🕊️ CATARINA — QUINTA-FEIRA O sino bateu bem antes do que o sol ousava sugerir sua presença, um som grave e imperioso que não pedia, mas exigia atenção. A reverberação do bronze parecia cortar a névoa fria da madrugada, atravessando as paredes de pedra maciça do Convento e a minha alma ainda dormente. Mais cedo do que o meu corpo aceitava, mais cedo do que a escuridão da alma permitia. A badalada não era um convite suave, um chamado à oração tranquila do Ofício das Leituras; era um solavanco, um alarme de incêndio na rotina milimetricamente organizada da clausura. E naquela manhã, eu soube com a certeza fria de uma profecia: o som não era apenas um chamado, era um aviso. Um alerta de que eu estava prestes a cruzar a fronteira invisível entre a segurança da clausura e o campo minado do mu

