Capítulo 16. Festa escondida

1184 Palavras
A madrugada já havia passado do limite aceitável quando a “festa escondida” no salão de descanso ganhou vida própria. As luzes baixas deixavam o ambiente com um ar clandestino, proibido e por isso mesmo, irresistível. Músicas em volume controlado, risadas abafadas, gente sentada nos sofás, alguns dançando discretamente para não chamar atenção dos inspetores. Adrian estava no canto favorito dele: o sofá de couro escuro, estrategicamente posicionado para ver todo o salão sem estar realmente no centro. Ao seu redor, três de seus amigos conversavam animadamente, enquanto duas garotas luma loira de olhos grandes e uma morena cheia de atitude disputavam quem conseguia fazer Adrian rir mais. Ele, no entanto, estava só meio ali. Mantinha um sorriso polido, mas sua mente parecia orbitando em outro lugar. Até que a porta se abriu. E o ar, por um segundo, pareceu mudar. Eleonora entrou como se tivesse acabado de descer de uma passarela mesmo sem querer. Cabelos soltos em ondas impecáveis que caíam pelas costas descobertas, um vestido lilás acetinado que abraçava seu corpo como se tivesse sido feito sob medida. As alças finas destacavam seus ombros delicados; o tecido escorregava em curvas suaves, brilhando sob a pouca luz. Parecia surreal. Quase irreal. O salão inteiro virou o rosto. Alguns meninos até se endireitaram na hora. E Adrian… Adrian sentiu o estômago contrair. Seu sorriso desapareceu. — Ah, não… — murmurou um Ryan, percebendo a expressão dele. — Lá vem problema nobre. Adrian cruzou os braços, tenso, incapaz de desviar o olhar. A morena ao seu lado cutucou seu ombro. — Ei, Adrian? Você me ouviu? Nada. Ele apenas encarava Eleonora descendo o pequeno degrau da sala com a elegância irritante de alguém que tem absoluta consciência do impacto que causa embora ela fingisse não ter. A loira deu uma risadinha suave. — Acho que descobrimos o motivo do nosso prodígio estar tão distraído ultimamente… Adrian forçou o maxilar a relaxar. — Não tem “motivo” nenhum — rosnou baixo. — Só não esperava ver ela aqui, desse jeito. — Isso é um elogio? — perguntou a morena, arqueando a sobrancelha. — Não — ele rebateu rápido demais. — É só… inadequado. Ela m*l chegou, já quer chamar atenção. — Chamar atenção? — Ryan riu. — Cara, olha pra ela. Ela nem precisa tentar. E isso só piorou o humor de Adrian. Eleonora caminhava devagar pela salaz analisando o ambiente, como se medisse se valia a pena ficar. Mesmo com a luz baixa, ela parecia brilhar por conta própria. Alguns meninos já se afastavam de seus grupos, esperando oportunidade para falar com ela. Adrian apertou a garrafa de refrigerante na mão como se fosse explodir. — Ela não devia estar aqui — disse ele em um tom baixo, irritadiço. — É perigoso. É proibido. E… ridículo esse vestido. — Ridículo? — Miles quase engasgou rindo. Adrian lançou um olhar mortal para o amigo. Mas a verdade é que ele não conseguia explicar o incômodo. Era como se algo dentro dele rejeitasse que Eleonora estivesse ali tão linda, tão no centro de tudo e cercada por olhares que ele odiava ver pousando nela. Quando um garoto desconhecido finalmente criou coragem e se aproximou dela oferecendo uma bebida, Adrian sentiu o sangue ferver. Suas amigas perceberam na hora. — Você tá com ciúmes da novata — a morena constatou, cruzando os braços. — Eu não estou com ciúmes — Adrian rebateu, seco. — Eu só… sei exatamente onde isso vai dar. Ela vai fazer besteira. E no final, adivinha pra quem vai sobrar ? — Você? — Ryam riu. — Que azar o seu, hein? Adrian levantou-se do sofá. Nem ele sabia se ia até ela para protegê-la, mandá-la embora… ou só para descarregar aquela irritação crescente. Mas uma coisa era certa: Eleonora tinha acabado de estragar completamente a noite dele apenas entrando pela porta. Adrian ficou parado por alguns segundos, do lado do sofá, tentando decidir se aproximava-se dela ou se simplesmente ignorava aquela aparição que já tinha tomado conta do salão inteiro. Mas ignorar Eleonora Montreuil era impossível, ainda mais para Adrian. Ele recuou um passo, cruzou os braços e se encostou na parede mais próxima dali ele tinha uma visão perfeita do que ela estava fazendo. Seus amigos continuaram no sofá, cochichando, mas nenhum deles ousou chamar Adrian de volta. Eleonora estava conversando com duas meninas, rindo de algo um riso leve, quase inocente, mas que ele conhecia bem demais para acreditar. E então, como se sentisse que era observada, seus olhos percorreram o salão devagar. Até pousarem nele. Direto. Sem desviar. Por um instante, ficou tudo quieto dentro de Adrian. Eleonora ergueu uma sobrancelha, surpresa por encontrá-lo ali mas a surpresa durou meio segundo. Logo se transformou em algo mais perigoso: diversão. “Não”, Adrian pensou. “Ela não vai…” Mas ela foi. Eleonora segurou uma das pontas do vestido lilás e ajeitou o tecido em seu quadril de um jeito muito… calculado. Depois passou a mão pelos cabelos, soltando-os ainda mais sobre os ombros nus. E, finalmente, inclinou a cabeça, lançando-lhe um sorriso discreto, lento, propositalmente provocador. Um sorriso que dizia claramente: “Eu sei que você está olhando.” Adrian apertou os dentes. — Ah, não… — murmurou Ryan atrás dele. — Ela te viu. Pronto. Acabou pra você. Como se quisesse provar que aquilo era só o começo, Eleonora deu dois passos para o lado e ficou ainda mais na luz, como se se exibisse. Conversou com um garoto que já estava repartindo todos os sorrisos que tinha, e quando o menino tentou tocá-la no ombro, ela não recuou. Ela finalmente desviou o olhar de Adrian, mas fez isso como quem solta um bilhete dobrado: deixando claro que tinha percebido tudo. Adrian sentiu algo entre irritação profunda e… outra coisa que ele não queria nomear. — Irmão, tu tá roxo de raiva. — Ethan comentou atrás dele. — Não tô com raiva. — Adrian respondeu sem tirar os olhos dela. — Tá sim — Ryan disse, bebendo um gole de refrigerante. — E ela sabe. Como se tivesse ouvido Ryan de longe, Eleonora virou o rosto de novo na direção de Adrian. E piscou. Uma piscadinha curta, maliciosa, afiada como uma lâmina brilhante. Adrian ficou tão imóvel que parecia uma estátua. Seu coração bateu forte. Forte mesmo. E os amigos começaram a rir. — O prodígio vai surtar. — Ethan declarou. — Eu apostaria cinco dólares que ele vai lá falar com ela em menos de um minuto. Adrian finalmente se afastou da parede. Eleonora tinha rido dele, na cara dele, com um piscar de olhos. E isso, definitivamente, ele não ia deixar passar. — Eu já volto. — disse seco. Ethan ergueu as mãos como quem anuncia o fim do mundo. — A guerra de herdeiros começou. Adrian seguiu em direção a ela com passos firmes. Não sabia exatamente o que ia dizer. Mas Eleonora percebeu sua aproximação e seu sorriso só aumentou. Pronta para provocar mais. Pronta para acabar com a paciência dele. E talvez… pronta para algo que nem ela entendia ainda.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR