Tom estaciona o seu carro preto de vidros escurecidos em frente à casa de Amélia, em questão de segundos ouvimos a porta ser aberta e a loira enfiar-se para dentro do veículo. Olho para trás e observo atentamente a sua cara amassada, as olheiras enormes abaixo de seus olhos e o cabelo bagunçado amarrado em um coque no topo da sua cabeça.
– Que porcaria é essa? - questiono. Ela faz a pior das caras de tédio e me mostra o dedo do meio. – O que você fez com seu cabelo? - Tom gargalha e eu o acompanho.
– Vai se ferrar. - ela manda. – Os dois. - aponta para Tom também. – Não estou de bom humor hoje, então não enche a p***a do saco. - ela é totalmente rude e grosseira, porém eu não me importo.
– Tudo bem, Amélia. - Tom diz, ele tenta ser gentil, porém há uma linha fina de sorriso esnobe em seus lábios.
Me ajusto no banco, Beaufoxt liga o carro e dá a partida novamente.
– É, tudo bem estar de m*l humor. - digo. Observo ela concordar com a cabeça pelo vidro do retrovisor. – Mas não tomar nem um banho é f**a hein Parkinson? - completo a minha piada, posteriormente gargalhando de maneira escandalosa e alta, a garota bufa irritada e se deita no banco de trás do carro de Tom completamente frustrada com toda a situação.
– Você vai entrar para o grêmio acadêmico esse ano? - Amélia questiona sentando-se na cadeira atrás de mim, balanço a cabeça negativamente.
– Não. - digo. – Eu estou na equipe do cenário da peça de final de período. - informo-a.
– Ah, é verdade. - murmura. Seu humor melhorou bastante desde que chegamos a escola. – Eu fiquei como a melhor amiga de Julieta. - viro meu rosto, contemplo a careta enojada de Amélia.
– Essa eu vou querer ver. - respondo com um singelo sorriso em meus lábios. – Você deve ser uma péssima atriz. - provoco-a. Ela me mostra o dedo do meio, deve ser a décima vez que ela faz isso somente esta manhã.
– Você é um escroto fodido. - xinga-me. Reviro os olhos e gargalho.
Me ajeito na cadeira novamente. Os alunos que estavam do lado de fora adentram a sala, inclusive Tom que se senta a minha frente, todos os alunos estão conversando, suas vozes são baixas, mas acumuladas em excesso por todo o resto se torna algo alto e aborrecedor.
– Kiara, eu não posso crer. - ouço a voz rouca e baixa de Lauren saltar, ela está bem ao meu lado e conversa com a a garota alta de cabelos lisos e negros, Kiara.
– Era só o que me faltava. - praguejo. A garota olha para mim e desfaz o sorriso quase que no mesmo segundo, eu pelo contrario sorrio abertamente e provocativo.
O silêncio do nada toma conta da sala, apenas os saltos altos ecoam no mesmo. Ergo meu olhar e direciono o meu olhar para frente, meu queixo cai ao vislumbrar a mulher que ajusta seus materiais em cima da mesa da professora Denise.
Ela é n***a, possuem cabelos loiros de raiz escura e cacheados preso em um coque bem feito e solto na frente. Ela retira os óculos escuros, e posteriormente a jaqueta marrom de seu corpo. Ela tem s***s fartos, cobertos por um body branco colado ao seu corpo delineado, e quando vira-se não se pode dizer diferente da sua b***a, principalmente levando em consideração a calça jeans de cós alto clara que a mesma traja.
Definitivamente NÃO é Denise.
– Bom dia. - é ela quem começa, sua voz é rouca, grossa e maravilhosa. – Meu nome é Lilian Carter. - alguns alunos da frente dão risada ao ouvir seu nome, ela lança para eles o olhar mais repreendedor que eu já vi.
– Podemos chamar-lhe somente de Lily? - questiona uma aluna um pouco a frente de mim. Lilian sorri.
– Não. - responde franca. Ok, é notável que o que ela tem de linda e gostosa, ela tem de severidade. – Lilian, apenas Lilian.
