Meu nome é Demetrius Wolf, tenho 28 anos e sou o Alfa Supremo do norte. Estou em Tannor para uma reunião que já está me dando nos nervos. Nossas cidades estão sendo atacadas, uma por uma, por uma coisa que ninguém consegue identificar. Um maldito errante que suga a vitalidade e a essência mística de suas vítimas. Lobos, fadas, bruxas, duendes, gnomos... Ele não poupa ninguém.
Estamos em uma sala apertada e abafada, cheia de anciões murmurando. Preciso resolver isso logo.
Um dos anciões, com uma voz trêmula, tenta explicar:
— Ele é um errante. Não sabemos quem é. A última vítima murmurou, com os últimos suspiros, que era um homem...
Outro ancião, franzindo a testa, complementa:
— Faz um ano que vagamos pelo norte, de cidade em cidade, tentando achar pistas. Precisamos saber onde ele vai atacar em seguida, para montar uma defesa e acabar com ele antes que cause mais destruição.
Uma anciã interrompe a discussão:
— Senhores, discutir não vai nos levar a lugar algum. O Alfa está certo. Devemos fechar nossas fronteiras e combater esse errante de uma vez por todas.
Cansado da conversa inútil, me levanto bruscamente, e todos se levantam comigo, meio assustados.
— Precisamos descansar. Continuaremos amanhã. — Ordeno, tentando controlar minha irritação.
Saio da sala com Matias, meu Beta e amigo de infância, sempre ao meu lado.
— Hoje foi tenso, Demetrius... — Matias comenta, ainda com o cenho franzido.
— Foi mesmo. Temos que encontrar esse errante antes que ele faça mais uma vítima no meu território. — Respondo, apertando os punhos de frustração.
Nos dirigimos à casa que nos foi cedida pelo conselho. Não chegamos nem perto da porta quando Victoria, a companheira de Matias e uma caçadora feroz, nos intercepta.
— Como foi? — Ela pergunta, a ansiedade estampada no rosto.
— Tenso... — responde Matias, suspirando profundamente.
— Alfa. — Ela me cumprimenta, mas eu m*l retribuo, indo direto para o bar. Preciso de um drink forte.
— Preciso de uma bebida forte. — murmuro, quase em um rosnado, enquanto pego um copo de uísque.
Victoria abaixa a cabeça, como se tivesse cometido um crime:
— Desculpe, meu Alfa. Da última vez, perdi o rastro do errante naquele maldito precipício.
Matias tenta aliviar a culpa dela:
— Virgínia, você é a melhor caçadora que temos. Ninguém sabe como ele sobreviveu àquela queda.
Victoria levanta o rosto, ainda tensa:
— Eu estava tão perto... Ele se movia nas sombras, senti seu cheiro e então... puff. Ele sumiu. O rastro desapareceu de uma forma surreal. Isso não acontece. O cheiro de fumaça e terra é difícil de esconder, mas ele conseguiu.
Lembro-me daquele dia. Estávamos em Dommos, uma cidade mais ao norte. Victoria farejou algo diferente e saímos em patrulha. Vimos o vulto do errante e começamos a persegui-lo pela cidade, atravessando a floresta. Mas ele sumiu. Encontramos duas vítimas, paralisadas, brancas como a neve, sem cor, sem vida, sem magia. Bebo meu uísque, sentindo a raiva ferver. Estávamos tão perto e falhamos.
— Temos patrulheiros espalhados por todo o norte, passando de comunidade em comunidade, recrutando guerreiros e fechando todas as rotas. O conselho está preparando tudo. Vamos pegá-lo logo... — Matias fala, mas eu bato o copo na mesa com força.
— Odeio essa sensação de impotência. Detesto PERDER! — esbravejo, sentindo a frustração crescer.
— Eu sei, senhor... — Matias responde, tentando acalmar o ambiente.
Victoria sugere:
— Por que não relaxamos um pouco? Há uma boate aqui em Tannor que dizem ser a melhor do norte. Ficar aqui remoendo não vai ajudar. As fronteiras estão quase fechadas. Se ele atacar, estaremos prontos.
Concordo depois de um momento de hesitação. Preciso esfriar a cabeça.
Chegamos à boate Lanus. Ao sair do carro, o cheiro de diferentes seres místicos inunda meus sentidos: fadas, linces, gatos pretos, lobos, bruxas... Todas as espécies sobrenaturais se reúnem aqui. Antigamente, nossa comunidade era só de lobos brancos, mas a perseguição dos humanos nos forçou a abrir nossas portas. Meu bisavô, o Alfa Rei, decidiu unir outras comunidades. Agora dominamos todo o norte. Humanos ainda fazem parte da nossa sociedade, mas apenas os que têm permissão do conselho.
Entramos pela entrada exclusiva da boate e subimos para a área VIP. A vista é incrível, com uma parede de vidro que nos permite ver toda a movimentação lá embaixo.
Um homem se aproxima. Pelo cheiro, é um gato siberiano.
— Meu Alfa... Sou Malcon. É um prazer recebê-lo em minha casa de entretenimento. — Ele faz uma reverência exagerada e continua: — Mandarei alguém aqui para servi-los.
Uma vampira aparece logo depois com bebidas e petiscos.
Victoria sempre inquieta, puxa Matias para dançar.
— Adoro essa música. Vamos, Matias. — Ele me olha, pedindo permissão, e eu apenas aceno.
Fico observando eles dançar, perdido em pensamentos. Matias realmente encontrou sua companheira. A Deusa da Lua foi generosa com ele. Já eu, aos 28 anos, ainda estou sozinho. O conselho vive me pressionando para começar minha linhagem, mas eu nunca senti com ninguém a conexão de almas que vejo entre Matias e Victoria. Lembro do dia em que Matias a viu pela primeira vez. Ela estava se refrescando em um lago, e desde então, ele nunca mais a deixou. Bebo meu uísque, sentindo a solidão pesar.
Eles voltam para perto de mim, com sorrisos no rosto.
— Gostei daqui... — Victoria comenta, ainda ofegante.
— A boate é boa mesmo... — Matias concorda.
— Não... — ela diz, com um brilho nos olhos. — Estou falando da comunidade. Vocês precisam andar por ela. É limpa, organizada, sem moradores de rua. O grã-mestre merece seus parabéns, Demetrius.
— Vou fazer isso... — respondo, distraído, pois algo do outro lado do vidro chama minha atenção. Levanto e me aproximo, tentando ver melhor o que é.