pov. Eris
Pedi para que Victor e Luiz fossem na frente, eu estava cansada para acompanhar seus passos e eles tinham mais coisas a fazer do que eu. Tavarres os acompanhava falando algo sobre as motos que eu não consegui entender, a ordem é que os garotos iam fazer uma vistoria nas motos e eu tinha que procurar Elena.
Estava rodando o terceiro corredor desconhecido quando encontro a ruiva parada em frente a uma porta, ao me ver ela sorri e faz sinal para a seguir. Entramos no minúsculo armário repleto de roupas penduradas, era estreito e quente como se a ventilação fosse obstruída.
- Você não deve estar se sentindo bem nessaa roupas, por isso dei uma procurada por aqui. Achei algumas que talcez sirvam. - sua voz era gentil, ela era uma boa mulher com ótimas intenções. Sobre um banco de metal tinha uma calça cinza escura um pouco folgada, uma camiseta verde larga e um moleton preto masculino. - Vista.
Comecei a me vestir e a ajustar as roupas que não eram tão largas quanto o uniforme que eu estava usando antes, a calça tinha um tamanho excelente, a blusa e o moleton ficaram um pouco grande para mim. Calcei meus coturnos e cobri a cabeça com o capuz.
- Obrigada, é realmente mais confortável. - agradeci sentindo falta das minhas luvas sem dedo, ela sorriu e encarou o colar em meu pescoço.
- Lindo, foi um presente do Victor, não foi? - assenti, o colar era realmente lindo e eu tinha muito medo de perde-lo. Toquei no pingente tendo os pensamentos totalmente arrebatados pelo seu dono. - Eu sei como se sente em relação a ele e ao Luiz, mesmo que não demonstre é perceptível seu sorriso indiscreto quando está com ambos.
- Está melhor informada do que eu. - não sabia o que sentia e muito menos o que demonstrava, se alguém estava percebendo alguma coisa poderia se considerar um avanço.
- Não é errado amar os dois. - ela começou me guiando para fora do armário em direção as escadas que davam a pequena cabana onde eles estavam arrumando as motos. - Errado é não se permitir ser feliz porque os outros acham que deve escolher um. Eris, estamos no meio de uma guerra onde a qualquer momento algo de r**m pode acontecer, não fazer o que quer pode te corroer depois. Acredite, eu sei muito sobre não demonstrar sentimentos.
Quando chegamos ao topo da escada observei Tavarres testar os comunicadores, Luiz estava empurrando a moto para fora da cabana e Victor estava verificando algo próximo a roda traseira. Os dois eram lindos e diferentes, cada um me encantava de um jeito único e as palavras de Elena ficaram girando em minha mente, errado é não ser feliz... mas o que realmente me faria feliz? Por fim Victor também empurrou a moto para fora e eu sai da cabana logo atrás de Tavarres e os comunicadores barulhentos.
- O plano é simples, vão até Arcaria e tentem conversar com o rei. Firmar uma aliança é crucial, eu espero que não demorem. - Tavarres deu as ordens, os garotos já estavam montados sobre as motos ligadas e eu olhei de uma a outra optando por ir com Victor que fez um carinho em minha mão assim que a coloquei sobre seu abdômen.
Antes que eu pudesse realmente estar pronta ele deu a partida, as motos seguindo uma sincronia de velocidade e mantendo-se lado a lado enquanto cortava a imensa faixa de terra. O barulho dos motores me deixou atenta e busquei suas mentes para tentar relaxar, estava tensa lembrando de quando eu e Luiz caímos da moto, minhas mãos fecharam repuxando a blusa cinza de Victor que ficou tenso ao meu toque, sua mente abriu de imediato me permitindo passagem.
Eris, está tudo bem?
Só estou... Com medo.
De que?
Eu e Luiz fomos derrubados da moto pelos ferais, é um medo inconsciente.
Não vou deixar você cair, confia em mim.
Porque abriu sua mente para mim?
Por que apesar de tudo que não quero te mostrar sobre mim, entendi que é a única forma de estar mais perto e te confortar.
Fiquei calada aconchegando meu rosto em suas costas quentes, o clima começava a esfriar e era fato que a noite ia chegar a qualquer momento. Isso também me trazia medos e receios, eles estavam aumentando a velocidade para encurtar o caminho. Sair ao anoitecer não era uma coisa muito sabia a se fazer mas Tavarres explicou sobre as condições do clima que poderiam nos matar em minutos, Arcaria era judiada pelos cataclismas e a madrugada era o melhor horário de viajar.
[···]
Luiz mantinha sua atenção a frente dividindo alguns segundos para me encarar rapidamente, eu queria fazer uma ponte onde pudessemos nos dialogar mas não acho que iria querer saber o que Luiz pensa do Victor. Me lembro que ele falou que se gostasse de mim iria bater no Victor por não aceitar ninguém em seu caminho. Em meio aos meus pensamentos as motos diminuíram a velocidade e eu me afastei para tentar ver qualquer coisa suspeita.
- Relaxa Eris, é só um vento mais a frente. É melhor pararmos e deixar ele passar. - me apoiei nos ombros de Victor para conseguir ver um vento levando areia alguns metros a frente, eles pararam as motos encostadas a uma enorme pedra e Victor me ajudou a descer.
- O que tem nesse vento? - estava pronta para ouvir "um veneno que te faz vomitar azul" sinceramente alguns cataclismas são estranhos e apenas isso faltava.
- Areia. Digamos que ela não se dá bem com olhos e ouvidos, além de que também prejudica a respiração. É só um vento. - Luiz deu de ombros sentando sobre sua moto com um olhar perdido.
- Arcaria não é longe, mas o caminho é um saco. - Victor reclamou rindo para mim, ele sempre tentava me passar confiança e amenizar as notícias tanto quanto podia.
- Saco é apelido, se isso não passar durante a madrugada estaremos dando mais um dia de vantagem aos Telectos. - Luiz jogou uma pedra no chão fazendo careta ao pensar no fracasso da missão.
- Enquanto isso fazemos o que? - eu estava visivelmente entediada, não iria conseguir dormir e muito pouco relaxar a céu aberto novamente.
- Respiramos, toquinho. Não tem como dar a volta em um vento, não é? - ele me encarou com um sorriso divertido, claro que não tinha. Me arrastei até a moto de Victor e me sentei sobre ela com dificuldade, ele ficou como um sentinela olhando a areia passar junto ao vento.
- Literalmente um saco. - resmunguei enquanto caçava um cantil louca por um pouco de água. Segundo tudo nos informa esse seria o único cataclisma possível de se acontecer a noite então não teriamos mais problemas.