Capítulo 4 - A missão

2000 Words
Narrador em POV O clima na sala piorou imediatamente quando todos ouviram as palavras ousadas da tenente que tinha mais coragem do que tamanho para enfrentar aquele homem. – O que... você enlouqueceu?! Dimitri ficou simplesmente chocado, não havia outra palavra para descrever o que ele estava sentindo além de choque, pois nem mesmo seus melhores soldados o haviam enfrentado daquele jeito. – Você pode ser nosso capitão, mas quem te dá o direito de se intrometer em nossas vidas, hein?! O rosto da garota estava vermelho de raiva, aquele cara havia ultrapassado os limites em sua visão, e mesmo que ela tivesse que ser expulsa do quartel ela o enfrentaria. Usando uma de suas mãos calejadas, Dimitri afastou o cabelo que cobria seus olhos escuros e observou a cena que considerava patética se desenrolar diante dele. Três homens, oficiais do exército, não faziam nada, como ratos encurralados, atrás de Marie, que o enfrentava corajosa. – Você vê isso? É por isso que odeio mulheres no meu local de trabalho. Elas estão todas histéricas. Alto o suficiente para ficar encarar Marie de cima, ele cutucou seu ombro com força. – Vou deixar isso de lado já que é seu primeiro dia, Tenente. Mas não se atreva a me enfrentar novamente. Com os dentes cerrados e uma expressão fechada, Dimitri voltou ao que estava fazendo antes e Marie riu. – Isso deve ser uma piada. Não se atreva a me perturbar de novo! E eu não me importo se você é capitão ou o d***o, eu juro que vou esfolar você! Marie respondeu sem absolutamente nada a perder. Ela sabia bem porque havia sido recrutada para este lugar e também sabia que não havia ninguém mais poderoso que ela além de Dimitri, então essa era uma briga que só ela poderia comprar. Tirando os olhos do que estava escrevendo mais uma vez, o capitão de cabelos escuros olhou para a mulher com a testa franzida. – Você está me ameaçando? Ele perguntou com um tom de voz profundo e assustador, mas antes que pudesse se levantar para encarar aquela garota novamente, Damon interveio. – Chega... vamos guardar o jogo, Niko. Você pode escrever o quanto quiser. Disse o irmão tentando se acalmar e Marie voltou para a cama murmurando “boa noite” para os novos amigos e deitou-se de costas para todos, cobrindo-se até as orelhas. – Buona notte. Carlo murmurou e depois Ravi também fez o mesmo e Damon apenas olhou para Dimitri em reprovação. – Você tem que pegar tão pesado com ela?! Sussurrou Damon falando daquilo pela segunda vez naquele dia e Dimitri apenas o chutou para longe sem paciência para escutar as ladainhas do outro. – Durmam logo. Amanhã teremos uma missão logo pela manhã. O capitão mau humorado disse guardando seu caderninho e apagou as luzes sem dar tempo de ninguém contestar ele. Mas, além de Marie, ninguém era louco o suficiente para fazer isso. E Dimitri sabia bem disso. Por isso, naquela noite, ele demorou a dormir. [...] Tão certo como o sol que nasce no horizonte, o toque da alvorada era infalível às 5 horas da manhã, mas Marie nem precisava mais dele, já que havia se habituado a acordar meia hora antes da alvorada. Em seu antigo quartel costumavam chamar ela de "despertador do corneteiro", já que a única pessoa acordada nesse horário era quem tocava o toque da alvorada. E alí estava ela, em uma pontualidade incrível, ela já estava pronta às 5 da manhã, se alongando e calçando seus coturnos sem dar um pio. – Ai meus deuses, que susto! Ravi levou a mão ao peito ao perceber que Marie estava acordada em meio ao breu que estava aquele quarto. No inverno o sol demorava a nascer, então era praticamente impossível enxergar qualquer coisa que fosse naquele horário. – Desculpa, Ravi. Não era minha intenção. Marie sorriu envergonhada. – Tem certeza que é uma combatente comum? Nunca vi ninguém vestir uma farda sem fazer barulho. Damon, já se mostrando