Capítulo 31. Atrasada de novo

1058 Palavras
Dia seguinte -Corredor do internato Eleonora vira a esquina praticamente correndo, segurando os livros contra o peito, o cabelo preso às pressas e o casaco meio torto depois de sair voando do dormitório. Ela já estava atrasada de novo e sabia que a professora de Química ia matá-la dessa vez. Ela avançou, focada em não tropeçar… até colidir contra alguém. O choque foi forte o suficiente para que um dos livros escorregasse de sua mão e caísse no chão. — Ai! — ela reclamou, levando a mão ao braço. — De novo? — a voz masculina veio antes mesmo dela levantar o rosto. Ela fechou os olhos por meio segundo. Claro. Só podia ser ele. Eleonora ergueu o olhar e encontrou Adrian parado, segurando o próprio caderno que quase caíra, a expressão meio irritada, meio satisfeita demais. — Você realmente tem um talento pra esbarrar em mim — ele comentou, arqueando uma sobrancelha. — Você realmente tem um talento pra estar exatamente no único lugar que eu estou passando — ela rebateu, se abaixando para pegar o livro. Adrian também se abaixou ao mesmo tempo, e os dois bateram a cabeça levemente. — Ai! — disseram ao mesmo tempo. Ele franziu o cenho. — Você acordou atrasada de novo, não é? — perguntou, cruzando os braços assim que ela se levantou. Ela estreitou os olhos. — Não é da sua conta. — É da minha quando você sai correndo pelos corredores como um desastre ambulante — Adrian devolveu. — E ainda quer que eu te ajude nas aulas? Eleonora inspirou fundo. Bem fundo. — Olha, eu só estou atrasada cinco minutos. — O sinal nem tocou ainda — ele rebateu. — Você está atrasada antecipadamente, isso deve ser um novo recorde. Ela arregalou os olhos, indignada. — Você realmente acorda todos os dias com a missão de me irritar? — Não preciso fazer esforço — Adrian respondeu, soltando um sorriso torto. — Você se irrita sozinha. Eleonorа deu um passo à frente, o rosto próximo o suficiente para que ele percebesse o perfume dela, suave e floral. — Pelo menos eu não fico perdido nos corredores admirando meu próprio reflexo nas janelas. Ele piscou, surpreso mas rapidamente ajustou a postura e respondeu: — Eu não admiro meu reflexo. Eu só reconheço qualidade quando vejo. — Arrogante — ela murmurou. — Atrasada — ele devolveu. Ambos ficaram se encarando por um instante longo demais. Até que o sinal tocou. Eleonora fechou a expressão e passou por ele, esbarrando no ombro dele de propósito. — Sai da frente, Adrian. Ele ficou parado, olhando ela se afastar com passos apressados. E sem admitir pra si mesmo… deixou escapar um sorriso. — Um desastre adorável. Mas só quando ela já estava longe o suficiente para não ouvir. A sala estava silenciosa, iluminada apenas pela luz amarelada das luminárias individuais. Alguns alunos estudavam em mesas distantes, outros cochichavam em cantos isolados. Adrian estava sentado em uma mesa mais afastada, revisando alguns circuitos avançados que o professor havia passado para ele como desafio extra. O lápis dele fazia pequenos toques ritmados no papel um hábito que ele tinha quando estava concentrado. Até que a porta abriu. Eleonora entrou. Devagar, hesitante, segurando uma pasta contra o corpo e olhando ao redor como se buscasse coragem para dar o próximo passo. Os olhos dele subiram do caderno para ela. Ele se ajeitou na cadeira sem querer demonstrar a surpresa. Ela realmente veio. Eleonora caminhou até a mesa com passos calculados, mas sua postura sempre tão impecável estava um pouco menos confiante que o normal. Quando parou diante dele, limpou a garganta. — E lá vamos nós...de novo. Adrian ergueu uma sobrancelha. — Pensei que fosse inventar alguma desculpa. Ela cruzou os braços. — Eu cumpro o que eu digo. — Primeira vez pra tudo — ele provocou. Eleonora fechou os olhos por um segundo, claramente contando até dez. — Podemos começar, sem gracinha ?— disse ela, se sentando ao lado dele sem pedir permissão. Adrian empurrou alguns papéis para o lado e puxou o livro da aula. — Ok. A gente vai revisar o conteúdo de ontem. Você lembra de alguma coisa? Ela girou o lápis entre os dedos. — Eu… cochilei. Ele soltou um suspiro irônico. — Que surpresa. — Você quer me ajudar ou quer um motivo pra me irritar? — ela rebateu, olhando diretamente pra ele. Ele a encarou de volta por alguns segundos, vendo o cansaço verdadeiro nos olhos dela algo que ela tentava camuflar por trás de maquiagem impecável e atitude superior. Seu tom suavizou, mesmo que ele tentasse disfarçar: — Vamos começar do zero, então. Eleonora assentiu, mordendo o lábio inferior. Adrian virou o caderno na direção dela. Ele aproximou o corpo para mostrar o exercício, e quando percebeu, ela também se inclinou. Os cabelos dela escorriam pela mesa, e o perfume doce ocupou o espaço entre eles. — Aqui — Adrian apontou. — Esse circuito precisa de três resistores. Se você tirar um, o sistema sobrecarrega. — Então ele… explode? — ela perguntou, genuinamente curiosa. Ele riu. — Não desse jeito exagerado que você imagina. Mas dá pra queimar um fusível ou dois. Ela sorriu pela primeira vez desde que chegou. — Parece divertido. — Não é pra ser divertido — ele comentou, mas havia um leve sorriso no canto da boca dele também. Por um instante, eles ficaram lado a lado, concentrados no mesmo ponto do caderno. E, estranhamente, a tensão entre eles pareceu menos afiada. — Você entendeu? — ele perguntou, ainda olhando o livro. Eleonora olhou para ele em vez de olhar para a página. — Sim. Ele desviou os olhos para ela, e por um momento breve demais ambos pareceram cientes da proximidade. Ela então afastou o rosto, quebrando o momento. — Acho que… isso vai ajudar — ela disse, arrumando o cabelo por cima do ombro. — Eu disse que ia — Adrian respondeu. Ela pegou o caderno com mais confiança, levantou-se e ajeitou o vestido escolar. — Amanhã… podemos continuar? Ele ficou quieto por um segundo. — Claro. Eleonora virou-se para ir embora, mas antes de sair da sala, jogou por cima do ombro: — E tenta não ser tão insuportável. Adrian riu baixinho. — Só se você tentar não estar atrasada. Ela fez um gesto sarcástico com a mão e saiu.
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