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867 Palavras
Alguns anos antes... Aline narrando Eu corria o mais rápido que podia. Sentia os passos deles se aproximando, ecoando pelo estacionamento do prédio. Meu coração martelava no peito enquanto me escondia dentro de um carro destrancado. O cheiro de couro e graxa invadia minhas narinas, mas eu m*l respirava. Meus pensamentos estavam em um lugar só: Helena. Tudo estava indo tão bem... — Aline, é melhor você se entregar! — A voz de Carlos soou firme, mas com um tom de urgência. — Ela deve estar por aqui! — Leonardo gritava. — Olhem cada carro, cada canto. Minhas mãos tremiam enquanto eu enxugava as lágrimas que rolavam pelo meu rosto. Eu não temia a prisão. Meu verdadeiro medo era cair nas mãos de Maurício. Ele me encontraria em qualquer lugar e me levaria de volta para aquele inferno. Se isso acontecesse, ele exigiria saber onde eu estava esse tempo todo – e eu não podia, de jeito nenhum, colocar Helena em perigo. Por que eu fui tão ingînua? Quando aceitei trabalhar na casa de Carlos, não pensei nas consequências de estar tão próxima de dois policiais. Tudo o que eu queria era ficar perto dela. — Se você se entregar, podemos negociar sua pena. — Leonardo tentava convencer-me com sua voz firme e fria. — Só precisa colaborar. — Ela não vai se entregar. — Outro policial comentou com desdém. — Não dificulta as coisas, Aline. — Carlos parecia cansado. Os passos ecoavam ao redor do carro, cada vez mais próximos. Eu me encolhi, prendendo a respiração, mas sabia que não poderia me esconder para sempre. — Eu estou aqui. — Minha voz soou mais fraca do que eu esperava enquanto empurrava a porta do carro. Imediatamente, eles vieram em minha direção. — Encosta no carro, anda! — Leonardo ordenou, e uma policial chamada Maria começou a me revistar. — Ela está limpa. — Confirmou. — Algemem e levem para o camburão. — A decisão de Leonardo foi rápida e implacável. Quando nossos olhares se cruzaram, percebi a decepção em seu rosto. Talvez, se eu tivesse contado a verdade desde o começo, ele teria me ajudado. Enquanto me levavam, ergui o olhar para a janela do prédio. Dona Silvia estava lá com Helena em seus braços, observando a cena. Meu coração apertou ao ver o rostinho dela, tão pequeno, tão inocente. Na delegacia, a tensão na sala de interrogatório era quase sufocante. — Você está sendo presa por abandono de menor, falsa identidade e por ser cúmplice do traficante Maumau. — Leonardo enumerou as acusações com frieza. Eu nunca fui cúmplice dele, mas ser sua esposa fez de mim um alvo fácil para a polícia. — Você tem direito a um advogado. — Carlos acrescentou, mais contido. — Já chamamos um do Ministério Público. — Ou seu marido vai pagar um para você? — A provocação de Leonardo foi direta, mas eu mantive o silêncio. — O que vocês querem saber? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Carlos se inclinou para frente. — Queremos saber tudo, Aline. Desde que você conheceu o Maumau até como chegou aqui. Podemos te ajudar, mas você precisa confiar em nós. — E por que eu confiaria? — Minhas palavras saíram mais afiadas do que eu pretendia. — Porque confiamos em você por quase um ano. — Carlos rebateu sem hesitar. — Se não quiser falar, me avisa que eu te levo para a cela. — Leonardo não disfarçava mais a raiva. Mantive o silêncio. Isso bastou para que Leonardo fizesse um sinal, e um policial me levou para uma cela fria e vazia. A noite caiu, e o silêncio se espalhou pela delegacia. Eu tentava pegar no sono quando ouvi passos. A porta da cela rangeu ao se abrir. Senti algo quente me envolvendo. Abri os olhos e vi Leonardo. — Ainda está acordada? — A voz dele soou mais suave dessa vez. — Me perdoa. — Eu m*l conseguia segurar as lágrimas. — Eu não queria te enganar. Ele ficou em silêncio por um momento, me encarando. — Por qual das mentiras você quer que eu te perdoe? — Sua pergunta me cortou como uma faca. — Eu tinha medo, Leonardo. Eu ainda tenho. — Admiti. Ele respirou fundo. — Quer meu perdão? — Eu assenti. — Então conte tudo amanhã. Se fizer isso, eu prometo tentar te ajudar. Sem esperar minha resposta, ele virou as costas e saiu. Eu me encolhi em um canto, abraçando a coberta, e chorei em silêncio. Quando o dia amanheceu, um policial me levou de volta para a sala de interrogatório. Carlos e Leonardo já estavam lá, prontos para ouvir tudo. — Então, você resolveu falar? — Carlos perguntou. Eu assenti. — O que vocês querem saber? Leonardo fez um sinal para o escrivão. — Prepare-se para escrever. — Disse ele. — Onde você conheceu o Maurício? E quando? — Carlos começou. — Na praia, há seis anos. — Respondi, com a voz tremendo. — Quantos anos você tinha? — Leonardo perguntou. — Quinze. Carlos tamborilou a caneta na mesa, a tensão crescendo a cada palavra. — Você sabia quem ele era? — Não. Eu só descobri quando já estava grávida dele.
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