Capítulo 2

1473 Слова
  Cecília   17:00. Estacionamento.   Mal havia chegado ao meu carro e aberto a porta quando meus olhos, quase que involuntariamente, varreram o estacionamento. Um SUV preto e elegante já estava com o motor ligado, e pela janela, pude ver Xavier no banco de trás. Ao seu lado, uma garota de cabelo curto e rosto juvenil, irradiando aquela energia inesgotável da juventude que, ao que tudo indicava, meu companheiro Alfa considerava irresistível.   "Alfa Xavier!" A voz em pânico do Beta Henry ecoou enquanto os pneus guinchavam. Ele pisou no freio, mas já era tarde demais.   Através do vidro escuro, o olhar de Xavier cravar-se em mim. Seus olhos estavam tomados por uma fúria intensa, carregada de uma raiva sombria.   Os meus permaneceram impassíveis. Vazios. Como um abismo.   Naquele silêncio, a garota percebeu minha presença — mas, em vez de se afastar, agarrou-se a ele com mais força, enlaçando os braços em seu pescoço e sussurrando algo em seu ouvido.   Uma ardência ácida invadiu meus olhos. O vínculo parcial de companheiros, mesmo incompleto como o nosso, fazia da traição uma agonia física. Sabia que ela estava reivindicando soberania sobre mim, uma provocação descarada.   Desviei o olhar, entrei no carro e parti sem olhar para trás. Cada fibra do meu ser gritava para confrontá-los, para desafiá-la — mas eu não era uma loba. Era apenas uma humana que havia sido tola o suficiente para acreditar no "para sempre" com um Alfa.   Ao chegar ao nosso apartamento de cobertura, não demorou muito até ouvir o carro de Xavier entrando na garagem. O som fez meu estômago embrulhar-se de pavor e raiva.   Encontrava-me no closet, tirando o colar de diamantes que ele me dera no mês passado — mais um presente movido a culpa, agora percebia — quando senti o calor de uma parede muscular contra minhas costas. O aroma familiar de cedro, que outrora me confortava, agora fazia minha pele formigar.   Xavier apoiou as mãos no armário de vidro, encurralando-me, e inclinou-se para mirar meu rosto. "Está nervosa?" Sua voz carregava aquele tom autoritário de Alfa que outrora me derretia.   Sem olhar para ele, coloquei o colar de volta na caixa com uma lentidão deliberada. Minha voz saiu gélida quando finalmente falei. "Nervosa o suficiente para cometer um assassinato. É melhor ter cuidado."   Xavier fitou-me em silêncio por um longo momento, o lobo nele claramente avaliando a ameaça em minhas palavras. Finalmente, falou, com o tom cuidadosamente medido. "A família White está interessada em colaborar conosco no projeto Nova Star. Estou negociando com Gavin, o filho mais velho. A garota que você viu é a irmã dele."   "O quê, precisa entreter a irmãzinha para fechar o negócio com ele?" Virei-me para encará-lo, o olhar perfurante. "É assim que o Clã Lua Sangrenta opera agora?"   "Cecília, estou tentando te explicar a situação. Pare com esse ciúme infantil!" Sua voz de Alfa irrompeu, uma tentativa desesperada de retomar o controle.   "Não há absolutamente nada a explicar," disse, encarando-o finalmente. Meus olhos, límpidos e gélidos, pareciam capaz de perfurar sua alma. "Xavier, se está cansado de mim e quer que ela seja a Luna, estou disposta a ceder meu lugar."   O rosto de Xavier escureceu instantaneamente. "O que você acabou de dizer?" O lobo nele estava à flor da pele, os olhos brilhando em um dourado perigoso.   Soltei um suspiro cansado. "Disse que podemos nos divorciar."   Quando tentei me afastar, ele me agarrou pelo braço e me puxou de volta com força bruta. Xavier cerrou a mão em meu queixo, os dedos pressionando minha pele enquanto rosnava uma advertência. "É melhor nem pensar nisso."   Permaneci em silêncio.   Não apenas tinha pensado — como já havia iniciado o processo.   Eu.   Estava.   Farta dele.   Xavier ficou em casa até tarde naquela noite, mas foi chamado por um telefonema. Ouvi claramente uma voz feminina do outro lado da linha, chorosa e melosa.   Na manhã seguinte, minha amiga e advogada de confiança, Harper, me enviou uma captura de tela: a mais recente postagem nas redes sociais da "namoradinha". Mostrava um nascer do sol no topo de uma montanha, com duas mãos formando um coração — uma grande e masculina, outra pequena e delicada. A legenda dizia: "Sinto os corações baterem juntos no abraço suave do amanhecer."   Reconheci aquelas mãos imediatamente. O vínculo entre nós podia estar incompleto, mas eu conhecia cada centímetro daquele corpo — cada cicatriz, cada calo.   Fiquei sentada, segurando meu copo d'água, por... não sei quanto tempo.   