7. Pistas Na Escuridão

1780 Words
A escuridão da noite caiu sobre Darrow’s Hollow com um peso quase físico. As ruas estavam desertas, e a cidade inteira parecia prender a respiração. O lago refletia a lua cheia, imóvel, mas Ethan sentia que havia algo pulsando sob a superfície. Cada ondulação era um aviso, cada reflexo uma lembrança de que a criatura observava, aprendia e esperava. Ethan voltou à cabana de Henry Calder com Sarah. O velho os recebeu silencioso, já antecipando que esta seria uma noite decisiva. Sobre a mesa, o diário antigo estava aberto, revelando páginas adicionais que haviam permanecido escondidas, encadernadas em couro gasto e marcadas por símbolos que Ethan ainda não compreendia completamente. “Estas páginas,” disse Henry, a voz baixa, quase um sussurro, “foram encontradas na seção mais profunda do diário. Elas contêm relatos de rituais, instruções codificadas e notas sobre desaparecimentos antigos. Cada pista, se interpretada corretamente, revela como a criatura interage com a cidade.” Ethan folheou lentamente. As palavras, escritas em tinta quase n***a, contavam histórias perturbadoras: cultos realizados às margens do lago, símbolos gravados na terra, crianças e jovens desaparecendo sem explicação, e sinais que ninguém da cidade podia perceber — a ondulação da água, o farfalhar das folhas, o cheiro metálico que precedia o horror. Sarah estudava os símbolos com cuidado, apontando para padrões que se repetiam. “Olhe, Ethan. Estes círculos… aparecem em cada relato de desaparecimento. Sempre próximos à água ou à floresta. Sempre ligados ao medo.” Ethan assentiu, a respiração presa. “E cada relato está conectado à minha família. Não é coincidência. O diário mostra que o selo que mantém a criatura adormecida depende de nós.” Henry olhou para ele, sério. “O selo enfraqueceu. E cada passo que você deu desde que voltou a Darrow’s Hollow só confirmou que a presença está mais ativa. Ela observa, experimenta, escolhe. E agora sabe que vocês sabem.” Um estalo metálico percorreu a cabana, vindo da porta que rangia com o vento. Ethan ergueu a lanterna, iluminando o espaço vazio. O silêncio, porém, era mais inquietante que qualquer som. Cada sombra parecia se mover de forma independente, carregando um propósito próprio, uma consciência que Ethan podia sentir, mas não podia ver. Ele voltou ao diário, agora atento a cada detalhe. Linhas menores, quase imperceptíveis, detalhavam instruções que pareciam indicar rituais esquecidos, marcas que deveriam ser reforçadas, sangue de linhagens específicas. Ethan compreendeu, com uma clareza gelada: não se tratava apenas de estudar o passado. Era necessário agir sobre ele. Cada passo em falso poderia fortalecer a criatura, espalhar o terror e aumentar o número de desaparecimentos. Um sussurro atravessou a cabana, baixo, distante, quase inaudível, mas impossível de ignorar: "Você caminha na escuridão, mas a escuridão caminha de volta." Ethan ergueu a cabeça, o frio da mensagem atravessando a espinha. O diário não era apenas um registro. Era um mapa do terror, um guia do que estava por vir e de como a criatura escolhia suas vítimas. E, pela primeira vez, ele percebeu que cada detalhe da cidade, cada ondulação no lago, cada sombra na floresta, era uma pista que precisava ser decifrada. Sarah respirou fundo, a mão sobre o braço de Ethan. “Então… o que fazemos agora?” Ethan fechou os olhos, sentindo o peso da responsabilidade. “Seguimos cada pista. Entendemos cada símbolo. E descobrimos como impedir que a criatura escolha mais alguém. Antes que seja tarde.” Henry assentiu. “O que está acontecendo não é apenas passado ou presente. É um ciclo. E vocês estão no centro dele.” O vento entrou novamente pela janela, carregando o mesmo frio cortante e aquele som que parecia vir do próprio solo. E, lá fora, no lago, uma ondulação fina surgiu, desaparecendo tão rapidamente quanto surgiu, como se fosse um aviso. Ethan sabia que não havia mais volta. Cada pista decifrada, cada símbolo compreendido, os levaria mais perto do coração da escuridão. E a criatura os observava. Sempre os observava. Enquanto a noite avançava, Ethan e Sarah estudavam cada página do diário, os símbolos circulares e as linhas tortuosas que Henry Calder apontava com cuidado. Era mais do que escrita antiga: cada marca parecia pulsar com uma energia própria, um alerta silencioso de que a criatura não estava apenas adormecida. “Veja isso,” disse Ethan, apontando para um conjunto de círculos entrelaçados. “Eles aparecem sempre que alguém desapareceu ou… quando a presença se manifestou na cidade. Cada rastro de medo deixa uma marca.” Sarah olhou atentamente. “Então não é apenas o lago. Ela está por toda parte… invisível, mas ativa. E o diário registra como ela se move, como ela escolhe suas vítimas.” Henry observava em silêncio, como se cada palavra fosse uma confirmação do que temia. “O diário mostra que os colonos antigos tentaram criar barreiras, selos, rituais… mas nunca conseguiram conter totalmente. O sangue da linhagem Cole era a chave para manter o ciclo interrompido.” Ethan respirou fundo, a realidade pesando sobre ele. “Então… cada desaparecimento, cada morte estranha, cada som que ouvimos… é parte de um padrão. Ela aprende com o medo. Ela cresce com ele.” Enquanto estudavam, um estalo veio da porta da cabana, seguido por um farfalhar que parecia vir de fora, da floresta. Sarah