Talita
Agradável demais esses momentos com o meu marido, tinha até me esquecido da maneira que ele fazia eu me sentir. Enquanto damos uma volta pela cidade, ligamos por vídeo para os nossos pequenos. Eles estavam brincando, felizes. Isso me conforta, cada segundo longe dos meus filhos, faz meu coração ficar apertado.
- Olha amor, vou pegar um sorvete para você. – Juliano diz ao ver uma sorveteria e logo aparece com um sorvete de menta. Ele sabe que eu adoro.
- Meu sabor preferido. – Falo e ele sorri.
- Eu sei, confesso que até hoje não entendo... – Caímos na risada. Ele sempre me questionou sobre os sabores de sorvete que eu gosto. Menta, pistache, limão, morango, tutti frutti... Ele fala que sou a rainha dos cítricos e enxaguantes bucais.
Decidimos voltar para o chalé e, quando estamos entrando, passamos pela churrasqueira.
Aquele vizinho gentil está com a sua acompanhante e mais 4 pessoas. Três homens e uma mulher. Ele vê o nosso carro e corre na nossa direção.
- Vizinhos, venham tomar um drink conosco. – Ele fala e eu já vejo a cara do Juliano mudar, então decido tomar a frente.
- Daqui a pouco viremos, até breve. - m*l termino de falar e Juliano sai com o carro.
- Você quer mesmo ir lá com eles? – Ele me pergunta já contrariado.
- Não, mas mais tarde podemos dar uma passada somente por educação. Ele só está sendo solícito.
- Não gostei dele. Senti que ele fica se controlando para não olhar para você. – Ele fala e eu acho muito absurdo o que eu acabei de ouvir.
- Juliano, isso já passou dos limites. Você tenta achar um motivo para cismar com as pessoas quando não acha ainda afirma que o cara está se controlando para não olhar para mim? Isso beira completamente o absurdo, quero que você aprenda a ter um comportamento minimamente normal, quando outras pessoas estão por perto. – Digo perdendo minha paciência.
- Calma, Talita. Eu só falei o que eu percebi. Mais tarde podemos passar lá, mas não quero que você fique conversando com ele. Homem percebe quando tem maldade da outra parte, você acha que todo mundo é inocente...
- Não vou nem discutir a respeito disso, tenho a impressão de que você enxerga o que está dentro de você. Talvez você tenha maldade ao conversar com outras mulheres, por isso vê dessa maneira... – Falo já alterando meu tom de voz.
- É isso mesmo que você acha? Você não percebe as coisas acontecendo, ou finge que não quer ver. Mas, tudo bem. Eu ainda saio como culpado, como sempre.
Resolvo tomar um banho relaxante sozinha e tranco a porta, mas nem precisaria, porque ele não tenta vir comigo. Ainda bem, acho que precisamos de um pouco de individualidade.
Saio do banho e vejo que ele está deitado na cama, mexendo no celular. Procuro uma roupa confortável e sento na cama, ligando a televisão. Ele me puxa para o seu peito.
- Vou tomar banho e passamos lá na churrasqueira, devolver a hospitalidade. – Sinto uma pontinha de provocação na sua frase, mas concordo.
Estou usando um macaquinho laranja, justo, porém sem decotes. Não preciso de mais um problema nesse momento e ele coloca uma bermuda e uma camiseta. Seguimos até a churrasqueira e somos recepcionados pelo rapaz e sua amiga, todos que estão lá são simpáticos e prestativos. Nos servem um drink e ficamos conversando trivialidades.
Faço amizade com a “amiga” do homem e ela me conta que, na verdade, eles têm um relacionamento aberto. Fico curiosa a respeito disso, pois é o primeiro casal que eu conheço que tem um relacionamento aberto.
- Nós namoramos por alguns anos, mas tínhamos uma incompatibilidade imensa. Eu era muito ciumenta e ele decidiu romper por conta disso. Após alguns meses separados, eu percebi que o meu ciúmes estava afastando quem eu amo de mim, então sugeri esse relacionamento aberto. Eu vou confessar para você que não está sendo fácil, ainda sinto ciúmes, mas nada comparado com o que era antes. Estamos juntos novamente faz apenas 6 meses, então eu espero que dê certo dessa vez, só quero ver o Natan feliz. – Percebo de cara a situação.
A mulher aceitou viver um tipo de relacionamento que não quer, só para manter esse homem na sua vida. Eu fico morrendo de dó dela, pois dá para perceber o quanto o ama, diferente dele, ele m*l olha para ela. Nos apresentou como sua amiga, mesmo eles tendo um relacionamento. Será que ele estava m*l-intencionado com tudo isso e o Juliano tinha razão? Me pego pensando.
- Mas e vocês? Me conta. São casados faz muito tempo? Formam um lindo casal. – Ale rasga elogios sobre nós, sinto muita bondade vinda dessa mulher. Tenho um misto de empatia e vontade de cuidar dela, como se ela não pudesse enxergar o que está abaixo dos seus olhos..
- Não somos casados faz muito tempo, mas estamos juntos há quase 4 anos. Passando por altos e baixos. Temos dois filhos, o Bruninho e a Luiza. São as nossas preciosidades. – Pego meu celular e mostro uma foto dos dois e vejo que ela fica curiosa, mas não me pergunta nada.
- São lindos. – Ela diz com um sorriso.
- Você deve estar se perguntando porque o Bruno não parece conosco, é uma dúvida frequente do povo. – Falo dando risada e ela fica sem graça.
- Não parece com vocês, mas o carinho que você me falou dele, vejo o quanto ama o seu filho. – Ela me ganha com essas palavras.
- O Bruninho foi adotado por nós ao nascer e logo depois de um tempo eu engravidei da Luiza. Os dois são os amores das nossas vida, só me mantive firme até hoje por pensar neles. - Falo meio emocionada e vejo que ela deixa uma lágrima cair.
- Me desculpe, mas eu me emociono fácil. Eu cheguei a engravidar, mas as coisas saíram do controle e até hoje eu não me perdoo por isso. – Ela fala e eu vejo que ela quer contar o que aconteceu.
- Respeito sua dor e sinto muito, já te antemão. Sinta-se a vontade para falar, ou não. Sobre o que aconteceu com você. – Eu seguro sua mão e ela me olha com ternura.