A turma novamente se cala, ela observa todos. Lilian passa a mão no seu cabelo e respira fundo, parece aguardar por outras perguntas, porém elas não vêm.
– Tenho trinta e três anos. Sou formada por Juilliard, em dança, música e teatro. - ela foca seu olhar em apenas uma região, me incomoda pois julgo ser para mim. – Eu sou do Texas, Houston para ser mais exata. E eu sou a professora substituta da Denise. - informa a questão que talvez estivesse na cabeça de todos nós.
Lilian para e suas mãos são levadas até os bolsos traseiros da sua calça elevada. Umedeço meus lábios e permaneço em silêncio. A porta se abre abruptamente e David adentra a mesma fazendo barulho junto com a sua cambada de músculos e pouco cérebro que e chama de time, que todo mundo chama de time. Lilian os olha, seu olhar é totalmente egocêntrico e ela parece furiosa.
– Oi, eu sou David Smith. - ele se apresenta-se com o sorriso mais i****a expresso em seu rosto. – E esse é o pessoal do time. - refere-se aos alienados atrás de si.
– Certo, sr. Smith, meu nome é Lilian Carter, sou a nova professora de artes. - ele estende sua mão para ela, guardando primitivamente a sua bola abaixo do seu braço. Ela sorri esnobe, e ignora sua tentativa de cumprimento. – Vai gostar de saber que eu não tolero atrasos e que na próxima, você e o seu time? - questiona, olhando calorosamente para os adolescentes atrás do garoto. – Não vão assistir a minha aula. - completa.
David desfaz o sorriso e caminha para o seu lugar, sendo seguido pelos demais garotos. Eu sorrio, sem deixar que qualquer som seja emitido pelas minhas cordas vocais.
– Certo, quem é Eric Adams e Louise Fernández? - a mulher pergunta, há um caderno em suas mãos agora. Lauren ergue a sua mão, pedindo permissão para responder. – Sim. - Lilian concede a ela permissão.
– Louise é minha irmã e Eric é o irmão desse aí. - ela gesticula com o queixo para mim, em um ato totalmente egocêntrico. – Ambos são do segundo ano.
Reviro os olhos.
– Não, Eric não é meu irmão. - digo convicto. – O pai dele ser casado com a minha mãe não cria laço algum entre ele e eu. - respondo, olhando fixamente para Fernández que rola seus olhos irritada.
– Isso é totalmente irrelevante. - a professora mais uma vez diz, notando que Lauren iria me responder de forma ofensiva. – Mas já que temos parentescos aqui, isso poupa o meu trabalho, diga a eles que eles estão fora da peça de teatro.
– O QUE? - Lauren grita. Lilian a repreende com o olhar. – Eu quero dizer, eles são os principais, não há como substitui-los.
– Ah, sim e eu vou. - a morena responde óbvia. – Eu não tolero alunos desordeiros nas minhas atividades e pelo que eu posso notar sua irmã e o rapaz foram suspensos por um desrespeito explicito a arte.
– Mas professora... - ela tenta argumentar.
Seguro a gargalhada, Lilian a ignora completamente. Eu faria questão de avisar a Eric que ele não vai ser mais o Romeu da peça de teatro, tão pouco a sua namoradinha. Ele vai ficar irado e uma das coisas que eu gosto de ver, é quando o enteado da minha mãe perde a linha.
– Eu assisti os vídeos da audição de cada um e honestamente, eu não entendi qual o problema da Denise em dar o papel para os dois. - pela primeira vez, Lilian sorri, e não é algo esnobe. – Eles foram péssimos. - ela aproxima-se do computador e digita algumas coisas. – Então eu selecionei três casais que para mim, foram os melhores individualmente e eu gostaria que refizessem o teste comigo, em dupla. - avisa.
Tom abaixa a cabeça na minha frente, ele cruza todos os seus dedos, torce para o seu nome não estar na lista. Ele sibila algumas coisas e eu seguro a risada a cada segundo mais sentindo a minha face coçar.