se levantou devagar, lanternas em mãos, mas não havia nada além do vento. Ethan sentiu novamente a presença: fria, calculista, como se os olhos da criatura estivessem sobre eles, invisíveis, atentos a cada gesto. Henry fechou o diário com cuidado e olhou para Ethan. “O que está em suas mãos agora não é apenas história. É um mapa de como o m*l escolhe suas vítimas e manipula o medo. Se conseguirem compreender completamente o padrão, poderão antecipar os próximos movimentos.” Ethan folheou para outra seção, onde as notas menores detalhavam rituais antigos realizados à beira do lago e em cavernas esquecidas sob a terra. Linhas quase invisíveis conectavam cada desaparecimento a símbolos gravados no solo ou pintados com sangue em árvores antigas. Era evidente: a criatura não apenas caçava, mas testava, marcando pontos na cidade, aprendendo com cada falha humana. “Cada pista, cada símbolo, cada desaparecimento… tudo está interligado,” disse Ethan, a voz baixa, firme. “Ela não age aleatoriamente. Existe um ciclo, e ele sempre retorna ao lago. É como se ela estivesse… estudando a cidade, estudando nós.” Sarah engoliu em seco. “Então Danny… e os outros que vierem… não é só azar. Ela escolhe, certo?” Ethan assentiu, o aperto no peito aumentando. “Sim. E cada escolha dela se baseia no medo, na memória, na culpa. Quanto mais medo, mais forte ela fica.” O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de tensão. Do lado de fora, a floresta parecia se mover sozinha, e o lago refletia a lua cheia de forma quase imperceptível, ondulando com pequenas pulsações que Ethan reconheceu imediatamente: o olho da criatura, desperto e atento. Henry falou finalmente, a voz firme e grave. “Vocês precisam agir rápido. Cada pista decifrada lhes dá vantagem, mas cada segundo de hesitação alimenta o que desperta. A criatura não espera. E Darrow’s Hollow, por enquanto, ainda está vulnerável.” Ethan fechou o diário, segurando firme o couro gasto, e olhou para Sarah. “Vamos decifrar cada símbolo, cada ritual. Vamos entender o ciclo dela. Antes que ela escolha a próxima vítima.” O vento frio voltou a percorrer a cabana, e um último sussurro atravessou a noite: "O medo é seu guia. E o próximo olhar será o seu." E naquele instante, Ethan compreendeu que a criatura não apenas se movia pelo lago ou pela floresta. Ela se movia pela cidade, pelos medos, pelos pensamentos deles. E cada passo na escuridão traria novas pistas — e novos horrores. Horas passaram na cabana. Ethan, Sarah e Henry haviam estudado cada símbolo, cada anotação, cada padrão que o diário antigo revelava. Ethan começou a perceber uma lógica perturbadora: cada desaparecimento estava ligado não apenas ao medo da vítima, mas à proximidade da água, à densidade da floresta, aos sinais que a criatura deixava invisíveis para olhos comuns. “Olhe aqui,” disse Ethan, apontando para um símbolo quase apagado no diário. “Ele coincide exatamente com aquele círculo de pedras que encontramos perto da escavação ontem. É como se ela tivesse marcado… uma área de influência.” Sarah se aproximou, os olhos arregalados. “Então tudo que vimos… as ondulações no lago, os sons na floresta… não eram aleatórios. Ela está testando limites, explorando o território, medindo medo.” Henry assentiu lentamente. “E cada teste fortalece a presença. Quanto mais vocês sentirem medo, mais fácil será para ela escolher a próxima vítima. Cada sinal, cada padrão, é uma pista… e uma armadilha.” Ethan respirou fundo, tentando conter a ansiedade que crescia. Pegou a lanterna e olhou para a janela. A floresta parecia pulsar com vida própria, e o lago refletia a luz da lua de forma irregular, como se algo grande se movesse logo abaixo da superfície. Um estalo mais próximo fez os três congelarem. Sarah segurou a mão de Ethan, olhos fixos na escuridão. Henry apenas suspirou, como se estivesse esperando aquele momento. De repente, uma ondulação surgiu no lago, grande o suficiente para quebrar o reflexo da lua. Ethan percebeu que aquilo não era apenas água. Havia uma consciência atrás do movimento, um teste, uma observação deliberada. Ele sentiu, de forma visceral, o olhar da criatura sobre eles, mesmo a distância. Não era apenas a cidade que estava em perigo. Eles estavam sendo monitorados, estudados, como peças em um tabuleiro que nunca poderiam compreender completamente. Henry falou, a voz firme e grave: “Vocês sentiram. Não é apenas medo. É presença. E ela está perto o suficiente para testar seus limites. O diário mostra como enfrentá-la, mas cada passo em falso aumenta o risco.” Ethan fechou o diário com força, sentindo o peso da responsabilidade. Cada símbolo decifrado, cada padrão compreendido, revelava mais sobre a criatura, mas também aproximava o terror de Darrow’s Hollow de um ponto sem retorno. Do lado de fora, o vento trouxe um sussurro quase humano, rastejando pela cabana: "O próximo olhar será seu. E vocês já estão à vista." Ethan olhou para Sarah, para Henry, e depois para a escuridão além da janela. Sabia que cada pista, cada símbolo, cada rastro de medo, os levaria para mais perto do coração da criatura. Mas também sabia que, desta vez, o olhar dela não era apenas uma ameaça: era uma promessa. A criatura estava acordando. E Darrow’s Hollow estava prestes a pagar o preço do medo que crescia silencioso, invisível, e agora inevitável.
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