Nos dias que se seguiram, Xavier não voltou para casa.   Nos víamos apenas nas reuniões da empresa. Ele se sentava na cabeceira da mesa como o Alfa, enquanto eu me juntava aos outros executivos. Nossos olhares nunca se cruzavam. Eu não me dava mais ao trabalho de ir ao seu escritório.   Em meu tempo livre, ocupava-me procurando um novo lar, visitando apartamentos e me desfazendo de todos os presentes que ele me dera ao longo dos anos — presentes de aniversário de casamento, de aniversário, lembranças do Dia dos Namorados... Cheguei a vender minha aliança de casamento.   Quando você não quer mais a pessoa, qual é o sentido de guardar a tralha emocional do passado?   ...   Naquela noite, Ana, dona do clube Palácio de Jade, me convidou para sair. Já eram quase onze horas, e a princípio relutei, mas, considerando que, após o divórcio e minha saída da empresa do Clã Lua Sangrenta, precisaria construir minha própria rede de contatos para iniciar meu negócio, decidi aceitar.   Mal entrei no clube e já avistei Ana.   "Ana, eu teria encontrado o caminho. Não precisava descer até aqui," falei com um sorriso que não alcançou meus olhos.   Ana enlaçou o braço no meu, afetuosamente, enquanto entrávamos no elevador. "Fiquei com medo de você se perder, querida. É sua primeira vez aqui, não é?"   E era. Minha primeira vez ali.   Subimos, e Ana levou-me a uma sala privativa ampla, dividida ao meio por um biombo ornamentado.   Ao entrar, percebi várias pessoas do outro lado do biombo, mas Ana não me levou até lá. Em vez disso, direcionou-me para o lado onde estava sentada apenas uma pessoa — alguém que me parecia vagamente familiar. Reconheci-a como a namorada de um dos amigos de Xavier.   Ela também pareceu me reconhecer, e seu rosto tornou-se ligeiramente constrangido, embora tenha conseguido esboçar um pequeno sorriso.   Após tirar meu casaco e me sentar, Ana saiu novamente.   Dei um gole na bebida à minha frente, e, gradualmente, a conversa animada do outro lado do biombo chegou aos meus ouvidos. Conforme a conversa fluía, começaram a falar sobre mim.   "Falando nisso, o Xavier não tem trazido aquela humana para as festas ultimamente," disse uma voz carregada de desdém.   "Óbvio. A Cici tem linhagem Alfa pura — jovem, deslumbrante e legítima. O Xavier exibe ela em todos os eventos como um troféu. Já nem se dá ao trabalho de esconder a esposa humana." Ecoou outra voz.   "Finalmente entendeu. Depois de oito anos, o Xavier percebeu a importância da pureza do sangue."   "Por mais bonita que uma humana seja, não passa de um brinquedo. Oito anos, nossa, que paciência. O que mulheres humanas têm a oferecer? Nem marcar podem."   "E ela é tão ingênua, enganada por tanto tempo e mantida no escuro. Acha mesmo que pode ser a Luna? Foi inútil por todos esses anos, a não ser pela carinha bonita e o corpo."   Alguém riu, "Quero ver quando o Xavier cansar de vez, não me importo de pegá-la para dar um consolo. Já estou de olho naquela cintura há tempos."   "Cuidado, mulheres humanas não aguentam o poder dos nossos lobos," outra voz juntou-se à provocação, com um tom malicioso.   Eu permanecia imóvel atrás do biombo, o olhar gélido. Conhecia aquelas vozes muito bem — todos supostos "amigos" do Xavier, que me chamavam de "Luna" com falsa i********e. Agora, com sua verdadeira face exposta, tratavam-me como piada.   A mulher ao meu lado estava tão constrangida que m*l conseguia olhar em meus olhos. Quando me viu levantar, deve ter pensado que eu fugiria, humilhada.   Em vez disso, limpei a garganta, peguei minha bebida e caminhei calmamente em direção ao grupo. Apoiei-me casualmente no biombo e irrompi na conversa com um tom descontraído.   "Senhores, não pude deixar de ouvir — e acho que entenderam a história completamente ao contrário."   As risadas cessaram abruptamente.   "Quando o Xavier começou a me namorar," continuei, inclinando a cabeça com uma doçura fingida, "ele era apenas um Alfa virgem e inseguro, todo desajeitado, cheio de promessas e olhos arregalados. Se alguém esteve se aproveitando nesses oito anos... bem, não fui eu."   Silêncio.   Um silêncio total e chocado.   Todos no sofá fitavam-me, horrorizados.   E então —   Duas figuras altas adentraram a sala, por trás de mim.   Não me virei. Não precisava.   A presença deles falava por si só.   E, a julgar pelas expressões de puro pânico nos rostos da sala, a mensagem foi perfeitamente compreendida.   Droga.
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