Belisário não era muito de falar. Não é uma piada pelo fato dele ser s***o/mudo, mas pelo fato dele realmente não interagir muito com as pessoas. Nosso protagonista sempre anda pelos corredores da casa com um livro na mão, estudando, lendo e assistindo novelas legendadas. Ele é um admirador das webnovels que estão aos montes na internet, mas ainda assim, é extremamente inteligente em tudo o que faz e "fala".
— Ele fala em LIBRAS? — questionou Pedro.
— Sim, você também?
— Óbvio.
É claro que ele fala em LIBRAS, certo? Maravilhoso como é, não deixaria de saber. Pedro aproveitou a atenção de Belisário e ergueu as mãos fazendo sinais em LIBRAS.
Belisário respondeu os sinais com outros e sorriu.
— O que foi que disse ao meu menino? — perguntou a superprotetora.
— Disse que a continuação daquele livro é ainda melhor.
— E o que ele respondeu?
— Que irá comprar.
— É bom mesmo que ele continue lendo Edmundo e largue as fanfics.
— Deixando isso de lado, cadê a empregada?
— Já devia estar aqui. — rebateu irritada mexendo no celular.
Uma morena encantadora abriu a porta do play e caminhou em direção à mesa onde eles se reunião.
Ela possuía olhos negros tão brilhantes quanto uma estrela. Lábios vermelhos e provocantes. Longuíssimos cabelos negros esvoaçantes que escorriam sobre um corpo maravilhosamente combinado num vestido preto, florido em amarelo.
"Vulgar" — pensou a velha.
— Desculpe a demora. — disse a voz macia da empregada.
— Já estava na hora, viu? — reclamou.
— Prazer, Pedro, o advogado da família.
— Prazer, sou Débora, a nova empregada.
Como vimos anteriormente, Pedro, aquele armário em pessoa, se levantou e estendeu a mão. Débora até que tentou dar aqueles três beijinhos, mas ele se esquivou. Coisa rápida, nada sério. Dona Antônia foi quem levantou uma de suas sobrancelhas questionativas.
— Meu filho está ali, vá se apresentar. — se desfez da pobre empregada.
— Já volto. — respondeu.
Pedro se sentou.
— Já tenho a carteira dela, irei levar ao RH e assinarei.
— Faça aquele contrato de experiência antes, não gostei muito da cara dela.
"Mas ela nem fez nada". — pensou.
— Você é gay? — questionou.
— O que? — Pedro parecia não acreditar.
— Quero saber se é v***o, se não curte mulheres. Se dorme com homens.
— Olha, eu... — Pedro parecia escolher minuciosamente as palavras que deveria usar.
— Eu não tenho nenhum tipo de preconceito, porém, não quero pro meu filho me entende? Não faz sentido algum se preocupar com quem os outros andam dormindo. Independente de sua opção s****l, eu te aceito, tá? O importante é o ser humano que você é, e... — Pedro a interrompeu.
— Eu não sou gay, se é o que a SENHORITA acha.
— Então o que é?
— Sou arromantico.
— Como assim? — Dona Antônia estava realmente assustada.
— Tenho arrom... — Dona Antônia o interrompeu.
— Meus muitos cabelos brancos não estão preparados pra esse papo "LGBTQHYUOP+-x", entende?
Pedro balançou a cabeça positivamente.
"Há momentos em que não vale a pena conversar ou explicar coisas tão íntimas assim. Quanto menos me expôr, melhor". — pensou.
— Então eu já vou indo, tudo bem?
— Tem mais algumas coisas que eu preciso tratar contigo.
— Sou todo ouvidos SENHORITA. — Pedro simplesmente não para com o deboche.
Deixemos eles de lado agora, pois teremos um acontecimento um tanto quanto especial para nossa história.
Débora se colocou enfrente Belisário, pois como sabe que ele é s***o/mudo, não sairá tocando nele ou falando, querendo se apresentar. Pois mesmo que estas sejam reações normais para nós, não são para eles. Tocar num s***o/mudo aleatoriamente do nada, fará com que eles se assustem. Enfim, Débora ficou em sua frente, esperando ser notada. Belisário que estava lendo todo entretido, não havia se dado conta do monumento parado em sua frente. Mas o seu perfume lhe chamou atenção. Ele rapidamente focou seus olhos na bela visão que Débora emanava.
Belisário estava sentado numa cadeira com o livro na mão, enquanto Débora que é ligeiramente mais alta que ele, estava de pé, de frente pra ele, de costas para o sol.
