salto que derrubo o pó de café na pia e o celular no chão, pelo susto que ele me deu. — Que isso, gata, está devendo? — pergunta, sorrindo, e se abaixa para pegar o celular que caiu. Em seguida me entrega, depois vai na pia e limpa a sujeirada que fiz. Fico por um tempo observando ele. — Que foi, gata? — especula, ao se virar de frente para mim, apoiando as mãos na pia. Ele está me fitando, Bruno está usando uma regata branca e uma cueca boxer preta, ele não é aquele tipo de caras fortes e malhados, pelo contrário é magro, mas um magro bem definido e com aqueles olhos castanhos levemente puxados me encarando. Como vou dizer a ele que consegui o trabalho dos meus sonhos. Pensa, Rubí! Pensa! — Rubí? Rubí? — Escuto alguém me chamar, olho para o Bruno e ele faz um sinal apontando para o celular que estou segurando. Então, lembro que estou na linha com a Carol. Esqueci completamente. — Oi? Carol, estou aqui. — Aponto para sala que preciso falar com a minha amiga e Bruno balança a cabeça concordando. Saio da cozinha indo para o outro cômodo, pelo menos ganho um pouco de tempo para criar coragem, para contar ao meu namorado que conseguir o trabalho no Montenegro Company. — Oi, amiga, desculpa. Aconteceu uma coisinha aqui em casa — digo, me ajeitando no sofá. — Sério? — pergunta. — O que o Bruno aprontou agora? — Não fala assim, Carol — sussurro, chamando a sua atenção. — Mudando de assunto, não sei como dizer ao Bruno que vou trabalhar na empresa... — Inclino para frente, dando aquela espiada na cozinha, se ele não está nos ouvindo. — Garota, para de graça fala que você mandou o currículo e foi chamada. É assim que acontece quando manda um currículo, tu sabe? — ela diz em um tom de ironia. — Eu conheço o meu namorado, sei que quando contar ele não vai gostar nada. — Encosto no sofá, encolhendo os ombros. — E também ele é muito ciumento. — Rubí, minha linda, escute aqui. Isso não é ciúme e sim, posse. Você não é objeto dele, acorda! — ela fala um pouco alto, afasto o celular para não ficar surda. E acrescenta. — E se me lembro isso é seu sonho, não? Como foi difícil terminar sua graduação, noites em claro estudando e ainda você fez de tudo para fazer aquela pós-graduação, vai desistir por conta desse traste do seu namorado? — Carol! — advirto. — Ok, ok. Foi m*l, mas é verdade, miga. Então fala a verdade, se ele gosta mesmo de você não vai ser contra. Ou prefere ele saber por outra pessoa? — indaga. Tenho que concordar que ela está certa. Criar coragem e contar pra ele, não posso deixar ele me controlar desse jeito. — Está bem, vou fazer isso. Obrigada — digo com zelo. — Pra isso que servem as amigas. — Sorrio. Agradeço mais uma vez e desligo o celular. Levanto-me do sofá vou para a cozinha, assim que entro ele está debruçado no balcão. Vai lá Rubí. Você consegue. Aproximo-me e faço um carinho no seu braço, ele olha de lado para mim, está com um semblante sério. Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha, quando vou dizer algo ele leva seu braço ao redor da minha cintura, vindo pra cima de mim e me beija, sua língua invade o céu da minha boca, me deixando perdida nos seus lábios que me entrego completamente. Ergo meus braços na altura do seu peito, me afastando dos seus carinhos, sei que vou me arrepender por isso. Me fita sem entender porque fiz aquilo. — Achei que estava gostando? — Leva a sua mão no meu rosto e faz um carinho, fecho os olhos sentindo o seu toque. — Bruno, tenho uma coisa para te dizer... — Pego na sua mão e a tiro do meu rosto. — Mandei o meu currículo para empresa Montenegro Company Advocacia... — Dou um passo para trás, apoiando-se no balcão da cozinha. E acrescento. — Na sexta-feira eles me ligaram e fui aceita para começar amanhã... — Uau... Que maneiro... — Força um sorriso, a voz está rouca e desanimada. Se vira dando as costas pra mim, que vai para o quarto que fecha a porta com força. Ok, sabia que não ia ser uma recepção calorosa. Mas essa atitude foi demais, me ignorando completamente. Vou atrás dele? Ele aparece na cozinha com o semblante diferente. — Olha... Sei que tenho só dado mancada com você... — Levo a mão no peito. Não diz isso, Bruno. Tento me aproximar, ele me pede para ficar onde estou e em silêncio. Balanço a cabeça que sim. — Sei que você ralou muito naquela faculdade, noites em claro estudando. Ralou mais ainda para conseguir aquele tal de pós... — Fico aqui observando, falando daquele jeito, me faz lembrar da minha amiga Carol. As mesmas palavras... — Trabalhar nessa empresa é seu sonho... Então, eu dou meu total apoio... — Fico sem palavras. Não estou acreditando nisso, fui pega de surpresa.
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