CAPÍTULO 4

2357 Palavras
LEOPOLDO Eu era conhecido por ser cabeça dura e sempre insistir nas coisas que eu queria ou quando se tratava de fazer algo em relação sobre o que não deu certo pra mim. Como o caso de Grace, agora era questão de honra. Abri a porta do quarto e olhei para ela sentada, com um livro em mãos completamente distraída da realidade. Era até bonitinho ela assim, concentrada e se distraindo, tirando a confusão que ela fazia dentro da minha cabeça na maioria do tempo. O que me passava pela cabeça era quase uma loucura incabível dentro de mim e uma graça irracional, tentando alcançar uma pessoa indiferente comigo e logo afastada. A Grace que eu conhecia estava ali dentro. Eu iria trazer ela de volta. Era minha única chance. Eu tinha um time e eu precisava despertar ele de alguma forma para que ele gostava, precisava entender ela, saber o que levou ela terminar comigo e saber também se ela estava realmente ficando bem depois de tudo que houve. Embora fosse arriscado. Porra, as últimas três semanas dela havia se tornado um caos e agora eu estava querendo reviver algo que eu pensava que ela não havia esquecido, quando na verdade, bem ela poderia ter esquecido. - Atrapalho? - Ela baixa o livro e me olha. - Não, precisa de algo? Vejam como o rosto dela relaxa, mesmo com o rosto ainda r**m dos hematomas. Grace tinha a beleza delas, os olhos escuros que eu tanto gostava e a boca pequena que emitia um sorriso gracioso aos meus olhos. Olhos escuros como a noite e boca rosada como... Deixa pra lá. - Vêm comigo. - Já conversamos... - Por isso mesmo, por favor, você está aqui dentro o dia todo, esqueça o que aconteceu pelo seu pesadelo. Agora venha comigo, por favor. É importante. Ela agora fecha o livro e se levanta, passando a mão no cabelo e se aproximando, arrumando a blusa de alças finas e ajeitando a bermuda jeans. Bonita pra um c****e. Eu ainda fantasiava e sentia o mesmo desejo que eu senti por ela, ainda tava vivo em mim, mas vivo que nunca, mas intenso que nunca. Era ela, ela fazia meu corpo balançar e meu p*u ficar duro. Ficar assim envolvido com uma mulher por tanto tempo e terminar em algum momento causa um dado terrível, na verdade um que beira ao absurdo. Principalmente quando você tenta se envolver com outra pessoa, mesmo que pra um s**o casual. As coisas complicam. Não é quem você queria. Muitas vezes não chega nem aos pés. - Onde? - Na sala - Saio do quarto e noto que ela vêm atrás, até que para na sala, notando a poltrona escura, diferente da anterior, com um jogo mais sério sobre o móvel. - Você comprou uma poltrona? Era isso? Dou um sorriso. Bem. Era um investimento aquela mobília pra mim, de verdade, um investimento pra nós, eu e ela. - O que achou do meu consultório? - Ela olhou pela sala e depois para mim. - Muito prazer, sou doutor Leopoldo, serei seu psicólogo, quero que se sente e se abra comigo, como profissional. Ela não diz nada, mas suspira fundo, parece entender minha intenção com ela. Parece tentar entender onde quero chegar. - Isso é ridículo, sabe disso, não sabe Leo? - Tenho meu registro - Puxei a carteira e mostrei o meu registro de direito, não era pra psicologia, mas era um registro importante pra mim. - Sou apto para fazer isso querida, você disse que eu não era nenhum psicólogo, agora eu sou. Agora você pode abrir a boca e falar direito comigo. Quero saber onde fui tão r**m pra ser o pesadelo da noite passada. Ela se aproximou do sofá e se deitou no sofá marrom de veludo, eu peguei o caderno e a caneta, me sentando na poltrona. Aquilo era um bom sinal. Certo? Certo. Bem, eu só não sabia como começar, mas deveria, vi ela tantas vezes ouvir as pessoas e até eu antes, mas era engraçado, olhando agora me pergunto se ela confiava em mim para dizer tudo assim como fiz com ela. Seria isso? Ela não confia mais em mim? - Vamos brincar então Leopoldo, certo? - Não é uma brincadeira - Falo sério, quero que ela esqueça que eu sou eu, que eu quero escutar ela, ela de verdade, sem aquela covardia de não dizer o que a motivou a me deixar ou sobre tudo. - Vou falar com você. Comece. Ela incentivou e eu senti um pouco de esperança em fazer ela falar. Mas agora era calma. Grace já estava sentada no meu sofá. Não podia