– Tom Beaufoxt e Amélia Parkinson. - ela lê. Ouço o grito histérico de Amélia atrás de mim.
– VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO? - Amélia diz, me viro, seus olhos estão arregalados e ela gesticula com as mãos completamente frustrada. – Aposto que é, uma pegadinha. - eu me viro novamente para olhar a mais velha.
– Não, srta. Parkinson. Não há brincadeiras. - Lilian diz séria, não compreende o motivo da histérica dela.
– p**a que pariu. - Amélia xinga atrás de mim, é baixo, ela não tem intenção que morena a frente a escute.
Tom, por sua vez, não demonstrou nenhum tipo de reação explicita, da maneira de Amélia. Ele apenas fechou sua mão em punhos e sibilou alguns palavrões quase inaudíveis. Ah, isso vai ser engraçado. Tom e Amélia atuando como um casal vai ser a peça do ano.
– Kiara Jones e David Smith. - olho para o lado, a morena de cabelos lisos comemora, juntamente ao garoto, ambos fazendo um toque com a mão.
Lauren, por sua vez, não parece gostar muito da ideia de sua melhor amiga e seu namorado atuarem juntos. Retiro meus olhos da garota voltando a olhar para a professora que se curva diante do computador e digita algumas coisas.
– Quer apostar como o último é a Lauren e um dos abutres do David? - Amélia sussurra em meu ouvido, arrancando de mim a pior das risadas.
– Lauren Fernández. - a professora diz, porém não revela seu par de imediato. – E Peter Roux. - após dizer meu nome, eu engasgo com a própria saliva.
Amélia e Tom começam a gargalhar de maneira desordenada, a professora os encara com um ponto enorme de interrogação explicito no rosto. Olho para Lauren, seus olhos estão arregalados.
Me levanto rapidamente andando entre as carteiras da sala e me encaminhando até Lilian.
– Não, não, há um erro, há milhões de erros. - eu digo convicto. A sala inteira grita, alguns riem, outros batem suas mãos na carteira.
– Eu não vou fazer absolutamente nada com esse garoto. - Lauren protesta atrás de mim.
– Sinto muito, mas na minha sala de aula quem dita as regras sou eu e eu estou dizendo que irão fazer juntos, é porquê vão. - avisa. Ela ergue seu b***o e respira fundo. – SILÊNCIO. - grita, sua voz salta mais grave do que já é. A sala inteira atende o seu mandato de imediato.
– Lilian... - murmuro seu nome quase piedosamente.
– Sr. Roux, não há nada que me fará mudar de ideia. - Lauren abre sua boca para respondê-la, mas é imediatamente respondida. – Ou vocês fazem o teste juntos e com fazer o teste, eu quero dizer, levem isso a sério, ou vocês ficam sem nota e pelo que eu vi, ambos tem históricos limpos. Não vão querer suja-los né? - após dizer, o sinal toca indicando que a sua aula havia acabado. – Tenham um bom dia. - ela vira-se de costas e abandona a sala sem recolher os seus matérias da mesa.
– Fala sério Peter, você está puto por quê vai atuar com a Lauren? - Tom questiona, ele não retirou o sorriso sarcástico o caminho da sala para o refeitório inteiro.
Me sento na cadeira, coloco meu suco de maçã industrial sobre a mesa. Eu perdi a fome totalmente. Olho a fundo para trás de Tom e vejo Lauren sentar-se com seus amigos na área conhecida como a área dos populares.
– Isso é verdade. - é a vez de Amélia dizer. Eu nem havia notado a presença da loira até ela sentar-se na cadeira ao lado de Tom Beaufoxt. – E se te serve de consolo, eu e o Tom estamos torcendo para você e a Fernández ganharem, por isso não vamos humilhar vocês. - Parkinson e Beaufoxt gargalham, ambos fazem um simples toque com a mão.
– Por que vocês não vão se ferrar? - respondo-os.
– Porque é mais legal ver você se ferrar. - Tom diz, reviro os olhos, posteriormente os fecho ouvindo-os dar risada.