"O posição que o sol fez, lhe iluminando pro trás, à faz parecer um lindo anjo". — pensou ele.
Débora gesticulou em LIBRAS — "Prazer, me chamo Débora, serei a empregada daqui pra frente".
— "Desde que esteja no meu raio de visão, não precisa falar em LIBRAS comigo o tempo todo, tá?" — gesticulou.
Não mencionei antes, pois esperei o momento exato para tal, mas agora devo dizer que Belizário é um jovem que realmente não aparente ter 23 anos, pois é tímido e isolado demais pelo simples fato de não sair de casa. Sua beleza e maturidade caminham de mãos dadas com sua infantilidade. E tudo isso é graças à mãe superprotetora que o isolou do mundo só pra reclamar que ele passa tempo demais lendo histórias na internet.
Belisário é dono de uma pele não tão pálida, mas um tanto amarela. Sabe? Além de possuir um cabelo liso, cheio, não escorrido, mas naquele formatinho redondo, me entende? Parece um pouco com aquele cabelo dos integrantes do RESTART ou do BDS. Ele nunca foi de ligar para sua aparência, mas é certo que sua franja às vezes lhe incomodava.
— Que bom! Você consegue ler os lábios então?
Belisário balançou a cabeça positivamente.
— Ótimo, assim eu poderei falar sem me preocupar que você irá me entender, certo?
— Desde que fale de vagar, pausadamente e sem muita raiva, eu consigo ler os seus lábios perfeitamente. — sinalizou.
Débora então, se aproximou perigosamente do perímetro de Belisário. Ele pode sentir o doce cheiro que ela tinha, bem como admirar mais de perto sua boca e se atrever à encarar seu decote.
"Ela vai me beijar?" — pensou.
"ELA VAI BEIJAR?" — imaginou Dona Antônia.
"PQP" — foi o único palavrão que Pedro conseguiu imaginar.
— Você tem um rosto tão bonito e olhos tão perfeitos que não deveria cobri-los assim. Corte a franja. — disse a empregada.
Ela passou a mão na franja de Belisário, a jogando para cima do cabelo, ao mesmo tempo em que alisou o rosto do menino.
— MENINA! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO COM O MEU FILHO? — exclamou a velha.
Pedro não aguentou e caiu na gargalhada.
Belisário não estava entendendo nada, ficou tão concentrado em olhar e encarar outros lugares que se esqueceu de ler os lábios. No momento em que Débora olhou para o lado, em direção à Antônia, Belisário, muito distraído, encarou a mãe de volta, completamente perdido nos trejeitos de Débora. Chegou a deixar o livro cair, fazendo escapar o marcador de paginas, bagunçando todas as suas anotações e amaçando as folhas.
— Perdão! — desculpou-se Débora, tirando a mão no rosto de Belisário.
— Quero que arrume a casa e faça companhia pro meu filho e não passe o rodo nele, fui clara? — brigou.
Débora e Belisário seguraram o riso ao notarem que enquanto Dona Antônia os encarava reclamando, Pedro estava ao seu lado girando o dedo indicador ao redor do ouvido direito.
— Ela é doida, não liga pra isso não. — mexeu com a boca sem emitir voz.
Belisário brincou de volta com sinais em LIBRAS que diziam: "Pedro, eu sou s***o/mudo e não cego.
Pedro ficou sem jeito e Débora riu ainda mais da piada.
— É sério Dona Antônia, eu preciso ir. Tenho assuntos a resolver e problemas para esquecer.
Pedro se levantou.
— Amanhã eu trago a sua carteira assinada, ok? — disse olhando para Débora.
— Ok! — sinalizou.
Pedro deu um xau para Belisário que respondeu de volta. Dona Antônia também se despediu.
— Depois me apresenta o seu namorado. — sussurrou baixinho pra ninguém ver.
Pedro balançou a cabeça sorrindo.
"Essa velha é doida".
Ele se retirou com a mão no celular a fim de falar com Geraldo, seu pai.
"Agora vamos ao nosso outro problema". — pensou enquanto ligava.
Dona Antônia se levantou e fez um sinal de mão para seu filho entender que precisam subir.
— Vamos garota, preciso te apresentar o condomínio, as normas, regras e leis.
Dona Antônia era um pouco chata, mas gente boa.
Como bem mencionei no capítulo anterior, ainda estamos na Zona Norte, mas num condomínio de luxo. Um pouco caro para a região.
O lugar é mais conhecido como a “Urca da Zona Norte”, por conta do seu clima de interior predominante na região, o bairro dessa vez é o Grajaú que está localizado na região da Grande Tijuca.