chegar perguntando o motivo dela me deixar e ter mudado comigo. Tinha que ir fundo. Começar no começo. Podia demorar? Podia. Mas para ela eu tinha a vida toda e essa viagem. Determinação era meu terceiro nome desde garoto, quando eu passava coisas ruins. Eu e ela tinha algo em comum, éramos ruins de história, não havíamos tido sorte. Não poderíamos comparar a vida de quem tinha sido mais complicada. Era isso que uniu a gente em algum momento. - Ótimo - Eu falei e me entreguei para aquilo da melhor forma que eu podia. - Comece se apresentando pra mim - Olhei para o relógio. - Temos uma hora. - Vai mesmo fazer isso? - Ela duvidou. Ah, meu amor, você devia saber que não se duvida de mim. Nunca. - Vou, comece Grace, apenas comece. - Certo - Ela sorriu e ficou olhando para o teto. - Eu me chamo Grace, devido uma cantora canadense do Sul que minha mãe gostava, dizia lembrar do meu pai, tenho vinte oito anos, nasci no dia 7 de Janeiro, nasci prematura - Ela sorriu. - Minha mãe e meu pai só tiveram eu, filha única, primogênita - Ela suspirou fundo dessa vez, eu sabia de parte daquilo. - Bem, eu fui um erro de cálculo dos meus pais, então foi por isso que não tive bem uma figura de pai e mãe. Ela era a boneca do meu pai que engravidou e não teve tanto brilho pra ele depois que nasci, sabem o que dizem sobre gravidez e suas mudanças e limitações. - Isso te influencia em algo hoje? - Ela sorriu, entrando naquilo. Sabendo que aquilo era o meu melhor, meio padrão, mas meu melhor. Eu torcia com força para dessa vez ela me explicar sobre mim. O que aconteceu entre a gente. Mas eu queria, se eu tivesse um poder mágico, apagar aquela história da vida dela, era que ela era, mas doía em mim o que doeu nela. Ela havia sofrido. Eu estive com ela. Inúmeras vezes eu vi ela chorar e em alguns momentos até se culpar amargamente de tudo aquilo. Era um inferno pra mim, mesmo estando ali, porque eu não podia fazer parar, podia estar ao lado dela, mas apagar aquilo não era possível. - Meu pai sempre me deu tudo que eu queria para não perturbar ele ou precisar dar a atenção que uma criança realmente precisava e minha mãe sempre ficou na dela com o espírito de ter e ao mesmo tempo ser um ero ter uma filha que fez a vida dela dar uma modificada, até meus dezesseis anos, quando peguei o meu pai com a secretária dele. Eu estava indo parabenizar ele, mesmo ele sendo um pai r**m eu gostava dele, ele não era como mamãe. Ele era autêntico e ao mesmo tempo egoísta, materialista e superficial. Eu havia comprado um relógio pra ele, as coisas está tranquilas, mas naquele dia as coisas ficaram difíceis e banais. Vi um lado que eu não queria, não dele ou de ninguém. - O que você fez? - Fiquei calada, porque foi ali que vi que meu pai traía a minha mãe, minha mãe que idolatrava ele, que dava tudo pra ele, não entendia o motivo ou o porque, era tão humilhante saber da traição. Minha mãe amava aquele homem mais que eu, ela também tinha o estilo narcisista de m***a, meu pai era maquiavélico e já fazia tempo que traia ela, não só com uma, mas varia - Nesse momento ela parou e olhou para mim. - Homens traem, sem nenhuma piedade. - Você acha seu pai c***l por fazer isso com a sua mãe? - Não muito, minha mãe era neurótica, meu pai meses depois fugiu com a mulher sem falar nada, deixando minha mãe sozinha, no fundo acho que ela já sabia, só que não falou também pra não o perder, ela poderia não admitir, mas poderia ter se afastando do meu pai, sei lá, inventar um motivo ou qualquer coisa, entende? Acho que ele fugiu porque achou mais fácil enfrentar minha mãe, ela era difícil, muito difícil. - Por que acha que ela não enfrentou seu pai sobre essa traição? - Medo de admitir que não tinha o casamento perfeito ou que iria perder ele. - Certo, então temos uma criança no meio traição e logo uma separação, como você era? - Eu tinha poucos amigos, até que comecei a ir em um fliperama jogar - Ela ficou seria, não esboçou sorriso ou empolgação. - Foi ali que conheci um cara, ele era diferente, delinquente, maluco e fazia coisas que nem pareciam erradas do modo dele fazer. Era inovador. Autêntico. Eu tive que sorrir. Era uma ótima definição pra mim. Bem, eu vendia maconha e vivia em uma situação precária, eu