Juliano
Controlo minha vontade de mandá-lo embora e aponto para a cadeira, para ele se sentar.
- No que eu posso te ajudar? – Pergunto de imediato.
- Você sabe quem sou eu? – Ele me pergunta com os olhos arregalados.
- Sei, claro que eu sei. Por isso te pergunto. O que está fazendo aqui? – Falo já perdendo minha paciência.
- Pô, doutor. Assim fica mais fácil pra nois conversar. Alguns anos atrás aquela gatinha sua funcionária foi la no meu cafofo contar uma história e pá, de um moleque que é meu filho. Com aquela v***a da Bianca. Ela já tinha morrido naquela época. Assinei uns bagulho que ela me deu e ela entregou esse cartão. – Ele tira o cartão todo amassado do bolso.
- Sim.
- Então, eu to sendo procurado. Mas, isso não é novidade, né. O pai é bandido e nunca neguei isso, mas um engomado veio me procurar, ele todo na estica veio me falar que poderia livrar minha cara das canas que eu tenho que acertar e de quebra me dar muita grana, se eu viesse atrás do moleque. – Quando ele fala isso, sinto meu sangue subir e já imagino que isso é coisa do Sávio, depois de tanto tempo ele ainda não superou tudo o que aconteceu.
- E você está cogitando acreditar no que esse homem te prometeu? Quero que se recorde que ele ajuizou uma ação como se fosse você e você teria até mesmo que pagar pensão. Não seria interessante envolver a justiça nos seus negócios, sejam eles quais forem.
- Eu to ligado, por isso não aceitei e vim aqui falar contigo. Eu to precisando de uma ajuda e você pode me ajudar. Eu não quero saber do moleque, não to nem ai. O que eu mais tenho nesse mundo é filho, não quero problema. Mas, quero sua ajuda. To sem advogado e sem dinheiro.
- Deixa eu ver se eu entendi. Você está aqui me procurando, relatando que o outro advogado que tentou te prejudicar no passado, ofereceu dinheiro e defesa, para você ser parte no processo de guarda do menor? – Tomo muito cuidado com as palavras para não dar qualquer informação do meu filho para ele.
- É isso memo doutor, tu fala bonito. Mas é isso mesmo. Eu só quero ajuda com o processo e uma grana, pra eu não ser obrigado a aceitar ajuda do outro cara, porque eu mesmo não quero. Mas to em uma situação difícil agora. – Ele fala e eu tenho vontade de matar aquele homem nesse mesmo momento.
- É treva, certo? – Pergunto.
- Isso. O treva.
- Então, “treva”. As coisas aqui funcionam do meu jeito. Não acha que você vai chegar me ameaçando, porque eu não tenho medo de você ou de qualquer outra pessoa que tente te ajudar. Eu sou o melhor criminalista do Brasil e só de estar conversando com você nesse momento, já estou perdendo dinheiro. No passado, eu te ajudei. Te ajudei muito, porque aquele processo ia expor todo o seu esquema de tr4fico para a polícia. Então, acho que você não está em posição de vir me ameaçar. Esse é o primeiro ponto. Da mesma forma que você ACHA que conhece muita gente e que é o bandidão, eu te garanto que conheço muito mais. Se eu quisesse você não sairia com vida daqui hoje e você não é idiot4, deve ter ouvido sobre mim e sabe que eu não minto. – Falo e vejo que ele perde a pose de durão.
- Não é isso doutor, pô eu só quero uma ajuda. – Ele fala com total sinceridade.
- Eu quero deixar bem claro que eu não gosto de ser ameaçado e se você ousar fazer isso de novo, eu mesmo acabo com a sua vida. Eu vou te ajudar pelo único e exclusivo motivo de ser recíproco. Você também vai me ajudar e vai receber muito bem para isso. Você vai fingir que vai colaborar com o Sávio, aquele paspalho que te procurou oferecendo mundos de dinheiro. Você vai grampeado e vai me trazer toda a gravação. Eu vou te dar um milhão de reais e, depois disso, quero que você suma do país. Vou arrumar passaporte falso, e um avião para te levar para o país que você quiser. A condição é que você nunca mais volte para o Brasil. – Explico e vejo seus olhos brilharem.
- Nunca mais?
- A escolha é sua, você entrará vivo e sairá dentro de uma sacola.
- Eu aceito, não tenho nada a perder nessa m3rda mesmo. Se eu for pego, passarei pelo menos 30 anos na cadeia. Lá fora eu posso mudar de vida. – Ele fala já com um sorriso no rosto.
- Então entenda isso como uma segunda chance que a vida está dando e não faça m3rda novamente, porque se você fizer, eu não vou mais te ajudar. – Falo muito sério com ele.
- Fechado.
- Outra coisa. Não ouse perguntar, falar, pesquisar, ou sequer lembrar, da criança que diziam ser seu filho, até porque você não sabe se é mesmo. A Bianca tinha um estilo de vida bem radical em relação a isso e não podemos afirmar nada. – Falo tentando fazê-lo acreditar que as chances do Bruno ser o seu filho, são pequenas. Mesmo tendo total certeza que ele é, porque são idênticos.
- Eu faço isso de boa, nem quero caô pro meu lado.
- Ótimo, meu pessoal vai te ligar para te instruir de como será a conversa com aquele bost4 do Sávio e quando eu tiver a gravação, te mando o dinheiro, o passaporte e o cartão de embarque.
- Valeu doutor. – Ele fala saindo da minha sala e eu só consigo levar minhas mãos até a cabeça.
Não é possível que tudo isso esteja acontecendo ao mesmo tempo. Eu não vou deixar esse marg1nal chegar perto do meu filho nunca. Ele falava do Bruno como se fosse só mais um, eu imagino a vida que os outros filhos dele devem levar e sinto pena.
Talita me liga e combinamos de ir ao shopping com as crianças, termino minhas pendências e vou buscá-la no seu novo escritório...