Ele é considerado um dos melhores bairros para morar na Zona Norte da cidade, sua origem é completamente diferente dos bairros que ficam em seu entorno, pois essa é uma das pouquíssimas vizinhanças do Rio de Janeiro que de fato foi planejada. Essa é uma característica extremamente importante para todos os muitos aspectos positivos da região, já que é o principal motivo da sua boa infraestrutura e do seu nível elevado de qualidade de vida.
Caso algum dia você estiver à procura de um lugar para morar no Rio de Janeiro, esse bairro certamente lhe parecerá agradável.
Belisário e Dona Antônia moram no condomínio Nova Época, o autointitulado "melhor condomínio da região". Poderia perder tempo apresentando às muitas coisas que temos por aqui, mas não narro um post de vende de imóveis, mas um romance, então, seguimos.
Dona Antônia estava na frente, dando suas ordens, enquanto Débora e Belisário seguiam o cortejo, um atrás do outro.
— Você tem que chegar às sete horas da manhã, certo? Eu tenho reunião quase todos os dias. — disse Antônia enquanto chamava o elevador.
— Não sei se consigo Senhora... — respondeu sem graça.
Dona Antônia se virou furiosa. Débora se assustou. Belisário, perdido, esbarrou em Débora e deixou mais uma vez seu livro cair.
Antônia esticou a cabeça um pouco para o lado, a fim de ver seu filho.
"Tadinho, muito perdido esse menino".
— Então... — Débora ameaçava continuar a conversa.
— Ótimo querida, temos dois quartos de hóspedes, fique com o que está mais distante de Belisário. Tenha modos com as roupas que irá usar e mantenha o respeito e a harmonia da casa.
— Eu po... Posso... Posso dormir aqui?
— É claro menina, eu preciso de alguém em tempo integral.
Débora nem escondeu a felicidade.
— Você tem namorado? — questionou a velha.
— Não, não. Mulheres como eu não chamam atenção.
O elevador chegou, todos entraram.
— Mulheres como você não chamam atenção? Quem está enganando?
As muitas palavras que Dona Antônia não parava de tagarelar, estavam sufocando o ambiente. Débora estava tonta de tanto escutar. Belisário que tinha sorte por ser s***o/mudo.
O elevador parou no quinto andar.
— Vamos, eu moro no cinquenta e oito.
— Engraçado, a Senhora me entrevistou no vinte e quatro.
— É meu também, uso como escritório.
— Você tem um apartamento inteiro como escritório?
— É lógico que não! — Dona Antônia parou enfrente a porta e enfiou a chave.
"Ufa" — pensou.
— Eu tenho três. — completou.
Ao entrar, Antônia tratou de apresentar os cômodos, mas como tinha uma reunião ao vivo, não poderia dar muita atenção a menina.
— Essa é uma das poucas reuniões que são online querida, você pode me fazer um café?
— Sim Senhora!
Débora caminhou até a cozinha. Belisário, perdido, foi atrás. Adorava tomar café enquanto lia um bom livro. Dona Antônia, ainda sentada na mesa da sala, esticou a cabeça olhando por cima da tela do notebook.
"Espero que essa garota não me traga problemas".
Na cozinha, Débora pôs a água para ferver e Belisário a mostrou onde guardavam o café. Nem preciso dizer que todas as conversar com ele, são meio quietas, certo? Mas ainda assim, ela buscou uma simpatia.
— Gosta mesmo de ler, não? — sinalizou.
— MUITO. — gesticulou animado.
— Adoro os livros do Edmundo! A forma como ele ama aquela morena misteriosa, é completamente diferente. Quisera eu ter uma paixão assim. — sinalizou.
Belisário se sentou numa das lindas cadeiras que tem na cozinha, deixa o livro de lado e começa: — Eu até que gosto dele, mas prefiro a Zoe.
Débora faz o mesmo, e continua gesticulando: — Gosto do livro deles juntos, mas não curto muito suas webnovelas.
Os dois estavam por ficar mais íntimos. Acredite, todo leitor de livros entra num mundo paralelo de conversas quando encontra alguém que também lê. Mas vamos deixar os pombinhos quietos por enquanto e voltemos à nossa protagonista.
Zoe abre mais uma vez o notebook depois de dois dias de descanso.
"Ainda estou com uma baita dor de cabeça, mas acho que agora posso voltar".
Ela não sabe, mas a dor de cabeça que sentia, alertava algo mais grave que viria a seguir.