era um moleque quando conheci ela. Passei por crises também. Era disso pra ladeira abaixo até conseguir dar a volta por cima. - o que aconteceu depois que conheceu esse cara? - As coisas ficaram menos pesadas, ele dava ótimos conselhos, me ensinou a jogar e nos tornamos amigos, ótimos amigos. Ele era divertido, o dia dele podia estar uma m***a, mas a forma que ele insistia mexeu comigo. - Ficaram só amigos? - Ele me beijou. Eu lembrava, era pouco tempo antes do aniversário dela, eu havia dado algumas fichas de jogo, eu não tinha o luxo absoluto, mesmo mexendo com vendas de e**a aqui ou ali. Não tinha dinheiro como ela. Eu era pobre. Eu trabalhava pra viver. Mesmo não tendo nada eu dava algo bom pra ela, na época isso me fazia o garoto mais feliz. - Você gostou daquele beijo? - Eu nunca havia beijado, nunca mesmo, então sim, gostei, tinha gosto de hortelã. Gostava dessa parte da minha vida, ali eu era realmente uma menina normal. - Aquilo era seu lugar de descanso, não era, Grace? - Minha mãe descobriu rápido, em uma briga da gente ela disse que eu sabia sobre a amante do papai, só que nunca falei nada, colocou a culpa em mim e disse que foi tudo culpa minha. Ela não admitia que a culpa era dos dois, apenas dele. - Você se sentia culpada? - Um pouco sim. - Por que? - Talvez se eu tivesse abrido a boca e tivesse falado com o meu pai ele não teria fugido assim deixando ela sem estrutura nenhuma. Ele desapareceu no mapa, como se tivesse um super poder. - O que aconteceu depois? - Minha vida virou um inferno em casa, não podia chegar em casa que era maltratada, não era bem uma família, entende? Perdi minha família é foi h******l. Vi a voz dela tremer. - Você nunca mais viu seu pai, não foi? - Perguntei sabendo a resposta. - Meu pai me deixou, nunca mais me visitou, eu ainda tenho saudade do meu pai de alguma forma. Eu sabia o que era aquilo. Sorri pra baixo também. - Eu te entendo nessa parte - Entendia mesmo, porque eu também fui deixado pra trás, não só por um pai, mas uma mãe. Mas tendo uma tia, não a melhor do mundo, mas um pedaço de família pra chamar de minha - Continue. - Na minha formatura do colégio foi quase tudo bom, eu tinha o cara do fliperama comigo, mas nessa época ele passou por um processo, lento e demorado de mudança da vida r**m pra vida de estudo, foi nessa época que passei a conhecer outras pessoas e conversar. Fizemos um grupo de apoio bom, amizade daquela forma foi importante, mesmo que quando reunidos pareciam um grupo de apoio, o ex traficante de maconha, a abandonada e algumas outras personalidades que foi aparecendo. Ali eu tive um ciclo social e aquilo me deu confiança. Ele começou a trabalhar e eu acompanhei aquilo dele, foi incrível ver aquele garoto bagunceiro do fliperama arrumar um trabalho no hotel e ir se estabilizando sem fazer coisas erradas. Sorri. - Achava isso bom, não é? - Ela deixou um sorrisinho escapar e eu fiquei feliz por isso. - Você também disse.que fez amigos, como foi? - Bem, foi esse ciclo que me ajudou depois da m***a maior acontecer, porque depois da formatura eu fui pra casa, nesse dia minha mãe pegou uma lâmina e cortou os pulsos e a jugular, na minha frente, enquanto eu gritava e ela chorava e gritava comigo de volta, foi como ver de perto uma amostra do inferno naquele dia. Eu chamei socorro e tentei manter ela comigo, mas a vontade dela morrer facilitou tudo. Pelo menos ali ela teve coragem. Aí eu não tinha mais família de sangue, então as coisas foram difíceis, fiquei sozinha em uma casa enorme de grande. Meu relógio apitou e ela parou de falar, se levantando e ficando sentada. Não, não! - Se quiser pode continuar - Incentivei. - Não, regra número um de uma consulta, controle seu tempo. - Tudo bem. Certo. - Amanhã? - Ela ficou de pé e eu fui junto. - Claro. Talvez isso de certo Leo, só talvez. - Sei que vou entender o que aconteceu com você e comigo, certo Grace? - Certo Leopoldo, tudo bem. - Estarei aqui se precisar. Ela me deu as costas e saiu pelo corredor, só fui respirar fundo quando escutei a porta dela se fechar. Olhei para o caderno e olhei para o desenho de um sol. Parecia bonito, só faltava um brilho. Esse brilho tinha que vir dela.
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