LIA
Eu estava tentando ter um dia normal.
Eu JURO que estava.
Mas o destino, esse fofo, decidiu que hoje eu precisava sofrer um pouquinho mais, especialmente porque o Theo resolveu aparecer em todos os lugares que eu estava.
E Noah…
Bem…
Noah virou um vulcão prestes a entrar em erupção.
DE MANHÃ: o universo começa a brincar comigo
Eu entrei na sala com meu caderno de literatura debaixo do braço, pronta pra fingir que minha vida estava sob controle.
O Theo estava sentado na fileira ao lado. Ele sorriu assim que me viu.
— Bom dia, Lia.
— Bom dia! — respondi com um sorriso que eu não costumo dar pra ninguém às oito da manhã.
E antes que eu me sentasse, Noah entrou na sala.
Ele olhou pra mim.
Depois pro Theo.
Depois pra mim de novo.
A expressão?
Aquele “estou fingindo que não liguei, mas liguei” clássico dele.
Eu sentei.
Theo virou o corpo pra mim.
— Lia, você pensou na ideia que falei ontem?
A gente pode começar o trabalho juntos hoje depois da aula, se quiser.
Antes que eu pudesse responder…
— Ela não pode.
—Noah.
Atrás de mim.
Do nada.
Aparecida versão masculina.
— Como assim ela não pode? — Theo perguntou, confuso.
— Ela vai comigo — Noah falou, seco.
— Vou? — perguntei, arqueando a sobrancelha.
— Vai — ele respondeu, olhando fixo nos meus olhos.
Eu senti meu rosto esquentar.
A sala inteira estava observando a cena como se fosse episódio novo da série teen.
— Noah, eu posso decidir sozinha, sabia?
— Eu sei — ele disse, sem piscar. — Mas você precisa terminar o trabalho de biologia comigo. Hoje.
O detalhe?
Nós já tínhamos terminado metade ontem.
Theo percebeu o clima estranho.
— Tudo bem — disse ele, gentil. — Outro dia, então.
E ele me deu um sorriso.
Esse sorriso foi o suficiente pra Noah desviar o olhar e apertar o maxilar de um jeito que eu nunca tinha visto.
É oficial:
Tem alguma coisa errada com ele.
DE TARDE: e a situação só piora
Depois da aula, eu tentei conversar com Noah.
— Você tá bravo comigo?
— Não.
— Então por que tá com essa cara?
— É a minha cara, Lia.
— Não, não é. Essa é sua cara de “vou quebrar alguma coisa em breve”.
Ele respirou fundo.
— Eu só acho que o Theo tá… forçando pra cima de você sabias.
— E isso te incomoda porque hem?
— Porque eu conheço ele.
— Você conheceu ele ONTEM.
— E foi suficiente.
Eu ri, já estava tão irritada.
— Sabe o que você tem?
— Problemas? — ele sugeriu.
— Também. Mas agora… você tem ciúme.
Ele piscou.
O corpo inteiro dele ficou rígido.
— Eu não tenho ciúme.
— Tem sim.
— Não tenho.
— Tem.
— Não.
— Tem.
— LIA, PELO AMOR DE DEUS.
— NOAH, PELO AMOR DE DEUS, ASSUME.
— EU NÃO TENHO CIÚME! — ele soltou mais alto do que pretendia.
Silêncio.
Eu o encarei.
Ele me encarou.
E nós dois sabíamos:
Ele estava mentindo tão m*l que dava até dó.
DE NOITE: a conversa que eu não queria ter
Quando cheguei em casa, recebi uma mensagem dele:
NOAH: “Chegou bem?”
EU: “Sim.”
NOAH: “Ok.”
Três letras.
Isso é quase um “concordo que o mundo vai explodir” vindo do Noah.
Eu fiquei encarando o celular.
Pensando.
Sentindo.
E percebi o que estava me incomodando:
O Noah ficou estranho…
mas não era de raiva.
Era de medo.
Medo de me perder.
Mas ele nunca diria isso pra mim.
Não…
Ele sempre guarda as coisas mais importantes.
O que eu não sabia é que ele também estava escrevendo naquele momento.
Algo que eu só veria muito tempo depois.
**********
Por NOAH
Eu odeio admitir, mas hoje…
Hoje foi difícil.
Eu sei que não tenho nenhum direito de sentir o que senti.
Nenhum.
Ela é a Lia.
Minha melhor amiga de sempre.
A pessoa que eu prometi nunca confundir, nunca pressionar, nunca machucar.
Mas quando o Theo sorriu pra ela…
Eu senti alguma coisa dentro de mim rasgar.
Eu não gosto disso.
Não gosto de como meu peito fica pesado, de como minha respiração falha, de como eu perco o controle das expressões quando ela fala com outro cara daquele jeito suave que ela nem percebe que usa.
Eu não gosto de perceber que outro garoto pode gostar dela.
E mais ainda…
Não gosto de perceber que ela também pode gostar dele também.
O pior?
Eu nem sei quando isso começou.
Eu não sei quando o riso dela começou a mexer comigo.
Quando o cheiro do shampoo dela virou minha parte preferida do dia.
Quando a forma que ela fala meu nome começou a soar diferente.
O que eu sei…
é que cada vez que ela diz o nome do Theo, alguma coisa dentro de mim se contrai.
Eu não queria brigar com ela.
Eu nunca quero.
Mas quando ela disse que eu estava com ciúme…
Eu entrei em pânico.
Porque era verdade.
E eu não podia admitir isso em voz alta.
Se eu admitisse…
Se eu dissesse a única frase que ficou presa na minha garganta o dia inteiro…
Eu tenho ciúme porque eu gosto de você, Lia.
Eu perderia tudo.
Perderia minha melhor amiga.
Meu porto seguro.
Minha casa.
Ela não faz ideia do poder que tem sobre mim.
E eu nunca vou deixar ela saber.
Pelo menos…
não ainda.
Mas Deus, como é difícil esconder isso.