Victor, ao perceber a postura desafiante da filha, sabia que ela não iria ceder facilmente. Mas ele também tinha seus próprios limites e regras. Olhou para ela com uma frieza calculada, e foi só então que seus olhos, pela primeira vez, refletiram uma leve preocupação.
— Claire, você me desobedecer só vai dificultar as coisas para você mesma. Agora, vá para casa. Não estou discutindo mais. — Sua voz foi mais grave, o que ainda deixava claro que sua palavra era a última.
Claire, então, fitou o pai por alguns segundos, o coração acelerado. Ela sabia que essa batalha não terminaria ali. Não daquela forma. Mas, naquele momento, ela não tinha mais forças para continuar a resistência. Um suspiro pesado escapou de seus lábios, e, com um último olhar de revolta, ela se virou e foi levada pelos seguranças.
Sendo acompanhada para fora da sala de Victor, Claire se via chateada, lágrimas ameaçando descer dos seus olhos. Olhou furiosa para Anelie, a secretária do seu pai, que escolheu olhar para o chão, sem ousar encara-la. Sabia que as decisões de seu chefe eram para o bem de Claire, mas quem teria coragem de se opor a Victor Belmonte? Quem?
Mas Claire se via irredutível, até o momento em que a porta do elevador se fechou. Ignorando a presença dos dois homens fortes responsáveis pela sua segurança, a garota deixou as lágrimas escorrerem, a angústia tomando conta de seu peito. O que estava acontecendo com seu pai? Ele não a amava o suficiente? Perguntou-se em silêncio enquanto descia para o saguão, sem querer ver ninguém.
Ela foi acompanhada até o veículo chamativo. Ao chegar à porta, o segurança estendeu a mão, mas Claire o olhou com desdém. Jamais permitiria que ele a tocasse.
— Senhorita Belmonte, por favor, facilite o nosso trabalho. — O segurança, que abria a porta do motorista, disse educadamente.
Claire soltou um bufo, claramente irritada. — Podem até me seguir, mas não cheguem perto do meu carro. — Protestou, entrando no veículo e jogando sua bolsa de lado. Os seguranças seguiram, mas como uma chuva de águas, as lágrimas desceram mais ainda pelo seu rosto. Seu pai nunca a tratou assim. O que ele fez? Estava com ciúmes do seu casamento? Pensou consigo mesma, enquanto o veículo começava a se afastar.
No andar presidencial, Victor estava indignado, falando ao telefone com seu advogado. Ele precisava de uma reunião urgente, mas até que ponto poderia falar sobre seus negócios? Que m*l aquele Salvatore poderia fazer a ele?
Enquanto Claire se afastava em seu carro, o silêncio era cortante. A cada quilômetro que o veículo percorria, mais o vazio de sua relação com o pai parecia se ampliar. O que antes parecia uma conexão indestrutível, agora parecia uma ponte prestes a desabar. Ela apertou os punhos sobre as pernas, tentando controlar a dor que parecia se espalhar dentro de si. As ruas passavam rapidamente pela janela, mas o pensamento que a atormentava era lento, pesado e implacável.
O que Victor queria dela? Que fosse submissa? Que aceitasse suas decisões sem questionar? Nunca foi assim. Ela sempre foi livre, sempre teve voz. Mas parecia que agora ela estava sendo empurrada para um papel que não escolheu. Não era só o noivado com Heitor, não era apenas a revista. Era a forma como seu pai estava agindo, como se ela fosse um simples peão em seu jogo. E isso a machucava profundamente.
Chegando em casa, Claire nem se deu ao trabalho de cumprimentar a governanta. Subiu direto para o seu quarto, onde se jogou na cama, os olhos ainda vermelhos. O som do telefone tocando foi o único sinal de que o mundo ainda girava lá fora, mas ela não tinha forças para atender. Se fosse de seu pai, sabia que seria mais um comando, mais uma ordem a ser cumprida sem espaço para dúvidas ou explicações.
