Aurora Acordei com a sensação de que algo estava prestes a acontecer. Era como se o mundo, por um momento, tivesse segurado o fôlego — e eu com ele. O sol atravessava as cortinas espessas em feixes dourados, mas o brilho da manhã não aquecia meu peito. Era uma luz fria, alerta, quase profética. Rolei na cama, os lençóis se embolando nas pernas, o corpo ainda entorpecido pelo sono e pela inquietação que me acompanhava há dias. O relógio marcava pouco antes das nove, e pela primeira vez desde que entrei naquela casa, ninguém bateu na porta. Nada de Carmen com a bandeja. Nenhum passo apressado nos corredores. Nenhuma voz distante chamando por ordens. O silêncio era denso. E foi quando me sentei que ouvi. Passos. Passos reais. Não rodas. Não o som metálico da cadeira de Elías desli

