Luxo e Ciúmes

809 Words
O resort surgiu diante de nós como algo irreal. Não era apenas bonito — era pensado para impressionar. Tudo ali parecia existir em perfeita harmonia: a arquitetura integrada à paisagem, os tons claros refletindo a luz do sol, a vegetação impecavelmente cuidada, o mar azul ao fundo, calmo e imponente. Um daqueles lugares onde o silêncio custa caro e a exclusividade é quase palpável. Desci do carro que nos levou até lá, sentindo o calor leve da tarde tocar a pele, enquanto funcionários impecavelmente vestidos se aproximavam com sorrisos treinados e eficiência discreta. Manuela segurou minha mão com naturalidade, como se aquele gesto fosse automático — e talvez já fosse. — Bem-vindo ao refúgio — disse ela, inclinando-se levemente em minha direção. — Você chama isso de refúgio? — olhei ao redor. — Parece um cenário criado para lembrar as pessoas de que o mundo pode ser generoso. Ela sorriu. — Às vezes, ele é. Fomos conduzidos até o quarto reservado. Não era apenas um quarto. Era um espaço amplo, elegante, com janelas enormes que davam para o mar, cortinas leves balançando com a brisa, móveis de linhas suaves e uma cama que ocupava o centro do ambiente como um convite silencioso. Assim que a porta se fechou atrás de nós, Manuela soltou um suspiro profundo. — Agora sim — disse, largando a bolsa. — Chegamos. Ela se virou para mim, ainda usando os óculos escuros, e os retirou lentamente, revelando aquele olhar que sempre me desarmava. — Cansado? — Um pouco. — Fiz uma pausa. — Mas feliz. Ela se aproximou, desabotoando lentamente minha camisa, sem pressa, como se aquele gesto fosse apenas mais um detalhe da viagem, e não o início de algo inevitável. — Então vamos começar do jeito certo. O banheiro era tão impressionante quanto o resto do quarto. Mármore claro, iluminação suave, uma ducha ampla, quase cenográfica. A água começou a cair, quente, constante, preenchendo o espaço com vapor. Entramos juntos. O mundo lá fora deixou de existir. O banho não foi sobre urgência. Foi sobre presença. Sobre o toque cuidadoso, o calor da água misturado ao calor dos corpos, os gestos lentos que diziam mais do que qualquer palavra. Manuela apoiou a testa em meu peito em determinado momento, fechando os olhos, respirando fundo, como se estivesse absorvendo aquele instante. Ali, entre o som da água e o silêncio confortável, tudo parecia simples. Verdadeiro. Inteiro. Quando saímos, nos arrumamos com calma. Manuela escolheu um vestido elegante, que abraçava seu corpo com sofisticação sem excessos. Eu optei por um traje clássico, discreto, alinhado. Não para impressionar — nunca foi meu estilo — mas porque aquele ambiente exigia presença. Descemos para o jantar. O salão era amplo, iluminado por luzes quentes, mesas bem distribuídas, música suave ao fundo. Pessoas bonitas, roupas caras, conversas sobre investimentos, projetos, viagens. Um mundo que Manuela conhecia bem — e no qual eu entrava agora como alguém que caminhava ao lado dela. Assim que cruzamos a entrada, percebi os olhares. Alguns curiosos. Outros avaliadores. Alguns discretamente interessados. Mas um em especial me chamou atenção. Um homem mais jovem, elegante, bem-apessoado, que interrompeu a conversa assim que nos viu. O sorriso dele não alcançou os olhos. Pelo contrário. Havia surpresa ali. E algo mais… desconforto. Manuela percebeu imediatamente. — Leonardo — disse, virando-se para mim —, esse é o Rafael. Ele se aproximou, estendendo a mão com um sorriso controlado. — Grande amigo da Manuela — disse, enfatizando as palavras. Apertei sua mão com firmeza. — Prazer. — Imagino. — O olhar dele me percorreu de cima a baixo, rápido demais para ser educado. — Não sabia que você viria. — Eu também não sabia — respondi, com calma. — Mas a vida gosta de surpresas. Ele sorriu de lado. — Gosta mesmo. Manuela colocou a mão em meu braço, sutilmente. — Rafael trabalha comigo em alguns projetos — explicou. — É alguém muito próximo, amigo de anos. — Imagino — respondi, mantendo o tom neutro. Durante o jantar, Rafael fez questão de se manter por perto. Comentários desnecessários, piadas internas, histórias compartilhadas como se fossem códigos exclusivos. Não era explícito. Era pior. Era calculado. — Manuela sempre teve um gosto refinado — disse ele em determinado momento. — Em tudo. O olhar dele se desviou brevemente para mim antes de voltar para ela. Manuela sustentou o olhar. — Sempre — respondeu, sem sorrir. Aquilo bastou. Continuei observando. Não com insegurança, mas com atenção. Eu conhecia aquele tipo de jogo. Não era sobre mim. Era sobre território. E, pela primeira vez desde que conheci Manuela, senti algo diferente se misturar à admiração tranquila que ela me despertava. Algo mais quente. Mais atento. Mais alerta. A semana estava apenas começando. E eu tinha certeza de que aquele resort, por mais paradisíaco que fosse, ainda revelaria muito mais do que paisagens bonitas.
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