Victor, no entanto, não sabia o que fazer consigo mesmo. No escritório, ele continuava a falar ao telefone, sua mente perdida em um turbilhão de pensamentos contraditórios. O que estava fazendo? Por que agir assim com Claire? O que realmente o estava motivando a se comportar daquela maneira?
A reunião com o advogado que tanto desejava parecia distante. O verdadeiro problema não era o trabalho, mas a tempestade que ele estava criando em sua própria casa. Ele sabia que estava perdendo o controle, mas não conseguia se livrar da sensação de que algo muito maior do que ele próprio estava à espreita, algo que ele não podia evitar.
Porém, quando a noite caiu e a casa se fez silenciosa, Victor se viu olhando para o retrato de Claire, uma foto dela quando criança, com um sorriso inocente e puro. Algo dentro de si se partiu ao ver aquela imagem. Ele fechou os olhos por um momento, sentindo o peso de suas decisões. O que estava fazendo com a sua filha? E por que ele não conseguia controlar seus próprios sentimentos?
Claire... sua única chance de redenção. Ela era a razão pela qual ele ainda tentava se salvar das sombras do passado. Mas será que a estava afastando? Será que a proteger a qualquer custo estava, na verdade, causando mais dano do que ele imaginava?
A dúvida o consumiu até que ele se levantou, decidido. Ele precisava de respostas, precisava entender o que estava acontecendo, antes que fosse tarde demais. Mas ele não sabia se Claire ainda o ouviria. E essa incerteza era a maior de todas as suas angústias, estava a caminho do quarto de Claire, quando o seu celular tocou, em seu bolso, quem seria a esta hora?
Questionou-se, notando o numero desconhecido na tela, atendeu receoso.
Após ler tudo sobre Claire, Salvatore sabia que tinha em mãos o calcanhar de Aquiles de Victor em suas mãos, imediatamente, ele ligou para Victor Belmont. O telefone tocou várias vezes antes que a voz de Victor, carregada de desconfiança, atendesse.
— Alô, quem é?
Lorenzo foi direto, sem hesitar.
— Quero me casar com sua filha, Claire.
Sua voz soou tranquila, mas as palavras caíram como um golpe do outro lado.
O silêncio foi pesado, quase palpável para agrado de Salvatore.
—O que? Como conseguiu meu numero pessoal? Como assim? — Victor perguntou, a desconfiança evidente. — Você sabe que Claire está noiva, não sabe?
Lorenzo sabia que havia acertado em cheio. Podia sentir o nervosismo de Victor através da linha.
— Eu sei. Mas a vida dela não é mais dela, é minha. Eu vou ficar com ela. — Ele fez uma pausa, deixando suas palavras fluir como veneno. — Eu a quero, e a questão é: o que você vai fazer a respeito?
Victor permaneceu em silêncio por um momento, respirando pesadamente.
— Você... você está brincando comigo? O que você pretende fazer com ela, Salvatore?
Lorenzo riu, um riso baixo e sombrio.
— O que você teme mais, Belmont? Eu posso fazer dela o que eu quiser. E também posso destruí-la. — Ele sabia que isso atingiria Victor profundamente. — Eu só quero que ela me ame. E você sabe, não sabe? Ela é a única coisa que pode te salvar, se você cooperar. — As palavras ditas com tom de riso, pareciam vir com zombaria.
Victor, finalmente percebendo a gravidade da situação, falou com um tom mais suave, mas ainda com uma ameaça implícita.
— O que você quer, Salvatore? O que você quer de mim?
Lorenzo sabia que estava no ponto de inflexão. A vingança não seria apenas sobre dinheiro ou poder, mas sobre destruir o que Victor mais amava. E isso o atiçava, dava-lhe prazer sombrio.
— Quero que você faça o que for necessário para me entregar Claire. Isso é tudo.
Lorenzo desligou a ligação abruptamente. O jogo estava em andamento, e agora ele sabia que ninguém mais poderia impedir sua vingança.