PONTO DE VISTA DE PHERA
— Você consegue, P.! Acabe com esse i****a! — Ouvi minha amiga Cindy gritar do lado de fora do ringue, enquanto eu limpava a gota de sangue que escorria do meu lábio, onde aquele i****a do Steve havia acabado de me dar um soco.
Querendo terminar logo essa luta, avancei em direção ao Steve, indo para a esquerda e virando para a direita no último momento, me agachando e chutando-o para derrubá-lo. Ele cai de costas com um estrondo, enquanto eu me ajoelho sobre ele e o sufoco, apertando seu pescoço, cortando o suprimento de ar. Ele move os braços e as pernas como um peixe fora d'água, mas minha pegada não afrouxa, mantendo-o firmemente preso, como o treinador me ensinou. Após alguns segundos, vejo que ele começa a ficar um pouco azul, mas se recusa a desistir. Me inclino e sussurro em seu ouvido.
— Vamos lá, Stevey Boy, você não quer que todas as suas conquistas te vejam desmaiar, não é mesmo? — Eu disse.
Achei que isso o faria reagir, já que os lobos machos e seus egos eram grandes demais para eu entender às vezes, mas ele não cedeu. Apliquei um pouco mais de pressão, o que o fez engasgar. Depois de tentar incessantemente se soltar do meu domínio, alguns segundos depois ele desiste e bate palmas. Soltei seu pescoço quando o treinador me anunciou como a vencedora. Eu levanto os dois braços no ar enquanto meus colegas estudantes me aplaudem. Olhando para baixo, vejo Steve furioso, o que me faz rir. Estendo a mão para ajudá-lo a se levantar, ele a agarra e se põe de pé. Não se passa nem um segundo antes de ele me dar um soco brincalhão no braço e me abraçar pelo ombro.
— Eu deixei você ganhar, baixinha — Disse Steve.
Revirei os olhos enquanto saímos do ringue.
— Oh, tenho certeza que sim — Eu disse, dando uma cotovelada em seu estômago.
— Ei! Eu estou falando sério, eu não queria arruinar seu recorde. Considere como pena — Disse Steve, o que me fez rir e balançar a cabeça para o i****a do meu amigo.
Já se passaram oito anos desde aquele dia terrível. Oito anos de crescimento e construção de muros ao redor do meu coração para me ajudar a chegar onde estou agora: a número um na Academia dos Lobos para a Elite. Depois que os trigêmeos e Newmara quebraram meu coração sem piedade naquela noite, prometi a mim mesma ir para longe, para onde eles não seriam capazes de me machucar novamente. Após uma noite chorando e implorando para os meus pais, eles concordaram em me enviar para a Terra para terminar o ensino médio na academia, o que os trigêmeos assinaram com prazer. Nem uma vez eles tentaram se comunicar comigo nesses oito anos, e nem uma vez Newmara pediu desculpas para mim por aquela noite. Ela agia como se tudo estivesse bem e ótimo, e como se ela não tivesse despedaçado o coração de sua irmãzinha em um milhão de pedaços. Já se passaram oito longos anos desde que vi a alcateia. Eu me recuso a voltar, a retornar ao lugar onde as más lembranças ofuscam as boas. Apesar de sentir falta dos meus pais, de Nate e de meus melhores amigos, Betty e Reese, ainda não voltei. Eles costumam vir durante as férias para me ver. Newmara já veio algumas vezes, mas eu mantive minha distância, o vínculo que tínhamos uma vez já se foi há muito tempo. Eu a tolero porque ela é minha irmã mais velha, e mamãe e papai me ensinaram a ser melhor do que ser mesquinha, ao contrário de alguns.
Depois de terminar o ensino médio aos dezoito anos, meus pais queriam que eu voltasse e procurasse pelo meu companheiro, já que não o tinha encontrado na academia. Mas eu recusei, pois lá no fundo eu tinha a sensação de que sabia quem eram meus companheiros, mas o medo de que isso fosse verdade me mantinha aqui na Califórnia, longe do multiverso dos lobos, longe da temida Alcateia da Lua Vermelha e longe dos meus possíveis companheiros. Não querendo voltar, me matriculei no programa de graduação da academia, cursando simultaneamente formação guerreira e contabilidade, dizendo aos meus pais que eu gostava da minha vida aqui e que voltar para a alcateia seria um retrocesso. Apesar de meus pais nunca mencionarem porque eu comecei a odiar a alcateia e evitar minha irmã e os trigêmeos, eu sabia que eles sabiam o motivo. No entanto, enquanto eles não mencionassem isso, eu estava bem em não mencionar também. Por que trazer à tona memórias ruins quando eu estava criando ótimas aqui?