acordado, disse descendo da beliche e acordando Carlo no processo. – Parece que eu não sou a única. Marie disse terminando de fechar seu cinto ao redor de sua cintura enquanto apontava com o queixo para a cama de Dimitri. A cama já estava totalmente arrumada e não havia nem sinal da presença dele pelo local, como se a noite passada não tivesse existido. – Ah, o Niko é assim mesmo, daqui à pouco ele aparece igual uma assombração. Damon riu abrindo seu armário e puxando sua mochila onde guardava seu traje tático e a farda que usariam hoje. Marie por sua vez, abriu seu armário e viu que já haviam disponibilizado seu traje tático para ela também antes mesmo de chegar, então ela abriu a bolsa com o símbolo do exército inglês e tirou o equipamento para vesti-lo. – Aproveitando a oportunidade... Por quê você chama ele assim? Ravi perguntou enquanto vestia o colete balístico e Marie se manteve atenta naquela conversa, já que aquela certamente era uma questão da qual ela também tinha muita curiosidade. – O nome do meio do Dimitri é Nikolai, nós dois temos nomes parecidos então na época da escola ele costumava usar apenas o segundo nome. Explicou o subtenente com um sorriso nostálgico, mostrando que ele sentia, de alguma forma, falta dos tempos em que ele é seu irmão eram pequenos. – Interessante. Marie comentou. Então o nome dele era Dimitri Nikolai Zervas? Pensou ela. Carlo que, por sua vez bocejava ainda acordando, deu uma risadinha. – Fica mais interessante depois que você descobre que eles são gêmeos. O italiano disse enquanto ainda tentava esfregar o sono para longe de seus olhos e tanto Marie quanto Ravi pareceram surpresos com aquela informação, já que os dois foram recrutados com uma diferença de apenas seis meses. – Impossível, você só pode estar de brincadeira! Ravi disse com uma risada e Damon também riu já quase com seu traje completo. – Pensei que fosse óbvio, por isso eu nunca comentei nada. Disse o mais alto e Marie, já com todo seu equipamento - exceto o capacete -, se virou para encará-lo. – Como pode vocês não terem quase nada a ver um com o outro? O comentário da garota fez com que os outros dois concordassem e Damon pareceu meio desconfortável de repente, coisa que quase nunca acontecia, já que ele era sempre o "cara legal". – Éramos parecidos na infância, como cópias de carbono. Mas depois que...- A explicação dele foi interrompida por batidas fortes na porta que assustaram a todos. – Bom dia, equipe. Hora de comer. A voz de Dimitri foi ouvida do lado de fora, parecia que ele havia acordado um pouco mais maleável do que no dia anterior, mas o tom rude ainda estava presente em sua voz. – Santo dio, que susto. Carlo respirou fundo e Ravi riu de nervoso enquanto Marie continuava olhando para as reações de Damon. Ele parecia um pouco aliviado por ter sido interrompido, então ninguém tocou mais naquele assunto. – Ele parece mesmo com uma assombração. Marie murmurou fazendo todos rirem. [...] – A missão hoje é simples, vamos combater alguns traficantes arruaceiros nas docas. Totalmente concentrado e sério, o capitão Dimitri explicava do que se tratava a missão que eles teriam que cumprir e o papel de cada um nela. – Nosso trabalho é apenas um: Extermínio. O governo foi bem claro quando disse que não queria nenhum preso. Marie, um pouco surpresa, apenas balançou a cabeça em afirmação enquanto prestava atenção nas palavras daquele homem que, até então, ainda não havia conquistado seu respeito como capitão. Mas cá estava ela, tendo que se submeter a alguém que nem mesmo considerava como seu superior. Mesmo que a figura dele fosse ameaçadora, isso não significava nada para a garota que se via prestando atenção no movimento da cicatriz dele em seus lábios. Se não me engano isso parece ter sido feito por algo bem afiado. Ela pensou enquanto analisava a cicatriz que transpassava