Capítulo 5 — A Convivência - Narrado por Lara

677 Words
Amar o Theo era fácil.
Difícil era me lembrar de que eu ainda precisava amar a mim mesma também. Morar com ele foi como entrar num sonho. Nos primeiros dias, tudo parecia novo e doce: a forma como ele me abraçava antes de sair para reuniões, como ele me esperava com um jantar simples depois de um dia cansativo, ou o modo como deixava bilhetinhos pela casa — “Te amo mais do que o café da manhã”, dizia um deles, colado no espelho do banheiro. Mas com o tempo, a convivência revelou não só o amor, mas também as sombras dele. E as minhas. Theo estava crescendo profissionalmente a uma velocidade impressionante. Em pouco tempo, sua empresa virou um fenômeno e ele passou de programador entusiasmado para CEO de uma potência digital. Ele merecia cada centímetro dessa conquista. Mas... quanto mais ele brilhava, mais eu sentia uma pressão invisível nas minhas costas. Eu o admirava. Muito. Mas uma parte de mim temia me tornar apenas "a namorada do Theo".
E isso doía. Mesmo com o novo emprego com o Leonardo, mesmo sendo valorizada, sentia que ainda estava tentando provar — talvez só para mim mesma — que eu era suficiente. Que minha trajetória não era só um reflexo da dele. — Amor, eu pensei… a gente podia ir pra Paris nas nossas férias. Só nós dois. Você merece um descanso, e eu também — ele disse uma noite, entrando na sala com aquele entusiasmo de sempre, enquanto eu revisava planilhas no notebook. Ergui os olhos e sorri, mas minha cabeça estava em outra parte do mundo: a reunião do dia seguinte, o relatório que ainda não fechei, o problema com o fornecedor da empresa. — Parece ótimo, mas eu não sei se consigo tirar uma semana agora… — respondi, apertando os lábios. — As coisas estão corridas com o Leo. O sorriso dele murchou um pouco. — Tudo bem. A gente vê depois. E foi nesse momento que entendi: mesmo quando o amor é verdadeiro, o tempo nunca parece suficiente. Na convivência, aprendi que o amor não se mede só nos momentos de paixão, mas nos silêncios também. Aprendi a lidar com o jeito de Theo de ser prático demais às vezes, de mergulhar no trabalho e esquecer das coisas pequenas. E ele aprendeu a respeitar meu espaço, minha maneira de pensar milimetricamente antes de agir. Houve noites em que brigamos por coisas bobas — a louça, o volume da TV, a bagunça no closet. E outras em que nos abraçamos tão forte no escuro que parecia que o mundo inteiro cabia naquele abraço. Mas o que mais me ensinou, no fundo, foi ver como ele me olhava. — Você sabe que eu teria orgulho de ter você na minha empresa, não sabe? — ele disse um dia, enquanto me observava terminar uma apresentação no sofá. — Seríamos imparáveis juntos. — Eu sei — respondi, fechando o notebook. — Mas eu também quero ser imparável por mim. Não por ser sua namorada. Ele se aproximou, sentou ao meu lado e pegou minha mão. — Você já é, Lara. E é por isso que eu me apaixonei por você. Porque mesmo me amando, nunca deixou de ser você. Naquele momento, eu entendi que o nosso relacionamento não precisava apagar a minha luz. Pelo contrário — ele me fazia brilhar com mais força. Porque quando o amor é verdadeiro, ele não suga, ele soma. Um dia, voltando de uma reunião, entrei no carro com a cabeça cheia. Estava exausta, insegura, com medo de não estar à altura de tudo o que estava acontecendo. Mas quando entrei em casa, encontrei o apartamento com velas acesas, o jantar preferido na mesa e Theo de avental. — Hoje é o dia do “orgulho da Lara”. Todo mês, vamos ter um. Você merece ser celebrada também. Eu ri. Chorei. Me entreguei àquele gesto pequeno, mas enorme. Na convivência, entendi que amar não é só dividir espaço — é respeitar os espaços, mesmo quando eles não são seus.
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