*******ANDRÉ********
Eu tinha apenas 19 anos quando conheci Valentina.
Ela era realmente o amor da minha vida. O amor de infância, desses que a gente nunca esquece passe o tempo que passar.
Valentina era uma menina doce, cheia de sonhos, com cabelo cor de mel e olhos verdes que combinavam com as folhas que caiam das árvores em uma tarde de outono.
Vivíamos brincando juntos na Fazenda onde meus pais eram os caseiros. Meu pai Santiago e minha mãe Madalena faziam de tudo um pouco pra que eu pudesse ter um pouco de estudo.
Era tudo muito humilde e o que me alegrava naquela época após aprender coisas novas no colégio era brincar de construir casas e prédios de madeira que a fazenda não usava mais nos caixotes que armazenavam o café, que iria para as grandes fábricas da família até se tornar o famoso café EXPRESSO BRASIL.
Meu maior sonho, era um dia sair dali conhecer a cidade grande e me tornar um engenheiro, daqueles bem famosos que a gente via na TV que construía diversos condomínios, prédios e afins.
Mas nada teria sentido se eu não pudesse levar Valentina. Ela dizia que seria meu amor pra sempre. Ela sempre usava a expressão “ao infinito e além” pra expressar o quanto era intenso o amor que sentíamos, mas sabíamos que era um amor impossível.
Seu pai, José Manoel e sua mãe Cristina eram pais bem rígidos, daqueles que não deixava sua única filha fazerem absolutamente nada e já tinham traçado o destino da filha: ela se formaria no colegial e se tornaria a médica da família Gregório, assim que concluísse a faculdade.
Mas Valentina não queria isso, queria estudar moda, e se tornar uma grande estilista. Ela havia me mostrado diversos desenhos que tinha feito pensando em um dia ter suas roupas em um desfile famoso.
Nossos encontros, eram sempre escondidos, desde o dia em que ela passeando de cavalo, sofreu uma queda e eu a socorri. Naquele dia eu sabia, que ela era o amor da minha vida.
Encontrávamos sempre no celeiro, por volta de 5 da tarde quando ela voltava das aulas de hipismo que fazia.
Ela amava cavalos, e todos os dias após as aulas ela ia dar uma olhada em todos os cavalos da fazenda, onde tinha um grande amor por eles. E era lá que nosso amor proibido se assim posso dizer, foi crescendo, crescendo.
Até que um dia, em meio aos beijos singelos e diversas declarações rotineiras de amor que trocávamos, Valentina foi levemente se despindo. Arregalei os olhos e estava completamente incrédulo que ela queria fazer aquilo e comigo.
Apoiei seu corpo em um monte de feno que ali estava e tivemos o nosso primeiro momento de amor. Ela fez uma careta como quem sentia dor, mas pedia pra que não parasse acompanhado de um “eu te amo” onde meu coração ao ouvir, sabia que de alguma forma, aquele seria o último.
******VALENTINA******
Eu o amava tanto, mas tanto que eu queria sentir como se fôssemos apenas um.
O amava e apesar de ter somente 17 anos, eu tinha certeza que era André quem eu queria pra toda vida.
Eu sei que era impossível esse meu querer, dado o fato de que meus pais eram absurdamente preconceituosos, mas eu queria dar a certeza que éramos somente um e que nada nesse mundo faria nosso amor se acabar.
Até que Eugênio, o capataz da fazenda, entrou no celeiro para pegar uma cela para o cavalo, pois deveria ir até a cidade resolver alguns assuntos para papai.
Foi quando ele nos flagrou. Eu ali, toda despida. Despida de pudores, despida de preconceitos e vestida de um amor inocente que queimava meu peito e acendia minha alma.
Eugênio não teve a menor compaixão, deixou apenas que eu colocasse minha calcinha. Me pegou pelos braços com tamanha brutalidade e me levou ao escritório de papai onde esse ficou completamente assustado.
Eugênio sem dó ou piedade, contou que eu estava ali no celeiro com o filho do caseiro, em um ato completamente libidinoso e que estava desonrando a família Gregório ao me relacionar com um “João ninguém”.
Naquele momento, papai pediu que o capataz se retirasse a começava ali o meu verdadeiro inferno.
O primeiro ato de meu pai foi simplesmente um tapa em minha face deixando todos os seus 5 dedos marcados. Proferia palavras como “vagabunda”, “v***a”, “p*****a” e coisas desse nível no qual eu nunca poderia imaginar ouvir de meu pai ao se tratar de mim.
Em um dos tapas na cara que levei, caí ao chão e não conseguia olhá-los nos olhos.
Me sentia suja, sem ao menos ser de verdade. Apenas por ter me entregado ao amor. Um amor puro, sincero e verdadeiro.
Imediatamente, papai chamou minha mãe e foi que me separei de André pra sempre. o
Fui enviada à um intercâmbio em Vancouver, contra minha vontade, pois meus pais queriam ter a certeza que eu nunca mais veria André.
Me recordo que dois dias após o acontecido, eu simplesmente estava no carro com o motorista sendo levada ao aeroporto onde daria inicio à uma vida em um intercâmbio que mais era um internato para meninas fora do Brasil.
Via as lágrimas e o desespero de André da porteira da fazenda pedindo e implorando para que eu não fosse, pra que eu lutasse, resistisse e principalmente pra que nunca deixasse o nosso amor pra trás.
Eu apenas me ajoelhei no banco traseiro do carro e deixava as lágrimas caírem na incerteza de quanto retornaria e se retornaria um dia....
Aaaaah meu doce André... como será que você estaria hoje?
Será que se casou, será que tem filhos, esposa, o que será que aconteceu com você?
Penso todos os dias naquela despedida e às vezes penso se teria sido melhor ou pior se tivesse planejado uma fuga com ele.
Aquela coisa bem “romeu e julieta” dos livros de história.
Se soubesse o quanto todos esses anos foram terríveis sem você aqui.
Hoje retorno ao Brasil e será o início de uma grande jornada.