seus lábios. Entretanto, de alguma maneira aquela cicatriz combinava com ele. Algo entre os olhos escuros e os cabelos levemente longos e seu maxilar afiado fazia ela ter essa sensação. – Claro, estamos na época de eleições, eles não vão querer gastar dinheiro público com isso. Carlo comentou fazendo os pensamentos de Marie voltarem para o briefing da missão. – Não me interessa como vão exterminar esses vermes, só não morram. Reiterou o capitão vestindo sua balaclava cinza escuro. – Damon e Ricci vão pelo leste, Vishal e Kappel vão pelo oeste e eu vou pelo centro. Existem poucas rotas de fuga, então vamos terminar isso rapidamente. Explicou verificando suas armas e os carregadores, e enquanto todos faziam o mesmo, Marie guardou suas facas dentro do colete e pendurou o fuzil sobre o peito. Ela normalmente não utilizava armas, mas era sempre bom tê-las, por isso manteve sua pistola também no coldre em sua cintura. – Capitão, a Tenente disse ontem que era apenas uma combatente comum, não quer que eu vá com ela ao invés disso? Carlo se dispôs atraindo os olhos entediados de Dimitri que posicionou seu capacete no lugar. – Tenho certeza que o Vishal dá conta de proteger eles dois, e são só alguns traficantes, até uma criança conseguiria pegá-los. Desdenhou o capitão nem mesmo se dando ao trabalho de olhar para as feições irritadas de Marie que tirou sua balaclava preta de dentro de seu bolso e vestindo ela. Já entrando no carro que levaria eles para as docas, o indiano olhou para Marie com curiosidade. – Você fica assustadora vestida assim, Tenente. Ravi comentou com um sorriso fraco e Marie riu levemente puxando a balaclava o suficiente para dar ao indiano um sorriso cúmplice. – Você ainda não viu nada, sargento. [...] – Aposto dez conto e uma cerveja que eu derrubo mais do que você hoje. Damon comentou com Carlo do banco da frente enquanto o italiano, que estava sentado ao lado do capitão apenas riu. – Não comigo aqui! Carlo riu ainda comentando com o subtenente algumas coisas sobre a missão e no último banco daquele carro estavam Ravi e Marie. – Tá tudo bem, tenente? Achei você mais calada hoje. Ravi comentou enquanto olhava a paisagem fria do lado de fora do carro e Marie suspirou chamando a atenção do capitão de cabelos escuros que apenas fingiu desinteresse e continuou olhando para frente, mas com sua atenção no banco de trás. – Estou bem, Ravi. Obrigada pela preocupação. O sargento viu que ela parecia ainda um pouco sem jeito, talvez por estar envergonhada - o que não era o caso, mas ele não precisava saber - ou coisa assim. – Meu nome é Ayaan. O indiano comentou baixinho e os olhos de Marie finalmente se ergueram para encarar ele com curiosidade. – Mas... como assim? Perguntou ela e Dimitri não conseguia ouvir bem o assunto por seu irmão e Carlo estarem falando ainda sobre aquela aposta ridícula. – Meu nome americano é Ravi, mas meu nome de verdade é Ayaan. O moreno sorriu brilhante para a garota que não pode deixar de sorrir em reflexo do carisma daquele rapaz. – É um nome muito bonito. Mas por quê decidiu me contar isso agora? Inevitavelmente ela se sentiu compelida a perguntar, já que ele não sairia com essa informação do nada. – Quando estávamos conversando hoje sobre o nome do Capitão e eu percebi que não havia contado para ninguém meu nome de verdade. O indiano deu de ombros colocando seus óculos escuros e fechou o colete de seu peito. Eles estavam chegando nas docas. – Espera... então apenas eu sei disso? Marie perguntou lisonjeada e Ravi afirmou fazendo Dimitri bufar no banco da frente impaciente. Já era para todos naquele carro estarem concentrados para a missão. – Fiquem quietos! Precisamos manter o foco. O capitão disse mau humorado e todos se calaram. Ah, que Deus nos ajude. Pensou Marie revirando os olhos.
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