No entanto, tenho a sensação de que minha felicidade será efêmera. Estou prestes a me formar no meu programa em uma semana, e pelas regras da alcateia, se eu não conseguir um emprego em uma empresa de propriedade de lobos, sou obrigada a voltar para a alcateia. Mesmo com minhas qualificações excelentes e estando no topo da minha turma em treinamento de guerreiros e no meu curso de contabilidade, ainda temo pelo meu futuro. Sempre há esse “e se” no fundo da minha mente. Voltar para a Lua Vermelha está fora de questão para mim. Fui tirada dos meus pensamentos quando senti um par de braços musculosos envolver minha cintura e o cheiro de grama recém-cortada invadir meus sentidos. Eu não precisava me virar para saber que era o Josh, meu namorado.
— Oi, linda — Sussurrou ele no meu ouvido, dando um beijo na minha bochecha e me virando, me afastando dos braços de Steve e me puxando para si. Eu sorri e beijei sua bochecha.
— Ela pegou você de jeito, mano — Disse Josh para seu irmão gêmeo, Steve.
— Ei, eu não poderia sair machucando minha futura cunhada — Respondeu Steve. Isso fez Josh rir, mas me deixou tenso com as sugestões de relacionamento.
Ao longo dos anos, eu namorei vários caras. No entanto, a maioria, se não todos, duravam apenas duas semanas. A sensação de ser tocada por qualquer pessoa que não fosse os trigêmeos me repugnava, o que geralmente resultava em terminar com eles. Eu até me sentia culpada, já que, para tirar os trigêmeos da minha mente, costumava me distrair com outros caras na esperança de encontrar alguma paz de espírito que não envolvesse os três. Isso sempre me fazia pensar como eu era melhor que os trigêmeos agora, afinal, eles pegavam garotas como um frango em uma churrasqueira. Mas, com o Josh, era diferente. Nos tornamos amigos rápido no primeiro dia de aula e, eventualmente, melhores amigos. Sete anos e meio depois, ele finalmente me pediu em namoro, e eu concordei. Josh não era como os outros caras com quem costumava estar. Ele era carinhoso e atencioso. Mesmo desejando levar nosso relacionamento para o próximo nível, ele nunca insistiu além dos beijos, percebendo que eu não estava pronta, o que, sinceramente, eu não tinha certeza se algum dia estaria. A ideia de dormir com alguém que não fosse os trigêmeos parecia uma traição a eles, o que era besteira porque para eles não havia problema em mergulhar de língua na minha irmã.
Sentindo-me tensa em seus braços, Josh olhou para mim, silenciosamente me perguntando se eu estava bem, e eu apenas assenti. Mesmo sabendo que ele não acreditava, ele deixou para lá. Isso é o que eu mais amava nele. Ele não era insistente, e sempre havia essa sensação de entendimento entre nós, sobre quando devíamos ou não nos pressionar.
Antes que Josh pudesse dizer mais uma palavra, senti meu celular vibrar no meu bolso traseiro. Pegando-o, vi que mamãe estava me ligando pelo FaceTime. Sorri para Josh e disse a ele que voltaria logo, enquanto caminhava em direção à linha das árvores. Atendendo à chamada no último toque antes que fosse desligada, fui agraciado com os rostos sorridentes tanto da mamãe quanto do papai.
Meu Deus, como eu sentia falta deles.
— Oi, querida! Pegamos você em um momento r**m? — Perguntou papai, mesmo que estivessem sorrindo, eles pareciam um pouco nervosos.
— Não, não! Acabei de terminar o treinamento de guerreira. O que houve? — Eu disse, sentando-me debaixo da minha árvore de bordo favorita.
Vi-os olharem um para o outro, em seguida, para alguém que provavelmente estava na frente deles, e então olhando de volta para mim com um olhar esperançoso.
— Querida, não há maneira mais fácil de dizer isso, mas você precisa voltar para casa e tem que ser ainda esta noite.
Isso foi tudo o que minha mãe disse para me fazer inspirar profundamente e me enrijecer no meu lugar.