Sempre fui fã daquela frase que diz que devemos fazer o que queremos e o que o nosso coração diz, quando escolhi minha carreira sabia que enfrentaria a minha própria família e ainda assim corri o risco. Os meus pais me apoiaram financeiramente na minha carreira assim como as minhas irmãs me incentivaram, mas sempre houve aquele espinho de que eles faziam tudo por mim e não porque realmente queriam.
Amo a minha família, sempre fomos próximos e solidários, mas às vezes sinto que não pertenço aqui, às vezes sinto que fui trocada no hospital quando nasci e que talvez a verdadeira Aurora Bellerose esteja por aí sendo feliz, bem-sucedida, linda e orgulho de todos.
— Porque trabalhamos em estações diferentes. Respondo à pergunta de Maeve. — Amanda está na minha estação inimiga.
— Talvez você devesse conversar com o seu chefe. Sharon propõe desta vez. — Sabe, mostre a ele do que você é capaz e que merece ter o seu próprio show.
— Algumas pessoas têm que começar do zero, Sharon. Olho para minha irmã mais velha. — Nem todos nós temos a sorte e a sorte de ter um bom emprego assim que nos formamos, algumas outras pessoas têm que procurar as coisas por conta própria e de baixo.
— Nada disso estaria acontecendo se você tivesse estudado moda e design. O meu pai fala agora enquanto corta as suas panquecas. — Talvez você já estivesse vendendo as suas roupas e sapatos na sapataria.
— Por que você não procura emprego em outra rádio? A minha mãe quem pergunta agora. — Em outro lugar onde vão te dar o lugar que você merece.
Fecho os olhos tentando manter a calma. Falar sobre mim e a minha vida não é uma das minhas coisas favoritas.
Tentei e enviei solicitações para mais de uma emissora, mas não obtive resposta de nenhuma delas. Só recebi resposta da emissora onde trabalho. Lembro que no primeiro dia que fui, estava muito animada, esperando que o trabalho fosse aquele que sempre sonhei, claro. Não esperava que fosse algo extravagante porque sabia que não me dariam esse privilégio com a minha pouca experiência, mas ainda tive a decepção da minha vida quando tudo que faziam era servir café e organizar papéis, não me deixavam participar de nada, nem das coisas que são feitas fora do ar, eu posso contribuir.
Continuei procurando vaga nas estações, mas não encontrei nada em nenhuma delas, por isso continuo na "Radio Pop".
— Porque nenhuma outra estação de rádio me aceitou, mãe. Respondo simplesmente.
— Bem, talvez eu devesse...
— Eu tenho que ir. Levanto-me quando a minha mãe está pronta para falar novamente, o meu apetite desapareceu e a minha manhã ficou amarga.
— Mas você não tocou na sua comida, querida. A minha mãe fala e eu apenas dou um sorriso sem mostrar os dentes.
— Estou atrasada. Eu minto. — Nos vemos mais tarde.
Ouço todos responderem, vou ao banheiro onde lavo a boca e depois pego as minhas coisas ao sair de casa, hesito entre pedir um táxi ou ir a pé então depois de ver a hora no celular me convenço a ir a pé é uma boa opção, ajuda a clarear a mente e pensar com clareza.
Começo a caminhar pelas ruas de Nova York até finalmente chegar no prédio onde trabalho, faltam cinco minutos para o meu horário de início, entro no prédio e registro minha chegada e depois sigo o meu caminho até a minha mesinha que tenho, nem é uma escrivaninha, só uma mesa cheia de papéis que tenho que arrumar.
Deixo a minha bolsa em um dos sofás e começo a folhear papel por papel enquanto começo o meu trabalho.
— Bom dia, Aurora. Levanto os olhos dos meus papéis, os meus olhos vão para de onde vem aquela voz, olho para meu chefe ali: Ian Chapman, um homem de 31 anos, cabelos pretos e olhos castanhos.
— Bom dia, Sr. Chapman.. Respondo, ele se aproxima e deixa um copo de café na minha mesa. Observo enquanto ele o deixa na minha mesa ao mesmo tempo que os meus olhos pousam na sua aliança de casamento que brilha no dedo anelar.
— Para você, senhorita Bellerose.
Eu sorrio sem mostrar os dentes. — Obrigado chefe, você não deveria ter se incomodado.
Não posso deixar de me sentir um pouco desconfortável, talvez sejam apenas as minhas suposições, mas o fato do meu chefe, um homem casado, fazer isso me deixa na defensiva. Não quero problemas mais tarde com ninguém por coisas que possam ser m*al interpretadas.
— Sem problemas, Aurora. Ele sorri e eu simplesmente engulo. — Quando o seu dia acabar, venha ao meu escritório, por favor.
Eu imediatamente fico alerta, ele vai me demitir?
— Você vai me demitir? Pergunto sem poder evitar, ele sorri enquanto balança a cabeça lentamente.
— Nada disso, querida, só tenho algumas coisas para te contar. Sinto-me um pouco aliviada com a resposta dele, mas depois de alguns segundos pareço chateada.
— Te espero. Ele diz e simplesmente vai embora e eu fico pensando em mil cenários na minha cabeça.
As horas passaram, quando finalmente me levanto da cadeira, tudo aqui está deserto, o último locutor do dia já saiu também. São dez da noite e neste horário só tocam programas previamente gravados.
Engulo em seco, lembrando-me das palavras do Sr. Chapman. Pego as minhas coisas e sem mais delongas começo a caminhar até o escritório dele, o corredor está deserto, encontro algumas pessoas saindo para ir para casa e a única coisa que faço é me apressar antes que o lugar fique completamente deserto.
Chego ao escritório do Sr. Chapman e bato na porta.
— Entre. Ouço a sua voz e pego a maçaneta para abrir a porta, entro e ele apenas sorri assim que me vê. — Entre e feche a porta, senhorita Bellerose.
Engulo em seco e obedeço, fechando a porta e caminhando até um dos assentos.
O Sr. Chapman coloca uma pasta na minha frente, eu olho para ele e olho para a pasta também.