Desde que soubemos da gravidez, Theo ficou ainda mais protetor. Protetor a ponto de me sufocar.
O médico foi claro: gravidez não é doença, eu estava saudável e podia seguir minha rotina. Mas Theo… ah, Theo insistia que eu devia “descansar” o tempo todo. Ele praticamente me proibiu de trabalhar por uma semana inteira.
No começo, achei fofo. Ele preparava meu café da manhã, controlava a hora de eu tomar água, ficava perguntando se eu estava confortável. Mas depois aquilo começou a me incomodar. Eu precisava da minha vida normal, do meu trabalho, da minha independência.
Tive que levantar a voz para que ele entendesse.
— Theo, chega! Eu não posso ficar presa aqui. Eu preciso voltar a trabalhar.
— E o bebê? — ele retrucou, com aquele olhar sério. — Se algo acontecer, nunca me perdoarei.
— Não vai acontecer nada! — respirei fundo. — Eu não posso parar de viver só porque estou grávida.
Depois de muita insistência e um pouco de cara fechada da parte dele, consegui voltar à minha rotina.
Alguns dias depois, Theo chegou em casa com um brilho nos olhos.
— Tenho uma novidade — ele disse, largando o casaco no sofá. — Sou oficialmente o jovem mais rico do país.
Arregalei os olhos, surpresa e orgulhosa.
— Theo, isso é incrível! — sorri, abraçando-o. — Você merece tudo isso.
Ele contou que, no final do mês, haveria uma grande gala para homenagear sua empresa como uma das mais sólidas do mercado, e que suas ações estavam disparando na bolsa.
— Meu contabilista disse que, se continuar assim, vou ser o mais jovem milionário da história do país. — Ele falava com tanto entusiasmo que seus olhos pareciam brilhar ainda mais. — Mas, Lara… nada disso importa se você não estiver comigo.
Meus lábios se curvaram num sorriso tímido, mas logo ele veio com outra novidade.
— Quero que a gente se mude para uma mansão. Sempre sonhei em te dar o melhor, a você e ao nosso filho… e aos meus pais também. Quero que viva como uma rainha.
Mordi o lábio.
— Theo… eu gosto do nosso apartamento. Não sei se quero mudar agora.
Ele franziu a testa.
— Como assim, não quer?
— É que… não sinto que precisamos de uma mansão. Nosso lar é aqui.
O tom dele mudou.
— Então você não aceita nem quando é para te dar o melhor? É isso? Ou será que… — ele fez uma pausa, me olhando de forma desconfiada — você não gosta do meu dinheiro?
Meu coração disparou.
— Não é sobre isso!
— É sim. — Ele cruzou os braços. — Você nunca aceita nada. Eu até pensei em abrir uma empresa para você, mas pelo jeito também não ia querer.
As palavras dele começaram a me ferir, e antes que pudesse pensar, soltei:
— Quando dizem que o dinheiro muda as pessoas… realmente é verdade.
Assim que terminei, me arrependi. O olhar dele se apagou.
Theo pegou o casaco, caminhou até a porta e me olhou pela última vez antes de sair.
— Esperava isso de todos… menos de você.
A porta bateu, e eu fiquei ali, com lágrimas quentes descendo pelo rosto. Talvez a gravidez estivesse me deixando mais emotiva… mas nada justificava eu ter dito aquilo. Eu acompanhei a trajetória dele desde o início, vi tudo o que passou para chegar até aqui. E agora… eu o machuquei.
Tentei ligar. Dez vezes. Quinze. Vinte. Nenhuma resposta.
Na manhã seguinte, acordei com os olhos inchados e fui para a cozinha tomar café antes de ir trabalhar. Quando virei, ele estava lá, parado na porta.
Mas não era o Theo que eu conhecia. Os olhos vermelhos, o cheiro forte de álcool.
— Theo? — dei um passo na direção dele, assustada.
Ele cambaleou.
— Não encosta em mim — disse, a voz carregada. — Não se preocupa comigo, nem com o meu sucesso… afinal, isso te incomoda, não é? E sim, você tinha razão… o dinheiro me mudou.
— Por que você está assim? Eu nunca te vi bêbado…
Ele riu amargo.
— Por sua culpa. Agora vai trabalhar, já que não pode aceitar nada do seu namorado… nem do homem que achou que era seu melhor amigo.
Antes que eu pudesse dizer algo, ele foi direto para o quarto e bateu a porta com força.
Senti uma dor aguda na parte baixa do abdômen. Por um instante, fiquei paralisada, o medo me tomando. Mas, um minuto depois, passou. Apoiei as mãos na bancada, respirei fundo. Eu não tinha forças para continuar aquela discussão. Eu precisava… sair dali. Precisava distrair minha mente. Peguei minha bolsa e fui trabalhar.