Isso é um inferno, um inferno completo, do tipo que não poderia piorar. Eu e Lauren somos de mundos diferentes, nós não nos misturamos em nada, desde a oitava série quando nós paramos de nos falar foi assim, tinha que continuar a ser assim.
Lauren Fernández's POV
– Lauren. - Kiara me chama, abro meus olhos e encaro seus olhos castanhos. – Você está com raiva por eu e David termos ficados juntos? - balanço a cabeça negativamente.
– Estou com raiva de eu e o Roux termos ficado juntos. - respondo. – isso vai contra as leis da lógica. Ele nem ao menos fez um bom teste na primeira audição. - digo convicta, eu assisti a todos os testes e ele foi péssimo.
– Isso é verdade. - Kiara concorda. – Mas você precisa parar de pensar um pouco em todas as suas implicâncias com ele, vão lá e façam um bom trabalho, não vale a pena sujar seu histórico escolar por causa dele. - sua voz é doce, grossa e tradicionalmente acolhedora.
Olho para trás, Roux parece discutir com Amélia e Tom. Ele sempre estava acompanhado deles, desde a sexta série.
– Está bem. - murmuro.
David está conversando com os demais garotos. Vanessa está ao celular junto com Klara, ela explica algo para a garota no aparelho. Kiara logo volta a comer as suas frutas, eram as únicas coisas que ela comia durante suas horas na escola, Kiara sempre fora encanada com seu peso e sua magreza.
Adentro a minha casa após ter saído dela cinco horas atrás para ir a escola. Retiro a minha bolsa dos meus ombros e a jogo sobre o sofá cinza localizado no centro da sala de estar.
– Como foi na aula hoje? - a voz de Louie me assusta, eu não percebi a garota chegar tão perto assim de mim.
– Santo Deus, Louise! - eu a repreendo, levando a minha mão para o meu peito. – Você quase me mata do coração. - digo e respiro fundo.
A garota um pouco mais baixa do que eu sorri. Ela está arrumada, usa um short jeans rasgado, uma regata branca, uma blusa xadrez vermelha amarrada no quadril, tênis Adidas branco e um boné vermelho com a aba virada para trás na cabeça.
– Desculpe. - diz. – E então? - insiste.
– Foi normal. - lembro-me de Lilian e de suas palavras. Engulo a seco. – Sabe a peça antes das férias de verão? - questiono. Louise assente com a cabeça e rapidamente sorri.
– Sim, eu e o Eric vamos ser os principais. - seus olhos brilham, meu rosto murcha ao ver sua animação. – Vai ser demais. - ela praticamente grita.
Entorto meus lábios, não posso imaginar uma maneira gentil de dizer isso a ela.
– Então... - fecho meus olhos. – Vocês não vão mais ser. - digo. Abro meus olhos e o rosto de Louie caiu, seus lábios estão entreabertos e sua expressão nada boa. – Denise saiu, por alguma razão e a nova professora não aprecia quem desrespeita a arte como você e o Eric o fizeram. - o queixo de Louie treme, eu sei que ela segura o choro já que seus olhos estão lacrimejando a cada segundo mais.
– Quem está no nosso lugar? - pergunta. Levo minhas mãos no meu cabelo e coço-o.
– No momento, ninguém. - respondo dando passos para trás.
A campainha toca, Louie corre até a porta, assim que a abre, o garoto de olhos claros e vestido não tão diferente dela, mas de maneira masculina, está na porta com um sorriso enorme.
– Oi, Lauren. - Eric ergue sua mão para mim, ele sorri.
Aproximo-me do sofá e puxo a minha bolsa do mesmo, posteriormente começo a subir os degraus da escada rapidamente ignorando-o completamente.
– Ela está bem? - ele sibila para Louie.
– Sim, eu é que não. - sua voz soa chorosa.
Chego ao segundo piso e corro para o meu quarto. Ouço o barulho da porta no andar de baixo soar estrondosa, eu respiro o mais fundo que consigo. Eu não poderia conseguir esse papel, ela me odiaria para sempre.